capítulo 22

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Cecília

***

Quando minha mãe e eu viemos para seu consultório, pensei que fosse morrer de nervosismo. Não é fácil saber que aos poucos vou ter que dizer o que me aflige e me faz sentir mal.

Saímos de casa às 12:00 em ponto, viemos caminhando, a pedido meu, para que me preparasse. Pelo caminho, fui arrancando folhas dos arbustos, então quebrava as mesmas em milhões de pedacinhos, para ocupar a mente com essa ação e não com o iminente encontro.

O consultório de Cecília é relativamente perto, já que chegamos com 20 minutos de caminhada. O estranho é que, assim que vi a casa de dois andares de cor azul com porta branca e um lindo jardim com árvores, arbustos e flores eu me acalmei. Estranhamente, senti-me em paz.

— Será que ela tem mudas dessas suculentas? — a louca das plantas que é minha mãe, apareceu.

Subi cada degrau da pequena escada com receio, mesmo estando mais calma. Olhei para trás, encontrando minha mãe ainda lá embaixo.

— Mãe, eu tenho 17, mas ainda sou muito dependente de você — expandi meus olhos e braços para evidenciar o dilema que estava vivendo — Principalmente, em questões médicas! — levantei o indicador.

— Estou indo — começou a subir os degraus, me deu sua mão e, juntas, entramos.

— E lá vamos nós...

— A Vassoura da Bruxa... — ela murmura, olhando-me.

— Sim, é do Pica-Pau mesmo

Sorrimos e, por fim, abrimos a porta. As janelas laterais, mesmo fechadas, por serem de vidro e não ter cortinas, deixava a sala de espera iluminada, com uma claridade confortável.

Esperamos por 5 minutos na recepção, então Cecília surgiu em toda sua altura, cabelo escuro, pele negra e um sorriso caloroso e amigo. Ela estava com uma calça jeans branca e uma blusa de cor azul celeste com bolinhas brancas e uma sapatilha preta como as da Audrey Hepburn.

— Seu cabelo é tão lindo! — foi a primeira coisa que falei quando a vi.

— Obrigada, Júpiter! — sorriu feliz — O seu também é lindo

— Então, aqui é a sala de espera — mostrou com a mão. Mamãe e eu olhamos mais uma vez os detalhes — A Vera, a recepcionista e também minha amiga, não pôde vir hoje. Bom, geralmente, os pais ficam aqui a não ser que o paciente queira que eles entrem — apontou para o sofá laranja, super chamativo — Mas... eu a aconselho a entrar sozinha, porque muitas vezes nós ficamos mais tímidos e menos abertos a dizer o que verdadeiramente sentimos na frente de nossos pais — explicou olhando para nós duas — Então, lá no final desse corredor é a minha sala, e lá, você e eu vamos nos conhecer melhor — apontou para uma porta no final do corredor azul, na parede esquerda onde havia cartazes com frases em inglês e português sobre amar a si mesmo e esse tipo de coisa.

Gostei de duas frases em especial "A realidade às vezes é apenas um sonho esperando ser vivido" e, abaixo da frase, um imenso sol de cor amarelo, contornado de laranja. A segunda é "A vida não é triste. Tem horas tristes"

— Ok!

Fiquei meio tensa já nessa hora, mas só não fiquei mais, por conta do jeito dela e do local.

— Vamos entrar?

— Vamos! — Falei e depois olhei para minha mãe.

— Vai lá filha, vai dar tudo certo! Eu vou estar te esperando aqui

2002Onde histórias criam vida. Descubra agora