Meus pais
***
— Então, crianças! — meu pai começou e senti meu íntimo se agitar.
Por favor, que isso não seja um desastre.
— Sim, papai!
— Nós não vamos fazer disso um pesadelo para você, Júpiter — minha mãe explicou, procurando meu olhar. Ela ajeitou seu cardigan fino de cor amarelo claro que fazia um belo contraste com sua camisa listrada em preto e branco em seu colo.
— Graças a Deus — respondi, pensando que só acreditaria vendo eles não fazerem daquilo um pesadelo para mim.
Meu pai virou sua cabeça para o lado e encontrou os olhos de dona Leona. Tudo parecendo sincronizado ou ensaiado demais para mim.
Mamãe tossiu e disse:
— Nós sabemos que vocês são adolescentes e, acreditamos nós, responsáveis — seu olhar passou entre Augusto e eu — Espero que vocês não quebrem nossa confiança, porque quando ela fica fragilizada, nunca mais volta a ser a mesma, como uma folha de papel rasgada. Depois não quero ouvir, você, senhorita Júpiter... — apontou o indicado para mim e seus olhos se arregalaram rapidamente para dar ênfase ao que estava dizendo — Dizendo "Ah, nossa! Vocês não confiam em mim. Eu só fiz aquilo daquela vez e vocês ficam me lembrando todos os dias" como sempre faz, porque, sim, se vocês fizerem algo que quebre a confiança que estamos depositando em vocês, não vamos querer ouvir frases do tipo, pois teremos todos motivos do mundo para não confiar e vai ser um direito nosso. Tudo certo? — olhou-nos novamente.
Augusto havia prestado atenção em cada palavra e também tinha balançado a cabeça demonstrando estar entendendo todas as coisas e anotando em uma caderneta mental.
— Entendido. Eu compreendo a posição de vocês e concordo com o que disseram — respondeu, afirmando com a cabeça e olhando nos olhos dos meus pais.
— E você, Júpiter, entendeu? — meu pai perguntou e eu sacudi a cabeça para cima e para baixo, parando de olhar o perfil do Augusto.
— Perfeitamente! Não vamos decepcionar vocês
— Augusto, eu como pai da garotinha ao seu lado — meu pai indicou com o queixo, apontando para mim. Revirei os olhos e escondi minha cabeça no ombro dele — Quero saber quais são suas intenções com minha filhinha
Senti seu corpo ficar tenso por um milissegundo, antes de voltar a calmaria de sempre. Acho que de infarto ele não morre.
— Minhas intentenções... Amm
Antes de ele começar a falar, tive que dizer a meu interior "Calma, coração! Não morra agora!". Com o rosto ainda escondido em seu ombro, a respiração abafada e ofegante, concentrei-me em ouvir suas palavras e sentir o que seu corpo emanava.
— Eu quero fazê-la feliz. Não sei se isso é meio piegas ou se parece que não sei muito bem o que falar, eu sei que quero prometer não magoá-la nunca e sempre estar ao seu lado — respirou fundo — Eu não deveria estar dizendo uma coisa assim, porque o futuro é incerto e eu não sou nenhuma figura transcendente para prever algo, ou saber onde estaremos daqui há alguns anos. Mas mesmo não sendo um profeta, de uma coisa eu sei... — senti que ele me olhava, então levantei meu rosto vermelho e quente de onde estava e olhei aquela imensidão verde.
Eu queria ficar ali para sempre.
— Sei que vou amá-la para sempre. Eu gosto dela desde que eu era criança e sei que esse sentimento não vai passar
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2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...