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Estava pegando alguns pães de queijo quando senti a presença de alguém ao meu lado. Benício eu sabia que não era, porque ele estava em uma mesa à minha frente, pegando frutas.
Olhei para o lado e vi Raquel, sorrindo para mim. Lá vem...
— Bom dia, Augusto! — cumprimentou com um grande sorriso.
— Bom dia, Raquel! — falei sem ânimo, mais por educação.
— Tudo bem?
— Sim — não indaguei por resposta, porque a verdade era esta: eu não queria conversar com ela. Mas acho que ela não entendeu, porque mesmo assim continuou a conversa quase unilateral.
— Estou bem também
Acenei com a cabeça, demonstrando ter entendido.
— Vai na festa de hoje a noite? — ela estava enrolando o cabelo com os dedos enquanto mantinha seus olhos fixos em mim, analisando minhas reações.
— Não sei, vai depender da minha animação
— Mas se fosse agora? Sua animação estaria em quantos por cento?
Olhei para cima e fingi pensar, depois desci os olhos até os dela.
— Zero por cento de animação
— Nossa... Está tão desanimado assim?
— A vida né, Raquel — respondi, desejando que ela se calasse, mas....
— É por causa da Júpiter? — franziu o rosto com desprezo, fazendo-me exalar o ar dos pulmões em sinal de irritação.
Não respondi e ela, novamente, não se tocou.
— Vocês estão juntos ainda? Não vi mais vocês juntos — continuou me olhando e me vi a ponta de estourar, mas respirei fundo e sorri forçadamente para ela. Permaneci em silêncio por alguns segundos para que ela percebesse que estava achando sua companhia uma droga.
— Não, não estamos e nem nunca estivemos juntos. Agora eu tenho que ir — não dei chance para que ela respondesse, saindo dali com pressa e procurando uma mesa com apenas um lugar vago e com pessoas que não gostavam dela, porque assim ninguém cederia o lugar.
As garotas da escola parecem achar que estão em um filme americano, onde a popularidade é a única coisa que importa no mundo fútil e superficial delas. Estou de saco cheio disso.
Estou estressado e fico estressado com isso, porque, geralmente, sou uma pessoa paciente e que não se estressa fácil. Tá, não é bem assim sempre, mas na maior parte do tempo sim.
É ruim respirar sentindo que o peito ainda está pesado com uma fúria não extravasada, por isso tenho que tomar cuidado para não magoar as pessoas ao meu redor.
Enquanto Lucas conversa com as Juliana e o Patrick da nossa sala, mordo o pão com presunto e mussarela com raiva. Nem mastigo direito, porque minha mente voava longe, dando voltas e voltas na situação em que me encontro.
Assim que acabei o café da manhã, dei um pulo no quarto e depois desci até a orla da praia. Caminhei sozinho e me distanciei de onde as pessoas da turma estavam. Sentei na areia da praia e olhei o horizonte infinito e azul à minha frente. O céu e o mar se "encontravam" e se confundiam.

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2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...