capítulo 26

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...

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Estava pegando alguns pães de queijo quando senti a presença de alguém ao meu lado. Benício eu sabia que não era, porque ele estava em uma mesa à minha frente, pegando frutas.

Olhei para o lado e vi Raquel, sorrindo para mim. Lá vem...

— Bom dia, Augusto! — cumprimentou com um grande sorriso.

— Bom dia, Raquel! — falei sem ânimo, mais por educação.

— Tudo bem?

— Sim — não indaguei por resposta, porque a verdade era esta: eu não queria conversar com ela. Mas acho que ela não entendeu, porque mesmo assim continuou a conversa quase unilateral.

— Estou bem também

Acenei com a cabeça, demonstrando ter entendido.

— Vai na festa de hoje a noite? — ela estava enrolando o cabelo com os dedos enquanto mantinha seus olhos fixos em mim, analisando minhas reações.

— Não sei, vai depender da minha animação

— Mas se fosse agora? Sua animação estaria em quantos por cento?

Olhei para cima e fingi pensar, depois desci os olhos até os dela.

— Zero por cento de animação

— Nossa... Está tão desanimado assim?

— A vida né, Raquel — respondi, desejando que ela se calasse, mas....

— É por causa da Júpiter? — franziu o rosto com desprezo, fazendo-me exalar o ar dos pulmões em sinal de irritação.

Não respondi e ela, novamente, não se tocou.

— Vocês estão juntos ainda? Não vi mais vocês juntos — continuou me olhando e me vi a ponta de estourar, mas respirei fundo e sorri forçadamente para ela. Permaneci em silêncio por alguns segundos para que ela percebesse que estava achando sua companhia uma droga.

— Não, não estamos e nem nunca estivemos juntos. Agora eu tenho que ir — não dei chance para que ela respondesse, saindo dali com pressa e procurando uma mesa com apenas um lugar vago e com pessoas que não gostavam dela, porque assim ninguém cederia o lugar.

As garotas da escola parecem achar que estão em um filme americano, onde a popularidade é a única coisa que importa no mundo fútil e superficial delas. Estou de saco cheio disso.

Estou estressado e fico estressado com isso, porque, geralmente, sou uma pessoa paciente e que não se estressa fácil. Tá, não é bem assim sempre, mas na maior parte do tempo sim.

É ruim respirar sentindo que o peito ainda está pesado com uma fúria não extravasada, por isso tenho que tomar cuidado para não magoar as pessoas ao meu redor.

Enquanto Lucas conversa com as Juliana e o Patrick da nossa sala, mordo o pão com presunto e mussarela com raiva. Nem mastigo direito, porque minha mente voava longe, dando voltas e voltas na situação em que me encontro.

Assim que acabei o café da manhã, dei um pulo no quarto e depois desci até a orla da praia. Caminhei sozinho e me distanciei de onde as pessoas da turma estavam. Sentei na areia da praia e olhei o horizonte infinito e azul à minha frente. O céu e o mar se "encontravam" e se confundiam.

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