capítulo 52

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A verdade

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Eu acho que hoje era o dia em que quase todos os jovens da cidade que haviam prestado vestibular estavam ansiosos. O resultado sairia a qualquer momento e eu estava nervosa da ponta dos pés ao topo da cabeça. O curso que escolhi não é tão concorrido assim, mas isso não me deixa de fora da sensação horrível de não saber se entrei para a faculdade ou não. Depois da recuperação, não me surpreendo com mais nada até porque nem pensei que um dia pegaria, mas enfim, peguei.

O Augusto nunca disse que faria aqui, no dia da prova nem vi ele, mas se ele for para outro estado, podemos visitar um ao outro nos fins de semana e feriados. A família dele mora aqui, então ele vai vir de uma forma ou de outra.

A gente falava muito sobre a USP, então essa deve ser a escolha dele. Eu sei que se ele tentou, passou.

Me sinto super madura lidando com essa possível distância, mas a verdade é que falta muito pouco para que eu não jogue esse equilíbrio pro alto e implore para que ele fique aqui, ao meu lado para todo o sempre. Por sorte, eu tenho dentro de mim que as pessoas precisam voar e fazer o que querem para depois não passarem a vida toda arrependidas e amarguradas. Em muitas coisas da vida, precisamos tentar, mesmo que vá dar errado.

Estou contando os segundos, olhando o relógio para saber quantos minutos se passaram desde a última vez que olhei as horas. Já fechei os olhos, orei baixinho, senti meu coração acelerar e minha barriga doer.

Um amigo da minha mãe que está na universidade hoje vai ligar dizendo quando o resultado sair. Podemos ir até lá olhar o resultado ou entrar com um login e senha que deram no dia da inscrição. Meu computador já está ligado, então estou preparada para saber a verdade e comemorar ou enfiar-me debaixo das cobertas para chorar até o amanhecer.

Nunca fui de roer unha, mas em dois dias adquiri esse hábito. Eu não consegui dormir de tanto que pensava nisso, ontem mesmo me deitei de olhos abertos no chão da sala e fiquei me perguntando do porquê não conseguir dormir e estar daquela forma. Minha mãe me forçou a tomar um chá de camomila que me fez relaxar um pouco, mas quase nada.

Só vou ficar em paz depois de hoje, mesmo que eu não seja aprovada. Odeio não ter o controle sobre minha vida.

Olho para a janela aberta, o sol está forte e ilumina boa parte do chão do meu quarto. Se continuar assim, vou ao clube com Augusto mais tarde, pois grande parte de nossos colegas do terceiro ano estarão lá, ele disse que o Leandro chamou o pessoal, dizendo que não podíamos perder o contato só porque o Ensino Médio tinha acabado. Concordei, porque queria ver o pessoal e ver como as coisas estão, mesmo que acabe não falando uma palavra.

Estou enjoada de ver o teto e as paredes do quarto.

Ouço o som abafado de uma melodia tocando, observo meu entorno e desperto em um pulo ao perceber que é meu celular que está no meio das cobertas emboladas. Fiquei boa parte da noite passada jogando o jogo da cobrinha.

Depois de uma luta, consigo alcançar o celular e lá está o nome do meu namorado. Dou um suspiro trêmulo enquanto sorrio e atendo.

— Oláaaa! — encaro o teto — Você não morre tão cedo. Estava pensando em você agora

— Hmm... Que bom que está animada! Olá, aliás!

Escuto sua risada e respiração, dois calmantes mais eficazes do que o chá de camomila que minha mãe me deu.

Pensando em mim?

Estava pensando no clube que você me chamou pra ir. Segundos antes disso estava pensando no resultado do curso. Estou nervosíssima! — desabafei sentindo um vendaval no estômago.

2002Onde histórias criam vida. Descubra agora