capítulo 23

82 16 5
                                    

meu problema com desculpas

***

Deitei minha cabeça no travesseiro e olhei o teto. Respirei fundo pensando na minha vida. Eu penso demais, isso é fato, mas bem que, por alguns minutos, talvez horas, minha consciência poderia dar uma pausa.

Sempre penso depois de fazer alguma coisa, o que é ruim, porque deixo os sentimentos controlar minhas ações, para depois me arrepender do que faço. A questão é que sou péssima com desculpas. Dizer um "Me desculpa" quase me mata, porque tenho que admitir que não sou a senhora da razão, mas apenas uma reles mortal que erra muito.

Com meus pais já é difícil, mas eu me sinto tão culpada que acabo sempre atrás dos dois como um cão com o rabo entre as pernas. Mas... com pessoas de fora, a situação não é a mesma, é complicado, mil vezes mais.

Quando peço desculpas, a sensação é de que estão rindo de mim, enquanto pensam "A idiota que se acha a certa", o ruim é que é isso mesmo. A chavinha dentro da minha mente tem que virar para que isso mude, mas virar a chavinha não é fácil, porque são anos com esse tipo de pensamento.

— Tenho seis dias para planejar como pedir desculpas pra ele — sussurrei para o vazio.

Meu quarto está na penumbra, a pouca luz que vem é da rua. Esse é o ambiente perfeito para minhas reflexões. Agora tenho o resto da noite para pensar sobre isso, mas a verdade é que devo pensar nisso a semana inteira, sem um segundo de descanso.

Talvez eu possa pedir perdão por minhas explosões na sala de aula, mas se ele surtar ou me xingar vai ser humilhantes demais, então não. Também posso pedir quando ele estiver voltando depois da aula quando voltarem da viagem.

Essa última opção parece menos pior, mas eu sei que minha mente paranoica vai criar situações inimagináveis para me fazer declinar.

Respiro fundo, tentando pensar com clareza, mas o pânico sempre cobre os pensamentos racionais com uma fumaça branca como Vila Velha em um dia nublado, quando não é possível enxergar-se metros à frente.

Fui muito dura com ele, porque, querendo ou não, ele estava certo.

Mas eu não falei com ninguém, não por vergonha dele ou algo assim, mas é que todos da minha família sempre me dizem para não namorar e, sim, focar nos estudos. Ou então, quando se fala de namoro ou sobre ter ficado com alguém, eles logo avançam a conversa para gravidez e coisas assim e eu não gosto nadinha, por isso não falo.

A primeira vez que beijei um garoto e contei para minha mãe, ela teve uma conversa comigo que me fez ficar tão vermelha que achei que fosse passar mal.

Sei que o papel dos meus pais, como pais, é ter essas conversas com os filhos, mas tem que ser sempre? A sensação que tenho é que por mais que tenham me aconselhado, eles não confiam em mim, por isso dizem sempre.

Mas agora, será que ele vai entender o meu lado se eu só pedir desculpas ou será que terei de relatar com todas as letras esse histórico de conversas constrangedoras?

Meus olhos se apertam ao imaginar isso, por favor, que não seja necessário.

Eu quero mesmo pedir desculpas só por pedir, ou quero que nós continuemos a ficar?!, pergunto a mim mesma e respondo em voz alta:

— Claramente, eu só quero pedir desculpas!

No entanto, assim que pronunciei essas palavras, tampei meu rosto com as mãos e gemi.

— A quem quero enganar?

Você mesma!

— Ele tem que fazer parte da sua vida e não ser a sua vida! — murmuro para que eu mesma ouça — Lembre-se disso, Júpiter Leopoldina Schulz!

2002Onde histórias criam vida. Descubra agora