Primeira vez
***
Nós fizemos o vestibular da USP, passamos pela primeira fase, fizemos a segunda etapa e agora era aguardar o resultado final. A sensação é de que o tempo escorria por entre os dedos e ia embora rapidamente como o vento que passava por mim e nunca mais voltava.
A angústia me assolava enquanto tudo que me restava era esperar. Eu me sentia triste, não sabia mais nada sobre mim, mas tempos depois minha mente se iluminava como se eu tivesse descoberto todas as respostas para as questões que me afligiam a alma. Isso acontecia com uma constância assustadora.
Minha mãe brigou comigo, depois de ter descoberto que eu não estava indo a psicóloga. Ela encontrou a Cecília no supermercado e descobriu tudo, mas ainda teve a postura de chegar em casa em uma calmaria e me indagar sobre isso enquanto eu tremia por dentro. Esse tremor me fez enxergar que eu estava errada e, diferentemente, das outras vezes, não tentei negar ou criar desculpas, falei que achei que conseguiria lidar com tudo sozinha, então comecei a chorar e minha mãe ficou chocada, porque geralmente eu não me mostro tão vulnerável. Acabei confessando aos soluços que minha amizade com as meninas estava acabada, ela me consolou dizendo que tudo era passageiro, que ficaríamos amigas novamente, me perguntou o motivo e preferi não dizer, seria muito vergonhoso. Por sorte, ela não insistiu.
Voltei a ir às minhas consultas e isso me ajudou, era bom somente falar e lidar com a dor de uma forma saudável. Para Cecília eu contei e mesmo me sentindo mais leve, não conseguia deixar que uma ponta de ciúme ainda me atingisse. Eu também queria voltar a conversar com as meninas, mas não tinha coragem de ir até elas e dizer isso. No fundo, sentia que seria perdoada, mas minha mente paranoica dava um jeito de dizer o contrário sempre que estava prestes a fazer algo.
O fim do Ensino Médio que deveria ser incrível se mostrava um desastre, mas talvez não fosse ele que estivesse sendo um desastre, mas sim minhas atitudes que faziam.
No entanto, eu não conseguia parar de fazer coisas ruins para mim mesma.
Era aniversário de Vila Velha, fui com meus pais ao centro da cidade e ao chegar lá, falei que iria me encontrar com as meninas. Inocentemente, eles acreditaram.
Fiquei vagando em meio às pessoas enquanto meus pais estavam no cinema, assistindo a uma mostra com milhões de curtas-metragens de moradores da cidade e região.
Eu não tinha tido nenhuma ideia brilhante segundo minha mente, não até ver que os pais do Augusto - que não me viram - estavam indo na direção do cinema da cidade, foi neste momento que minha mente deu um estalo.
Me lembrei que meu namorado não queria vir hoje, porque disse que estava cansado do vestibular ainda e preferia descansar. Então, ele estava sozinho, em casa. Era a oportunidade perfeita para que eu perdesse minha virgindade.
Por um momento eu até cheguei a pensar "sério mesmo que vou fazer isso?" e, após me lembrar que eu era a única que ainda não tinha feito sexo do ex-trio de amigas, fiz uma decisão. Fui até o ponto de táxi perto da feira de artesanato que a essa hora estava fechada e com seguranças, e peguei um táxi, passando o endereço da casa dele. Eu estava super decidida e apavorada ao mesmo tempo.
Fui com a janela aberta, sentindo o vento contra mim, soprando e fazendo barulho ao entrar pela janela do carro, enquanto observava as pessoas agasalhadas caminhando, tomando a direção contrária a minha. Escutei os sons das vozes misturadas e dos carros passando pela rua de pedra. Pegamos o asfalto e à medida que avançávamos, meu coração alternava entre a calmaria e a aceleração dos batimentos cardíacos.
— Chegamos — despertei com a voz do taxista e balancei a cabeça.
— Obrigada! — abri a bolsa, pegando o dinheiro e passando para ele.
![](https://img.wattpad.com/cover/265838869-288-k90993.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...