Diário antigo
***
— Júpiter!
Então ela me abraça. Eu não gosto muito de abraços, mas o dela até que vai.
— Oi, Greta! — sorri amplamente, mas forçada.
Ouço uma risadinha. Ele está rindo de mim, eu sei. Ele sempre fazia isso quando sabia que por dentro estava implorando para a interação acabar.
— O Augusto me disse que você vai lá em casa essa semana — Avisa, ainda me segurando com as mãos e me olhando.
— É?! — virei-me para ele e sussurrei — Não estava sabendo — me diverto com seus olhos amedrontados.
— Estou cheia de estudos por agora, mas assim que estiver mais folgada eu vou — expliquei a ela, antes que insistisse.
Vou ir no dia de São Nunca, isso sim.
— Ok! — sorri, feliz — Vou te lembrar! — aponta o dedo para mim.
— Pode me lembrar — confirmei.
O Augusto me olhou, olhei séria pra ele em resposta, sem que a mãe percebesse. Segundos depois, ele solta uma de suas risadas breves seguidas por uma falsa tosse.
— Nossa, tem gente que não se toca — murmurei, apertando meus olhos — E não tem noção de perigo
— Oi, querida? Não consegui ouvir — pergunta ao me olhar depois de desviar sua atenção dos pacotes de ração.
Olho para seu rosto.
— Nada não! — dispenso com as mãos no ar — Vou ir ali, tenho que pegar a ração do meu gato
— O Millorens?
Agora posso dizer que estou feliz.
— Você se lembra dele?
— Claro que sim! — sorri.
— Fico feliz por isso
— E você se lembra do Bob?
— Sim, lembro-me
Claro que me lembro, é rotina minha reparar em todas as fotos do Augusto no Fotolog, inclusive a que é do Bob.
Essa deveria ser minha resposta, mas seria bem estranho.
Dou um jeito de pegar logo a ração e me despedir. Por sorte, quando encontrei minha mãe, ela estava me esperando para ir até o caixa para passarmos as compras.
— Está tudo bem, filha? — olhou de lado para mim enquanto saia do estacionamento com carro.
— Tudo sim, mãe — suspirei me lembrando da tensão de momentos atrás.
Vou o caminho todo até em casa, mesmo quando chegamos e ajudo minha mãe a guardar os produtos refletindo sobre passado, presente e futuro. Será que mais uma vez estou o perdendo por conta de meu jeito meio problemático?
É ilusão achar que as coisas estão como antes, que somos os mesmos, são versões diferentes. Um bom exemplo é a irmã dele, até ontem ela era uma adolescente de 18 anos quase se formando que enchia meu saco e agora já é mãe e mora na Escócia.
Dois fatos sobre isso tudo: perdemos um do outro e eu estou doente por ter ciúmes das partes da vida dele em que não estive presente. Mas bem que a gente podia se encontrar...
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2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...