primeiro beijo
***
Lá estava eu novamente esperando o portão do colégio abrir para ver minhas notas. Dessa vez não haveria a humilhação de todas as notas estarem no paredão, mas sim na secretária.
Era sexta-feira e meu pai estava ao meu lado. Minha mãe estava na universidade dando aula de uma disciplina do curso de história, e não pôde vir.
Começamos a subir a escada. Meu coração estava aos pulos freneticamente.
Senti a mão do meu pai esfregando meu ombro.
— Fica calma, filha!
— Estou super calma, pai! — ironizei.
Ele negou com a cabeça antes de voltar para frente. Continuamos a subir com sua mão apoiada em meu ombro.
A verdade é que eu estava mentalizando, na verdade, rezando para que eu tivesse passado, porque depois dos primeiros dias de enrolação, peguei firme nos estudos e me dediquei. Mais uma decepção como aquela, não sei se aguentaria.
Estava tão distante em pensamento que nem percebi que estávamos em frente a porta da secretária. Uma das secretárias ali, a que era alta e tinha o cabelo crespo em estilo black power, a pele negra e um imenso sorriso nos atendeu.
— Boa tarde! — cumprimentou-nos enquanto levava o indicador ao aro do seu óculos transparente e o firmava no rosto — Vieram buscar as notas da recuperação?
— Boa tarde! — dissemos juntos.
Enquanto meu pai dizia que 'sim', eu balancei a cabeça para cima e para baixo freneticamente.
Lúcia nos chamou para o balcão e começou a procurar o novo boletim bimestral com as notas. Haviam tantos!
— Qual o nome da aluna?
— Júpiter Leopoldina Schulz — respondi ao mesmo tempo em que mordia o lábio inferior com força e olhava atentamente para os papéis.
Levantou seu olhar e indagou ao meu pai:
— O senhor é o pai dela?
— Isso — respondeu orgulhoso como sempre fazia, não aguentando, passou o braço por sobre meu ombro e juntou-nos.
Minutos depois, a secretária parou momentaneamente e enfiou uma das mãos por entre as folhas e puxou uma delas.
Meu coração começou a retumbar dentro do peito.
Merda!
Era agora.
— Ah, aqui!
Mas ela parecia querer piorar meu tormento, pois não entregou-nos naquele instante.
— Preciso que o senhor assine aqui! — indicou a linha em branco em frente ao meu nome em uma lista com tantos outros.
Pegando a caneta que a moça estendeu, meu pai assinou no local e eu peguei a folha das mãos da mulher com um pouco de força.
Abri um sorriso, soltando também uma risadinha para disfarçar a pressa.
— Obrigada! — virei o corpo e sai dali, descendo as escadas e com medo de ver a realidade presente em minhas mãos.
Ouvi meu pai agradecer, mas já estava do lado de fora com os pés nas enormes pedras em formato de retângulos de pontas arredondadas no pátio exterior.
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2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...