capítulo 40

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Amor Fati

***

Estou aproveitando minha adolescência ou ela apenas está passando, correndo por entre meus dedos, sem que eu perceba?

Talvez de fato eu perceba, já que me faço essa pergunta muitas vezes em um curto período de tempo.

Agora eu estava ali, às 17:49 da tarde, na mesma loja de dias atrás, esperando minha mãe pagar o vestido escolhido por mim. Ao que parece eu era a única a achar aquele vestido lindo, já que ninguém o comprou.

Esse era outro problema meu, ao invés de estar feliz por ele estar ali, não, eu estava indagando a mim mesma se o vestido era feio ao ponto de ninguém quere-lo.

Eu tinha sérios problemas mesmo.

Minha mãe conversava com a vendedora que estava ali, não a do outro dia. Ela nunca tinha visto a moça, mas estava falando como se fossem amigas. Minha mãe era assim, fazia amizades rápido.

Ouvia risadas e frases. Elas entraram por um ouvido e saiam pelo outro.

Escorei a cabeça em minha mão, o cotovelo no balcão de madeira antiga, pesada e envernizada, em um tom castanho brilhante. Olhava pela vidraça os pontos de luz dos postes coloniais iluminando as ruas de pedra.

Suspirei fundo, mexendo minimamente meu corpo, um pouco desiludida e um tanto esperançosa, se é que era possível sentir essas duas coisas ao mesmo tempo.

Algumas pessoas passavam, imersas em suas próprias rotinas e destinos.

Qual seria o meu?

Minha mãe diz que não é legal ficar pensando sobre o que vai acontecer e eu também acho isso, porém em certos momentos é inevitável não sentir o peito se encher de angústia pelas incertezas.

Eu sentia isso também ao perceber que o tempo passava e eu não estava fazendo nada para mudar possíveis consequências, como uma reprovação escolar. A resposta era que eu não tinha cabeça para me concentrar no que lia nos livros ou os milhares de números. Não havia uma mísera motivação dentro de mim agora. Não conseguia aprender nada.

Como eu poderia me afetar tanto com os acontecimentos da minha vida?

Quem sabe viver em uma redoma de vidro não seja a resposta?

Não havia uma redoma de vidro disponível para meu tamanho na pacata Vila Velha.

Olhei para o teto da loja, também de madeira com um grande lustre no centro, deixando a loja com uma luminosidade esbranquiçada. Desci o olhar pelas paredes, olhando o papel que decorava cada canto, depois olhei a minha frente e, por fim, baixei o olhar para meus dedos, minhas unhas pintadas de preto.

— Mãe, vamos logo! — perguntei, querendo ir embora logo.

— Já estamos indo, Júpiter! — respondeu antes de voltar-se para Sara, a vendedora e dizer — Ela é tão apressada — revirou os olhos.

Sara soltou uma risadinha, negando com a cabeça.

— Adolescentes são assim mesmo

Foi minha vez de revirar os olhos.

Adolescente isso... adolescentes aquilo. Patético.

Aguentei esperar por mais 5 minutos, mas olhar para as pessoas na rua já estava chato.

Decididamente, marchei em direção a minha mãe, enlacei nossos braços e puxei-a comigo até o lado de fora enquanto gritava.

— TCHAU, SARA!

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