capítulo 25

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Augusto

***

Não pensei que a viagem de formatura seria cheia de tensão. Na verdade, eu não pensava que seria um desses caras que ficam assim, pensando todos horas do dia em alguém.

Eu pensava muito nela, anos atrás, mas eu coloquei os sentimentos que sentia na época embaixo do travesseiro da minha casa e fui para outro país.

Muitos dizem que a distância não afeta em nada o que você sente por alguém, se o sentimento for verdadeiro. E eu concordo, em partes.

Deixar o amor guardado faz você achar que o esqueceu, mas como o que restou da Caixa de Pandora foi a esperança - mesmo que seja a mais ínfima de todas - faz o amor dar as caras novamente.

Eu estou tomado pela paixão. Não preciso de uma análise completa para ter esse autoconhecimento.

Gosto daquela garota há não sei quanto tempo, mas ela não deve gostar de mim, porque ela parece ter vergonha e isso me deixa mal. Me lembro que anos atrás, falei com minha mãe sobre estar gostando da Júpiter. Do seu jeito, me incentivou a falar com ela sobre meus sentimentos, pois, segundo ela, era melhor se arriscar e saber a verdade logo de uma vez do que permanecer em angústia eterna.

Segui os conselhos dela, mas parece que não deu muito certo.

Eu não gosto de indecisões, mas minha relação com aquela garota parece ser pautada nisso. Minha vontade é de gritar e perguntar a ela se não percebe que toda vez que ela não admite o que sente ou não por covardia, o tempo passa e nós perdemos meses e anos.

Júpiter me disse que gosta de mim no dia do jantar, mas depois brigamos e eu cansei de brigar. Estou exausto. Eu queria esquecer tudo, sua boca, seu corpo, seu rosto, o tom da sua pele e o sabor do seu beijo, mas toda vez que vou dormir, ela está lá.

Cheguei a namorar uma garota, a Helena. Na época, achei que gostava dela, talvez até tenha gostado, mas não a amei e é isso que deixa tudo terrível e aterrorizante. E se eu nunca conseguir esquecê-la?! Vou viver fadado a amar uma pessoa que não tem coragem de viver esse amor?!

Respiro fundo, deixando o ar sair com força pelas narinas, fecho meus olhos e inclino minha cabeça para trás. Estou sentado na poltrona azul acinzentada do meu quarto, até segundos atrás, olhando minhas malas e a mochila sobre as mesmas.

Daqui há uma hora, irei sair de casa para pegar o ônibus que irá nos levar até o Rio de Janeiro, mas agora a viagem não tem a mesma graça que tinha no início do ano. Queria desistir dela, mas seria errado, comigo mesmo.

É um dos últimos momentos que terei com a turma esse ano, toda junta, exceto pela Júpiter. Espero que ela esteja bem.

Não sei se sou idiota ou algo assim, porque ela me esculachou diversas vezes e eu ainda permaneço aqui como um cachorrinho.

Agora, eu quero que mude ou vou ficar preso a isso minha vida inteira.

Não estou indo focado em pegar muitas garotas como muitos estão, meu objetivo inicial era aproveitar esse último ano antes da loucura que é a faculdade, mas agora... se eu me interessar por alguém, vou me dar essa chance.

Simplesmente não dá para esperar uma pessoa por uma vida inteira.

No som do quarto, toca em um volume baixo "Proibida Pra Mim" do Charlie Brown JR, o que me distrai um pouco, "Eu me flagrei pensando em você. Em tudo que eu queria te dizer. Numa noite especialmente boa. Não há nada mais que a gente possa fazer. Eu vou fazer de tudo que eu puder. Eu vou roubar essa mulher pra mim. Eu posso te ligar a qualquer hora. Mas eu nem sei seu nome. Se não eu, quem vai fazer você feliz?". Minha mãe ama essa música desde que ouviu em um desses muitos carnavais que já foi e nos levava.

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