capítulo 34

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Descobertas

***

— Eu só estou com medo da intensidade do que sinto... — ela olha para a copa do imenso ipê.

Está na hora do intervalo, mas resolvemos ficar na sala, como mais ninguém gosta, estamos sós. Luana tem seu olhar distante, angustiado e ao mesmo tempo contemplativo. Pensei que nunca a veria assim, por ser alguém sempre tão decidida e corajosa.

— Nunca pensei em ver você assim — exponho meus pensamentos e ela me olha.

— Eu também fico com medo às vezes

Comprimi os lábios e balancei a cabeça, pensando em algo para dizer que a fizesse ficar bem. Não gosto de vê-la assim... tristonha.

— E você conversou com ele? — Maria perguntou, sentando-se na janela da sala em que é baixa e comprida, lembrando portas francesas.

Luana negou com a cabeça e deu suspiro trêmulo.

— Vocês sabem como a maioria dos garotos são! — abraçou a si mesma — Eu quero acreditar que ele gosta de mim, que me ama, mas... — seu olhar voltou a ficar perdido, as sobrancelhas franzidas — É tão mais fácil acreditar no que minha mente diz, que ele só diz essas coisas pra gente continuar ficando

— Entendo você — abracei de lado seu ombro — Ele deu sinais disso?

— Não, na verdade, ele mudou muito de antes, de quando começamos a ficar — ela sorriu — No início ele era meio desligado, frio... — olhou-nos, com os olhos sorrindo também — Mas com o tempo, fomos nos conhecendo e ele passou a sorrir do nada quando olhava pra mim, perguntava aquelas coisas bobas que na verdade não são bobas, se eu estava bem, se dormi bem, como foi meu fim de semana e isso tudo. Eu tinha jurado pra mim que sabia que ele era galinha e que não deveria internalizar essas atitudes, mas... — seus olhos brilharam pelas lágrimas — eu me apaixonei e agora amo ele que até dói, mas... — passou a manga da blusa na bochecha enxugando as lágrimas — Sei lá também — jogou as mãos para o alto.

— Eu acho que você precisa pensar — passei a mão em suas costas, subindo e descendo — Você tem que refletir e chegar a uma conclusão sozinha

Ela balançou a cabeça e agradeceu. Nesse momento, Leandro entrou na sala e olhou fixamente para ela que olhou para baixo, desviando o olhar. Vi ele suspirar fundo, com impaciência, antes de vir até nós.

— Vocês poderiam me deixar falar com ela a sós por alguns minutos? — perguntou olhando para ela. Luana levantou a cabeça para nós e negou com a cabeça — Por favor — pediu, passando a mão no cabelo liso e escuro, os olhos perdidos.

— Desculpa... — pedi, seguindo Maria para fora da sala. Antes de sairmos, olhamos para ela e fechamos a porta.

— Tenso... — comentei com Maria, e ela disse a mesma palavra enquanto seguíamos até o bebedouro de azulejo branco.

Após bebermos água e ela me acompanhar ao banheiro, sentamo-nos em um banco do pátio interno e ficamos observando os mais novos brincarem de pega-pega.

— Antes era a gente — eu comento com saudosismo, sentindo os fracos raios de sol iluminando meu corpo.

— Nem me lembra! — gargalhou e a acompanhei ao lembrar.

Vejo Augusto caminhando em minha direção e sinto meu peito se aquecer. Não pensava que amar e ser correspondida fosse tão bom assim. Meu peito pode bater desavergonhado sem culpa, por ser ignorado. Eu desejo que todos amem um dia e provem essa sensação gostosa, como aquela que sinto quando em um dia frio em que a ventania é forte e congelante e o Sol surge do nada e aquece a pele como um agasalho dos bons.

2002Onde histórias criam vida. Descubra agora