Descobertas
***
— Eu só estou com medo da intensidade do que sinto... — ela olha para a copa do imenso ipê.
Está na hora do intervalo, mas resolvemos ficar na sala, como mais ninguém gosta, estamos sós. Luana tem seu olhar distante, angustiado e ao mesmo tempo contemplativo. Pensei que nunca a veria assim, por ser alguém sempre tão decidida e corajosa.
— Nunca pensei em ver você assim — exponho meus pensamentos e ela me olha.
— Eu também fico com medo às vezes
Comprimi os lábios e balancei a cabeça, pensando em algo para dizer que a fizesse ficar bem. Não gosto de vê-la assim... tristonha.
— E você conversou com ele? — Maria perguntou, sentando-se na janela da sala em que é baixa e comprida, lembrando portas francesas.
Luana negou com a cabeça e deu suspiro trêmulo.
— Vocês sabem como a maioria dos garotos são! — abraçou a si mesma — Eu quero acreditar que ele gosta de mim, que me ama, mas... — seu olhar voltou a ficar perdido, as sobrancelhas franzidas — É tão mais fácil acreditar no que minha mente diz, que ele só diz essas coisas pra gente continuar ficando
— Entendo você — abracei de lado seu ombro — Ele deu sinais disso?
— Não, na verdade, ele mudou muito de antes, de quando começamos a ficar — ela sorriu — No início ele era meio desligado, frio... — olhou-nos, com os olhos sorrindo também — Mas com o tempo, fomos nos conhecendo e ele passou a sorrir do nada quando olhava pra mim, perguntava aquelas coisas bobas que na verdade não são bobas, se eu estava bem, se dormi bem, como foi meu fim de semana e isso tudo. Eu tinha jurado pra mim que sabia que ele era galinha e que não deveria internalizar essas atitudes, mas... — seus olhos brilharam pelas lágrimas — eu me apaixonei e agora amo ele que até dói, mas... — passou a manga da blusa na bochecha enxugando as lágrimas — Sei lá também — jogou as mãos para o alto.
— Eu acho que você precisa pensar — passei a mão em suas costas, subindo e descendo — Você tem que refletir e chegar a uma conclusão sozinha
Ela balançou a cabeça e agradeceu. Nesse momento, Leandro entrou na sala e olhou fixamente para ela que olhou para baixo, desviando o olhar. Vi ele suspirar fundo, com impaciência, antes de vir até nós.
— Vocês poderiam me deixar falar com ela a sós por alguns minutos? — perguntou olhando para ela. Luana levantou a cabeça para nós e negou com a cabeça — Por favor — pediu, passando a mão no cabelo liso e escuro, os olhos perdidos.
— Desculpa... — pedi, seguindo Maria para fora da sala. Antes de sairmos, olhamos para ela e fechamos a porta.
— Tenso... — comentei com Maria, e ela disse a mesma palavra enquanto seguíamos até o bebedouro de azulejo branco.
Após bebermos água e ela me acompanhar ao banheiro, sentamo-nos em um banco do pátio interno e ficamos observando os mais novos brincarem de pega-pega.
— Antes era a gente — eu comento com saudosismo, sentindo os fracos raios de sol iluminando meu corpo.
— Nem me lembra! — gargalhou e a acompanhei ao lembrar.
Vejo Augusto caminhando em minha direção e sinto meu peito se aquecer. Não pensava que amar e ser correspondida fosse tão bom assim. Meu peito pode bater desavergonhado sem culpa, por ser ignorado. Eu desejo que todos amem um dia e provem essa sensação gostosa, como aquela que sinto quando em um dia frio em que a ventania é forte e congelante e o Sol surge do nada e aquece a pele como um agasalho dos bons.
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2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...