capítulo 16

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Helena

***

— Mãe, posso dormir na casa da Luana hoje e, talvez, amanhã? — pergunto, assim que dona Leona abre a porta.

Me olhando com nariz e testas franzidas, responde:

— Um boa tarde seria bom, sabe...

— Boa tarde! — sorri, logo voltando a infernizar ela — Mas e aí, posso?

Ela me olha com sua costumeira expressão de tédio, a mesma que exibo na face neste exato momento.

— Você quer ir? — questiona após segundos de uma pausa silenciosa.

— Quero — sorri, animada.

Sempre quando as meninas e eu nos reunimos, a noite rende. É bom conversar sobre garotos e os dilemas que eles trazem consigo, além das fofocas que rolam enquanto comemos pizzas e doces, e bebemos refrigerante.

— Então vai — responde antes de tirar seu cardigã longo de lã verde escura, jogando-o no sofá e seguindo para a cozinha.

— Vou arrumar minha mochila — grito na entrada do corredor que dá para a cozinha — Pode me dar cinquenta reais? — tenho seu silêncio como resposta — MÃE? — insisto.

— Está bem! — murmura, mexendo nas panelas.

— Ótimo!

— Cadê o "obrigada, mamãe querida"?

Reviro meus olhos sem que veja, já que está inclinada procurando a panela que precisa no armário.

— OBRIGADA, MAMÃE QUERIDA! — grito, correndo pelo chão e escadas. Chegando ao topo, escuto sua recomendação sobre tomar cuidado para não cair.

Leona me xinga há não sei quantos anos, mas nunca recordo-me que não se deve subir as escadas de dois em dois degraus ou sobre a velocidade adequada.

Minha mochila está aberta à minha frente, com algumas roupas, porque sempre levo várias opções para caso suje ou algo assim. Deixo a mochila onde está, indo até o guarda-roupa, do qual tiro uma toalha limpa de cor verde. Ao voltar para a cama, tenho que esmagar as roupas para que tudo caiba, porque se necessitar de uma sacola, minha mãe vai falar na minha cabeça, pois ela acha ridículo levar roupas e coisas assim em sacolas, ela diz que parece que são trouxas de pano.

Respiro fundo aliviada, mas insatisfeita também, ao ver a mochila fechada. Consegui!

O fecho parece que vai explodir a qualquer momento, mas o importante é que consegui. Eu e minha mania de usar o jogo do contente para justificar minha procrastinação.

Olho desanimada para minha bagagem antes de me arrumar. Quando saio do banho, minha mãe aparece, dizendo que vai me levar.

— O papai vai ter algum trabalho hoje a noite? — questiono enquanto seco meu cabelo com a toalha.

Minha mãe dobra algumas roupas que estavam jogadas em cima da cama. Ela me olha, enquanto pousa sobre a cama uma camiseta amarela sobre a colcha branca com flores rosa goiaba, então se senta.

— Vai, mas vai voltar cedo hoje — concordo com a cabeça.

— Saudades de ver os astros pelo telescópio da universidade

Mamãe me olha e sorri.

— Seu pai vai ficar bobo ao ouvir isso

— Ele parou de me convidar... — reclamo.

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