Helena
***
— Mãe, posso dormir na casa da Luana hoje e, talvez, amanhã? — pergunto, assim que dona Leona abre a porta.
Me olhando com nariz e testas franzidas, responde:
— Um boa tarde seria bom, sabe...
— Boa tarde! — sorri, logo voltando a infernizar ela — Mas e aí, posso?
Ela me olha com sua costumeira expressão de tédio, a mesma que exibo na face neste exato momento.
— Você quer ir? — questiona após segundos de uma pausa silenciosa.
— Quero — sorri, animada.
Sempre quando as meninas e eu nos reunimos, a noite rende. É bom conversar sobre garotos e os dilemas que eles trazem consigo, além das fofocas que rolam enquanto comemos pizzas e doces, e bebemos refrigerante.
— Então vai — responde antes de tirar seu cardigã longo de lã verde escura, jogando-o no sofá e seguindo para a cozinha.
— Vou arrumar minha mochila — grito na entrada do corredor que dá para a cozinha — Pode me dar cinquenta reais? — tenho seu silêncio como resposta — MÃE? — insisto.
— Está bem! — murmura, mexendo nas panelas.
— Ótimo!
— Cadê o "obrigada, mamãe querida"?
Reviro meus olhos sem que veja, já que está inclinada procurando a panela que precisa no armário.
— OBRIGADA, MAMÃE QUERIDA! — grito, correndo pelo chão e escadas. Chegando ao topo, escuto sua recomendação sobre tomar cuidado para não cair.
Leona me xinga há não sei quantos anos, mas nunca recordo-me que não se deve subir as escadas de dois em dois degraus ou sobre a velocidade adequada.
Minha mochila está aberta à minha frente, com algumas roupas, porque sempre levo várias opções para caso suje ou algo assim. Deixo a mochila onde está, indo até o guarda-roupa, do qual tiro uma toalha limpa de cor verde. Ao voltar para a cama, tenho que esmagar as roupas para que tudo caiba, porque se necessitar de uma sacola, minha mãe vai falar na minha cabeça, pois ela acha ridículo levar roupas e coisas assim em sacolas, ela diz que parece que são trouxas de pano.
Respiro fundo aliviada, mas insatisfeita também, ao ver a mochila fechada. Consegui!
O fecho parece que vai explodir a qualquer momento, mas o importante é que consegui. Eu e minha mania de usar o jogo do contente para justificar minha procrastinação.
Olho desanimada para minha bagagem antes de me arrumar. Quando saio do banho, minha mãe aparece, dizendo que vai me levar.
— O papai vai ter algum trabalho hoje a noite? — questiono enquanto seco meu cabelo com a toalha.
Minha mãe dobra algumas roupas que estavam jogadas em cima da cama. Ela me olha, enquanto pousa sobre a cama uma camiseta amarela sobre a colcha branca com flores rosa goiaba, então se senta.
— Vai, mas vai voltar cedo hoje — concordo com a cabeça.
— Saudades de ver os astros pelo telescópio da universidade
Mamãe me olha e sorri.
— Seu pai vai ficar bobo ao ouvir isso
— Ele parou de me convidar... — reclamo.
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2002
Romancelola | © 2021 SINOPSE: Júpiter está apaixonada por seu "melhor amigo" há não sei quanto tempo, na verdade, ela sabe as horas exatas de cada dia em que passou pensando nele, Augusto Vettel. Ele mudou-se para a Áustria com sua família há algum tempo...