capítulo 45

44 10 1
                                        


— Não temos nada para conversar!

Elas me olham abismadas, tendo de fato a consciência de que as coisas não estão bem.

— Seria muito melhor se você parasse de graça e falasse logo o que está acontecendo — Lu revirou os olhos, tomando a frente da situação.

— A questão é que eu não estou com vontade, beleza?! — respondi petulantemente, fingindo estar calma quando estava tremendo por dentro e fazendo um esforço tremendo para não deixar que a tremedeira ficasse visível.

— Então faz o que você quiser! — colocou o cabelo atrás da orelha e desviou o olhar para o lado — Eu cansei desse drama todo. O mundo não é um filme e você não é a protagonista! — disse alto e eu me encolhi assustado.

Olhei para os lados e, por sorte, não havia ninguém por perto. Os meninos estavam na outra escada da entrada da igreja conversando alto e rindo, completamente distraídos.

— A gente sempre tem que ficar pisando em ovos com você!

Enquanto ela falava, Maria abraçava a si mesma cabisbaixa.

— Então que bom, porque eu não quero mais ser amiga de vocês. Agora estão livres da pessoa dramática que eu sou — falei e me calei, os olhos já estavam com lágrimas até a borda.

— Perfeito! — definiu, agarrou o braço de Maria e a puxou para ir consigo.

Levei meu olhar ao céu, passei a mão nos olhos e fiquei ali, sentindo o vento bater no meu rosto, secando as lágrimas que não caíram. Ouvi passos atrás de mim e suspirei fundo, erguendo meus ombros.

— Está tudo bem?

Sorri para ele.

— Está sim!

Augusto me analisou com atenção.

— Sério mesmo? As meninas desceram e você ficou para trás — apontou com o polegar para atrás de si.

— Tudo certo, eu só queria ficar mas um pouco e olhar o céu... a vista

Guto sorriu e se aproximou mais, envolvendo-me com seus braços firmemente. Sua cabeça encostou no topo da minha cabeça e ficamos abraçadinhos. Suspirando, ele esfregou as mãos em meu braço e beijou minha cabeça.

Após segundos de um silêncio reconfortante:

— Vamos?

Olhei para cima, encontrando seus olhos ainda mais verdes do que em dias comuns. A claridade que o céu trazia dava a eles um destaque especial, uma beleza ímpar.


***


— Licença — pedi assim que entrei na sala de sua casa. Desta vez, além da irmã, marido e sobrinho, estavam duas garotas e um rapaz, amigos de Sindy.

Acenei timidamente para eles ao entrar com Augusto. Por sorte, nos cumprimentaram e deixaram a gente em paz, sem fazer brincadeirinhas.

Segui Augusto com a cabeça baixa enquanto passávamos atrás do sofá. Fomos à cozinha cumprimentar sua mãe e seu pai.

— A gente vai ficar lá em cima — avisou.

— Tudo bem. O almoço está quase pronto

Ele se aproximou de sua mãe e beijou o rosto dela, abraçando-a por trás logo em seguida. Sorri assistindo a cena.

2002Onde histórias criam vida. Descubra agora