capítulo 30

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Jogo de queimada 

***

O jogo de queimada está a todo vapor. Tento me esconder atrás das meninas ou das outras pessoas disfarçadamente. Sou péssima com esportes, mas nesse esconde-esconde consigo me manter no jogo. 

    As pessoas vão sendo eliminadas e, por pouco, uma bola quase bate no meu rosto. Parece que meu rosto atrai a bola em todos os esportes, não sei quantas boladas já levei. Essa parte trágica da minha vida não mudou tanto do início do ano para cá.

   

    Os minutos passam devagar para mim, em completa aflição até que, ficamos apenas eu e a Gabriela no time verde, e Augusto e Leandro no outro, o vermelho. A bola está com o Lê, e sei que ele vai conseguir queimar uma de nós, porque ele tem uma ótima mira. Poderia ser eu, suplico aos céus, porque se não ficarei sozinha e sem nenhum psicológico para continuar. Vou surtar e me desesperar, na verdade, já estou nesse estado de completo pavor. 

    O que menos queria que acontecesse, aconteceu: Gabriela foi queimada. Suspiro fundo, tentando ficar calma. 

    Até falei que queria ir para o ‘morto’ no lugar dela, mas todos gritaram que não valia, pois foi uma das primeiras regras a serem estipuladas antes que o jogo começasse. Então, Gabriela atravessou a quadra, quando estava lá do outro lado, jogou a bola na direção dele. Como ela estava obstinada, ela o acertou e conseguiu voltar. O Leandro desceu e decidiu jogar a bola para o Augusto que veio em nossa direção. 

    Senti as gotas de suor escorrendo pelos lados da minha testa e sobre os lábios gotículas que se formam mesmo que eu seque o local de minuto em minuto. O que o nervosismo somado ao calor não fazem comigo?! 

    Devido ao dia quente, nem respirar direito eu estava conseguindo. Meus colegas de classe são sedentos por competição e ganhar. Implorei por um tempo para poder descansar, mas ouvi gritos dizendo que não. 

    Enquanto Augusto nos olhava atentamente, seus olhos verdes apertados, envolto por cílios espessos, passando de mim para Gabriela com atenção, minhas pernas tremeram de medo. Que merda! Eu não sirvo para isso de jeito nenhum. Não gosto de ficar sob pressão. 

    Vi o exato momento em que tomou sua decisão sobre quem queimaria primeiro. Um sorriso malvado surgiu em seus lábios. Qualquer pessoa ficaria alarmada ao ver esse maldito sorriso. 

    Mesmo que fora desse jogo, quando estamos juntos ele seja bem legal e fofo comigo, sei que aqui e agora, ele não liga se estamos juntos ou não. Eu queria que ele ligasse, assim seria melhor para mim. 

    Tomo um susto quando vejo a bola utilizada para jogar queimada cortar o ar. Corro pelo espaço do time verde como uma doida porque estou assustada e ouço as risadas de todos. Olho a quadra e vejo que até os meninos que estavam jogando futebol, encostaram o corpo na parede para assistir a partida super empolgante que deixa a Júpiter biruta. 

Percebo que Gabriela foi atingida e desce para o ‘morto’ mais uma vez, então acordo para vida e paro de surtar. Ela tenta queimar ele mais uma vez, mas como dizem “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”, então Augusto desvia. A bola bate na parede, mas por sorte consigo pegá-la antes que volte ao outro campo. 

Talvez eu consiga queimá-lo e meu time ganhe. Talvez… apenas talvez. 

Pensando nisso, jogo a bola em sua direção, mas…Por que comigo sempre a um ‘mas’?! Como sou extremamente ruim com jogos que envolvem bola e só cheguei até aqui me escondendo. 

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