2002

capítulo 13

No meio do caminho tinha uma pedra

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Na aula da quarta-feira, começaram as primeiras conversas sobre a formatura. Viagem, festa, buffet, fotógrafos, bandas etc e a nova etapa que se seguiria com o fim do Ensino Médio. Confesso que não estou tão animada quanto deveria estar.

Não prestei tanta atenção quanto à viagem, porque não quero ir, mas sei que estão decidindo entre algumas praias, a velha e conhecida Porto Seguro, a glamurosa e mais famosa ainda Ipanema e a linda Cabo Frio. Raquel é uma das organizadoras e ficou dizendo toda hora que tinha que ser Porto Seguro, porque lá é um sonho, que os pais dela foram para lá e que ela também queria ir, blá-blá-blá. Basicamente disse que viagem de formatura não é viagem de formatura se não for pra Porto Seguro.

Minhas amigas querem ir, porque elas são festeiras e o que mais tem nessas viagens é isso. Nem vou comentar com minha mãe, porque ela diria para que fosse, porque a da época dela foi incrível e que o que mais tenho que fazer antes da faculdade é viver e curtir alguns dias de festa.

Meus avós disseram que vão pagar o pacote da formatura, minha outra vó, Cora, disse que vai pagar o vestido, a maquiagem, cabelo, sapato... Então meus pais me disseram que como eles vão pagar quase tudo, posso escolher entre um carro e uma viagem com as meninas para algum lugar. Sei que a maioria escolheria o carro, mas não acho graça e me empolguei mais com a viagem.

Escolhi Nova York, porque, bom, é Nova York. O sonho da minha vida é viver lá, mas uma viagem pode matar um pouco dessa sede enquanto não posso viver lá. A viagem vai ser depois da formatura, quando tudo estiver tranquilo, por isso tenho que estudar pra passar no vestibular, porque ficaria sem graça de ir viajar sendo que não alcancei a tão almejada vaga em História da Arte.

Sofri com dúvidas sobre qual curso fazer, mas depois de pesquisar, perguntar para minha mãe que é historiadora sobre o assunto, cheguei a conclusão de que quero isso para minha vida. Não sei se deveria sonhar alto, mas eu sonho. Quero trabalhar em outro país, em museus, com obras de arte e exposições. Algo como França ou Holanda, me faz suspirar.

Qual é?! Holanda é o país do Van Gogh, o meu artista favorito. As cores intensas, os traços, tudo que ele fazia em seus quadros foi perfeito. E França, bom, Paris é Paris, cidade das luzes, do amor e dos artistas.

O ruim é que na minha cidade não tem História da Arte, então meu destino vai ser São Paulo, Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul. Estou adiando ao máximo a escolha, é tão difícil decidir! Sou péssima com escolhas.

Voltando à viagem de formatura, Augusto Vettel também vai, ele comentou na sala que preferia Ipanema e assinou a lista de interessados na viagem, assim como minhas amigas.

Eu não deveria estar com ciúmes por ele ir, mas estou. Devo ter sérios problemas, provavelmente, ele nem vai me olhar mais. Deve ter conversado comigo e falado aquelas palavras somente para descontrair e como me iludo sempre estou criando falsas esperanças.

Bufo, deitada na cama, olhando para o teto de estrelas fluorescentes. Olho para o lado, o relógio digital em cima da mesinha marrom marca duas e quinze da madrugada.

A insônia às vezes me ataca, então tenho pesadelos e sonhos esquisitos. Dessa vez, sonhei que ele ia embora mais uma vez e eu fiquei desolada, olhando-o ir embora da cidade.

O sonho começou comigo saindo da escola com as meninas, depois segui sozinha após me despedir, correndo para pegar o ônibus - coisa que quase nunca faço -, então o mundo parou e pareceu esperar minha chegada, mas assim que cheguei ao ponto de ônibus, percebi que o tinha perdido. Me sentei na escada de concreto arredondada, havia algumas pessoas perto de mim, então percebi que era noite e ventava muito, o vento deslizava pelos meus cabelos e pescoço me fazendo ter ciência do frio, as luzes ao redor deixavam o ambiente ofuscado.