capítulo 27

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Helena

***

H

á tempos não a via. Na verdade, anos para ser mais preciso. Parecia quase uma miragem, porque ela foi uma das pessoas que saíram da minha vida de repente. 

Não que eu sinta muito por termos nos afastado, porque não terminamos brigados nem nada assim. Nosso namoro era bom, um pouco empolgante como todo primeiro relacionamento é, mas não era ela quem eu realmente amava, então era tudo muito normal. 

No início, eu gostei, mas depois vi que estava gastando tempo, sem nenhuma pretensão com aquilo. Eu ficava, porque era confortável. Da parte dela não sei, mas acho que era barra é o mesmo ponto de vista. 

Com os olhos bem abertos caminhei até ela com os braços levantados em direção ao céu. Ela correu até mim e no meio do caminho nos abraçamos. 

_ AUGUSTO! _ pulou no meu colo e enlaçou as pernas na minha cintura, então nos abraçamos. Girei com ela no colo algumas voltas em meu eixo.

Helena pulou do meu colo e colocou suas mãos em meu ombro, afastando-se um pouco para me analisar e eu também a olhei. Ela estava vestida com um vestido florido e curto, sem sapatos, os pés tocando a areia.

_ Você cresceu… _ subi meu olhar por seu corpo e rosto _ e está linda! 

Seu cabelo castanho claro, os olhos vívidos e um sorriso caloroso. 

_ E você está tão gatinho! _ levou a palma das mãos as laterais de seu rosto. 

Dei a ela um sorriso de lado. 

_ Obrigado! 

_ Quanto tempo, Augusto! 

_ Quanto tempo mesmo. Mas o mundo parece ter parado agora _ ficamos olhando um para o outro como bobos.

_ Sim, tenho a mesma sensação

_ Uau! _ soltei, pensando no quanto era surpreendente encontrá-la após tanto tempo. 

Terminamos o namoro e foi como se nunca tivéssemos nos visto antes, porque cortamos qualquer contato. Foi algo natural, tinha que acontecer. 

Ela soltou a mesma expressão enquanto olhava para mim, ainda com o mesmo sorriso de anos atrás, aquele que iluminava seus olhos. 

Esse sorriso me deixava feliz, mas não me fazia sentir o comichão que revirava minhas entranhas como se estivesse em um brinquedo perigoso em um parque de diversões. A Júpiter me causa isso e foi nela que pensei de tempos em tempos quando estava fora. Nada de fissuração, porque por não pensar tanto, devido a distância e falta de rotina em comum, achava que tinha esquecido ela, mas no fundo era saudade. 

Me questionei durante muito tempo do porque a garota na minha frente não mexer comigo desse jeito. Seria tão mais fácil!

_ Mas então, como estão as coisas? _ perguntei, quando nos sentamos em frente ao mar que estava com muitas ondas que quase chegavam até nós. 

_ Estão ótimas! Vou prestar vestibular para uma universidade em São Paulo e você? 

Até esse momento, eu não falava sobre aquilo com ninguém, não gostava muito dessas conversas sobre futuro, mas me vi querendo dizer tudo. Todos os sonhos e planos, mas isso também era difícil, porque eram dois pacotes e cada um que eu escolhesse, teria que ficar sem algo muito importante para mim.

Eu odeio indecisões e agora estou perdido, sem saber o que fazer.

_ Estou bem _ olhei para o céu se encontrando com o mar no fim do horizonte. A água esbranquiçada pelo reflexo da lua. 

Voltei meu olhar para ela que me analisava. 

_ Acho que vou para a França, fazer universidade por lá. Algo assim _ comentei como se aquilo não tivesse importância, porque assim as pessoas não se aprofundam tanto nas perguntas.

_Ui ui ui! _ afastou o tronco _ Todo chique ele! _ ela sorriu e me olhou nos olhos _ Mas se é o que você quer e se você pode ir, vai! 

_ Vou sim. Pode deixar _ sorri, meneando a cabeça. 

Ela me falou então que queria fazer moda, depois abrir uma marca própria e uma boutique em São Paulo. Desejei sucesso, com sinceridade e disse-lhe que poderia contar comigo se precisasse de algo. 

_ Ai, essa vida! _ soltou após minutos de silêncio, melancólica, olhando para o seu com os olhos brilhando _ Pensei que nunca mais encontraria você, Guto

_ Pensei isso há pouco tempo, assim que nos encontramos 

Olhei para o céu estrelado.

_ A vida sempre brinca com a gente

_ Ô se brinca, viu! 

Mais minutos de silêncio.

_ Quem sabe nos encontramos daqui há alguns anos em Paris _ brincou, dando-me um leve empurrão nos meus braços que estavam apoiados em meus joelhos flexionados.

_ Isso aí é com a vida _ soltei uma risada, voltando a olhar para frente, sentindo o vento frio encostando no meu corpo. Fiquei sério, pensando no que eu deveria fazer. 

_ Ei, Augusto! _ me chamou e demorei um tempo para olhá-la. Quando olhei, ela estava séria e se aproximando de mim. 

Eu não sei porque raios inclinei em sua direção, mas o fiz. Olhei em seus olhos e ela nos meus, segundos antes de nossos lábios se tocarem. 

Levei minha mão até seu pescoço e aumentei a intensidade daquilo, tentando ver se mexia comigo. O beijo foi breve e… Nada. Foi um beijo comum, eu praguejei internamente, porque vi, era impossível esquecer a garota que estava em Vila Velha e que me massacrava sempre que tinha oportunidade. 

Afastei meus rosto e neguei com a cabeça. 

_ É melhor não _ confessei olhando para frente, negando com a cabeça.

O silêncio se fez presente, depois vi pela visão periférica que ela acenou em silêncio e ajeitou o cabelo atrás da orelha antes de se levantar e dizer que tinha sido bom me ver e que me deixaria sozinho, com meus pensamentos.

_ Obrigado! _ agradeci, olhando para ela indo embora. 

Esfreguei meu rosto, pedindo calma e lucidez para lidar com minhas questões. Eu estava com pouco tempo para decidir tudo. Tinha que ligar para minha mãe até amanhã às 10h para que ela fizesse a matrícula na universidade francesa. 

Talvez fosse melhor ir embora. A distância muitas vezes ajuda. Acho que é disso que preciso agora. 

Levantei e corri em direção ao mar. A água estava boa, apenas um pouco gelada, mas era questão de primeiro contato. Afundei na água e fiquei por um tempo ali, debaixo da água, com os pensamentos agitados até me erguer e respirar ofegante, com a sensação do peito ofegante. 

Joguei a água nos meus cabelos quando me levantei e tempos depois saí do mar, correndo pela areia até o hotel. Entrei no elevador, com minha decisão tomada, eu não queria reparar em nada, para não tomar situações do dia a dia como sinais. Eu estou cansado de sinais. 

Entrei no quarto, bati a porta e peguei o celular. Disquei o número da minha mãe e aguardei. 

_ Oi, Augusto, meu filho! Tudo bem? Como está a viagem? _ disparou perguntas assim que atendeu _ É o Augusto _ sussurrou para alguém, provavelmente, meu pai.

_ Oi, mãe! Está tudo bem, mas eu só liguei para dizer que eu quero fazer a matrícula na universidade. Achei melhor ligar hoje e falar do que amanhã

Falamos por algum tempo, mas depois desliguei dizendo que iria encontrar os rapazes, mas o que fiz foi ir ao banheiro com uma bermuda seca. Enquanto a  água quente batia contra minha cabeça, pensei: agora está feito.


 

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