Prólogo

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Stuttgart, Alemanha
1996

Timo Werner foi deixado na porta de uma família com uma carta escrita à mão pelos pais. Eles fugiam de soldados do Comando Rubro Soviético, um grupo extremista que surgiu na época da URSS e continuou atuando na Alemanha mesmo após todas as transformações no país.

Apesar da queda do muro de Berlim em 1989, a situação ainda não havia mudado tanto em outros lugares do território. Enquanto o mundo celebrou a queda da divisão, uma forte rede de perseguições, crimes e toda sorte de problemas que ninguém jamais poderia imaginar fortaleceu-se nas entranhas do país.

Os pais de Timo sofreram desde que começaram a namorar em 1985. Ambos protestaram muito contra os soviéticos e suas repressões, entrando para a lista de indesejados do Comando Rubro. Desde então, mudaram-se de uma cidade para outra na tentativa de garantirem que não seriam encontrados.

Porém, tudo piorou quando a gravidez de Sophie foi descoberta. O frio dificultou a mobilidade da família e as condições financeiras do casal seguiram piorando com as mudanças pelo país. Enquanto Timo se desenvolvia no ventre seguro da mãe, o casal conseguiu fixar-se em uma casa confortável. Os donos foram muito receptivos e compartilharam a residência com a família procurada.

O menino nasceu saudável e cheio de vida. O nome foi escolhido pela mãe, que também o registrou. Mesmo em meio às incertezas sobre a segurança e a integridade da família, o casal ficou feliz. O primeiro filho estava com eles e nada mais importava.

Mas o casal desafortunado não pôde continuar na casa dos novos amigos. Nos dias em que Timo completou seis meses, a casa foi invadida pelos extremistas e, por sorte, não havia ninguém no local. A marca do grupo foi pintada com tinta vermelha no corredor. Aquilo significava que haviam encontrado a família. Sophie e Ralf decidiram procurar um novo local para morar, com medo que os criminosos voltassem e executassem o casal que os acolheu tão bem.

Eles organizaram os pertences em pouco tempo e colocaram tudo em um carro para depois pegarem a estrada. No veículo, os dois conversaram sobre o que aconteceu.

— Até quando vamos fugir dessas pessoas? — Ralf perguntou enquanto manteve o foco na estrada.

— Não sei... nós precisamos manter Timo em segurança. Eles são implacáveis e em algum momento vão se aproveitar de um descuido nosso.

— É muito perigoso... acho necessário deixá-lo com alguém. Ou então podemos pedir asilo a algum país, mas acho muito difícil de concederem já que ninguém admite a existência desse grupo. Ninguém quer problemas com a Rússia.

— Deixá-lo com alguém? Não! Isso não! — ela protestou.

— Prefiro abrir mão de tudo para que ele se mantenha vivo... não gostaria de vê-lo sendo levado para servir ao Comando Rubro quando crescer. Penso nisso desde o dia em que veio ao mundo. Se procurarem do jeito certo, vão encontrar todos nós e então as nossas chances seriam mínimas. O melhor jeito seria fugirmos daqui sem Timo.

O pai parecia determinado, mas hesitou ao ver a reação da esposa. Olhou para o filho pelo retrovisor e ficou angustiado, pois o plano que tinha em mente soava bom, mas envolvia talvez nunca mais ver o filho que tanto amavam. Continuou dirigindo, afastando a família de Stuttgart.

Chovia forte e eles fizeram uma parada para comer. Sophie refletiu por algum tempo e começou a escrever uma carta para a família que poderia cuidar do filho enquanto eles continuariam fugindo. A princípio, ela pensou que deixá-lo fosse uma atitude covarde, mas concordou com Ralf e decidiu mantê-lo protegido mesmo que custasse tudo a eles.

— Vamos deixá-lo com alguém, mas quero que seja em Stuttgart.

— É um pouco perigoso voltarmos para lá. Não acha melhor procurarmos aqui por perto?

My Brother | Kai Havertz & Timo WernerOnde histórias criam vida. Descubra agora