Mina maneira do condomínio

5.3K 491 222
                                    

JANE HOPPER
Good girl

As férias de natal haviam acabado, e o ano letivo ia se iniciar hoje. Eu estava cansada, passei a noite inteira revisando cada momento do que aconteceu ontem, as memórias vividas na minha mente me atormentavam à cada segundo do meu dia.

A brisa do alvorecer bateu contra o meu rosto ao abrir a janela do meu quarto, observei um beija-flor bicando os girassóis no extremo do sítio, o mesmo que era azul com alguns detalhes amarelos terminou seu serviço e saiu ao meio dos pinheiros voando tão rápido que nem os meus olhos conseguiram acompanhar.

Respirei fundo, amarrei meu cabelo castanho mel em um coque alto e sai em direção ao banheiro. Após tomar banho e perceber às olheiras fundas que se formavam em volta dos meus olhos, coloquei um pó, apenas para não ficar tão perceptível que eu dormi só por umas 2 horas. Quando passei pela porta, já arrumada, pude sentir o cheiro de panquecas inebriando a casa inteira, e o som de um gole de café sendo despejado em um copo, ao entrar na cozinha vi que Joyce corria contra o tempo para virar as panquecas e não deixá-las queimar.

— Anw você dormiu aqui? - perguntei, me sentei na cadeira perto do fogão e coloquei minha mochila amarela com listras azuis no chão.

— Sim. Acabei perdendo a hora ontem - respondeu apressada e pegou a frigideira, logo se aproximando da mesa e despejando às panquecas em um prato raso — Bom dia querida.

Colocou o mesmo na minha frente, uma montanha de panquecas que fez a minha barriga roncar em resposta.

— Bom dia, tia Joyce.

                               ❥

Já podia ouvir sapatos apressados caminhando entre os corredores, antes mesmo de entrar pela porta principal da escola. Um grupo de garotos fardados com a jaqueta do time de basquete passou por mim, todos eles acenaram e eu fiz o mesmo em retorno. Desde que entrei na escola ganhei muita audiência, todos gostavam, ou pelo menos fingiam gostar de mim. Era popular entre os garotos por ser bonita, pelo menos era o que eles diziam, não me importava tanto. E afamada entre as garotas por ser amiga dos meninos do time de basquete, eu não era bem próxima deles, só falava com Lucas que era o capitão do time e isso foi o suficiente para chamar atenção.

Muitas coisas haviam mudado desde a morte do Billy, entre elas, o Lucas que virou um típico jogador de basquete, famoso entre as garotas e uma hora, ou outra, um babaca. Dustin, se apossou no grupo dos 'nerds' maníacos por tecnologia e descobertas científicas, ainda falava frequentemente conosco, mas não como antes. Mike, um verdadeiro ex-prodígio, ele não se importava mais com o grupo ou tinha o senso heroico que antes o predominava, era uma das coisas que nós mais tínhamos em comum. Will, passou por vários psicólogos e tratamentos a base de remédios, pois desenvolveu traumas graves pelos ocorridos em sua vida; diferente dos outros, ele se aproximou bastante da Max depois da morte do seu irmão. Não é que não prestamos apoio a ela, e sim porque ela não queria ser apoiada, e acredite, nos tentamos. Pelo visto, o único que lhe deixava confortável era o Byers.

Os dois perderam alguém importante para o devorador de mentes. Max, o seu irmão, e Will, ele mesmo.

Max, virou a típica garota malvada. Às brigas em sua casa eram constantes, não por parte dos seus pais, e sim por parte dela. A ruiva buscava culpados para responsabilizá-los, e seu padastro, com certeza era um deles. Pelo menos era o que ele achava, a morte de Billy claramente não foi anunciada em uma capa de jornal falando sobre uma criatura de um mundo paralelo que acidentalmente veio para em nossa realidade. Eles precisavam suavizar. E foi isso que fizeram, a manchete que saiu nos jornais pela manhã em todo o país afirmava que foi uma briga entre gangues. O padrasto de Max, pelo visto, não era nenhum bom samaritano e tinha envolvimento com um dono de uma grande organização criminosa, aproveitando o embalo encaixaram tudo em uma só história. Billy havia sido sequestrado como garantia e ao tentarem pegar a mais nova, no caso Max, eles acabaram trazendo um grupo de adolescentes totalmente determinados junto que os destrairam enquanto a polícia não chegava, e em última hora um dos bandidos atirou em Billy que morreu, sem oportunidades para lutar. Neil Hargrove se culpava, e max, o culpava. E desde então, a ruiva problemática só piorou, virou uma versão do Billy um pouco pior talvez, a rebeldia não lhe caia bem.

Não que eu goste da sua maneira sarcástica e atrevida, nem do jeito que ela me olha. É só que...por que eu sempre pago com minha própria língua? Sussurei para mim mesma, ao ver de longe, pela vidraça da porta que separava os corredores e a calçada da escola, ela. Esquece! Esquece o que eu disse antes, a rebeldia, literalmente, lhe caia bem.

A mesma usava uma saia preta, curta por cima da meia-calça rasgada que deixava uma parte da sua pele branca exposta, uma blusa com desenhos de astros do Rock e guitarras mostrando suas línguas estampadas no tecido, uma meia três quartos subia até suas canelas e uma bota de cano alto e de salto baixo guardava seus pés. O cabelo vermelho fogo, preso em um coque despojado, um lápis de olho bem marcado embaixo dos olhos dava destaque às suas esferas azuis. E na orelha esquerda encaixava um cigarro atrás da mesma, observei ela abrir o seu armário, pegar um caderno e antes que ela pudesse ir embora para mim, seguir meu caminhos, pois eu quero com todas minhas forças evitá-la, uma garota. Aquela garota. A mesma morena de ontem, se encostou no armário do lado da ruiva e a observou por uns segundos antes de pegar o cigarro que havia entre sua orelha.

Senti uma raiva imensa com aquilo, sentia vontade de dobrar o pescoço dela, como se a mesma fosse tão frágil quanto o cigarro que tinha em mãos. Senti vontade de arrancar o sorrisinho sarcástico daquela morena na qual só me restava vagas lembranças da noite de ontem. Fechei minhas mãos em punho e finquei minhas unhas na palma das minhas mãos ao vê-la passar os dedos pelo lóbulo da orelha de Max, e olhá-la maliciosa. A Mayfield, no entanto, não deu tanta importância.

— Sabe - pude ver a boca da morena se abrindo de uma forma sedutora — Eu estava pensando em-

Antes que pudesse continuar, Max fechou a porta do seu armário com força, causando um som estridente e fazendo a garota recuar em um passo. Max se aproximou dela, prendeu a garota pondo seus dois braços em cada lado do armário, a impedindo de sair, a mesma arregalou os olhos. A ruiva aproximou seu rosto dela, a observando de perto, como se a desafiasse em um só olhar, enquanto a mesma apenas se mantinha submissa com o olhar baixo. Max se desviou da boca da garota, foi direto para a orelha onde ela encaixara o cigarro, o pegou com dentes e sussurrou em seu ouvido, algo que se não fosse graças aos meus poderes não seria capaz de ouvir.

— Eu sei que meu nome rola a solta nessas rodinhas. Sei que fofocam sobre mim - informou, com a voz rouca em um ar irônico — Sei o quanto querem que eu às fodam, mas não será possível - confirmou. Mordeu o lóbulo da orelha da garota que estava acuada, passou o cigarro de volta para trás de sua orelha, e piscou para à mesma antes de sumir em meio aos estudantes.

Sorri satisfeita. Não sei o motivo, mas eu gostei.

darkness and shadows (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora