Levou o dobro do tempo para chegarmos em casa do que o planejado, seria perigoso deixar Sten para trás com um grupo de auxílio pois poderiam acontecer imprevistos e eles ficarem presos, então ficamos todos juntos.
Era quase três da tarde quando me joguei na poltrona do chalé, estava tão cansada que ignorei a roupa molhada e a neve no cabelo.
O chalé estava frio, talvez até pior do que do lado de fora.
Gilbert sorriu para mim enquanto colocava as camadas de roupas mais molhadas no gancho atrás da porta.
-Se trocar de roupa vai se esquentar mais rápido.
-Estou cansada de mais para isso. -digo fechando os olhos.
-Vai acabar adoentando se continuar assim.
-Como princesa, ordeno que doenças se mantenham longe. -brinco.
Escuto madeira batendo no ferro e abro os olhos para encarar Gilbert ajoelhado enquanto ascendia a lareira sozinho.
-Não sabia que Vossa Alteza sabia fazer esse tipo de coisa, não existem criados na França?
Ele ri.
-Existem mas não vejo necessidade de chamar alguém para fazer algo tão simples.
O fogo sobe aos poucos e me aconchego melhor no sofá.
Sinto minha trança deslizar sobre o ombro e me lembro que preciso retocar o cabelo. Me sento rapidamente e olho para Gilbert que tentava manter o fogo aceso.
-Preciso de Diana.
Ele me olha.
-Achei que estivesse cansada.
-Estou, mas precisa pintar o ruivo antes que mais alguém note. -toco a ponta da trança nervosa.
Todos ficaram muito próximos durante nossa aventura de hoje, qualquer um poderia ter notado se estivesse perto o suficiente de mim.
-Não tem necessidade de pintar novamente, podemos dar uma desculpa para a cor nova. -disse calmo.
-Isso seria loucura, Prissy me mataria e...
-Só pintou o cabelo para parecer mais com Cordelia, podemos dar a desculpa de que sempre foi ruiva mas pintava de preto para seguir a moda. Duvido que alguém lhe questione, é uma boa justificativa para um princesa.
-Mas eu quero pintar.
-Por que? -ele se senta ao meu lado.
-Ele fica mais bonito assim, é laranja de mais natural, não é nada agradável de ver.
-Duvido que consiga ficar feia até mesmo se tentasse, como estudante de medicina sei que essas tinturas podem fazer mal a saúde, o ideal seria parar de pintar.
-Mas... Já viu como as mulheres do castelo se empenham em ficar bonitas? Apertam os espartilhos o máximo que podem, colocam pó no rosto e vestidos pesados, não conheço nenhuma que tenha morrido por isso.
-Mas eu já vi, podem não ter morrido ainda mas isso vai fazer efeito uma hora ou outra. É um risco desnecessário.
-Gil...
-Por favor, deixe o cabelo ficar natural, se você se sentir feia pinte de novo.
-Isso não faz sentido.
-Só tente, por favor.
-Tudo bem, mas já sei o final dessa história.
-É o que vamos ver. Agora deveria se trocar, mesmo com preguiça, talvez tomar um banho e tirar o resto da tinta. Posso chamar Diana se quiser.
-Por favor.
=
Era estranho me ver ruiva mais uma vez, achei que passaria minha vida inteira passando tinta e me ver natural novamente foi estranho. Me lembrei da minha mãe, ela também era ruiva, sempre tentou me dizer como era bonita e que não deveria me envergonhar por ser diferente.
Senti vergonha.
Eu estava parecendo com ela, eu sempre pareci parando para olhar mais atentamente no espelho, mas também sempre me achei feia, não só pelos cabelos ruivos mas também pela palidez e os lábios finos, quando meus pais eram vivos era mais robusta e isso também era algo em mim que odiava, estar magra como estou hoje também.
Minha mãe era como eu, mas sempre a achei radiante, de uma beleza invejável.
Tive vontade de chorar, eu odiava tudo que compunha o meu corpo e nunca tentei aceitar a beleza que o mundo me deu mesmo sendo diferente do que as pessoas achavam ideal.
Sempre estaremos insatisfeitos com nossos próprios corpos se não amarmos o que achamos pior. Podemos mudar algumas coisas, sempre estaremos mudando com o tempo, deveríamos amar essas mudanças e abraçar o imutável.
Eu deveria me amar, deveria seguir o que ele me disse, mas parecia mais fácil ver as pessoas se aceitando do que fazer o mesmo.
Eu fiz a Anne realmente pintar o cabelo pra essa parte daqui pra frente, o cabelo sempre foi uma insegurança dela e agora tem que enfrentar isso.
inclusive tava pensando em criar um grupo no whatts preu avisar quando vai ter caítulo novo e tals, alguém entraria?
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A Falsa Prometida - Shirbert
Fanfiction+13 (gatilho estupro, ansiedade, suicídio e auto mutilação) Ela assumirá o nome de um tirana poderosa e se casará por obrigação. Ele precisa decidir se vale amar alguém com um passado tão cruel. "Me chame de Cordelia" Início: 14/12/20 Fim: