65

314 41 8
                                    

Pelo conhecimento que tenho sobre medicina já sabia que perderia a consciência, estava com o ferimento no braço aberto até agora e depois da briga com Billy tenho a impressão de que consegui mais um corte superficial e que torci o braço machucado. Me segurei ao máximo, não sabia para onde o dragão, aparentemente chamado Carrot segundo Delphine, estaria nos levando, mas meu corpo falou mais alto e eu apaguei. Só voltei a consciência quando senti um cheiro forte.

— Ela vai ficar bem. — alguém disse.

Minha visão estava turva, mas quando consegui focar a primeira pessoa que vi foi Gilbert e por instinto tentei me levantar, o que foi um erro porque senti uma dor insuportável.

— Não se levante. — ele segurou meus ombros contra a cama com cuidado — Te demos um relaxante muscular, vai sentir o corpo um pouco pesado e algumas dores.

Então comecei a chorar.

— Não chore, Anne. Vocês chegaram bem. — tocou meu rosto com carinho.

— Eu achei que iria morrer, Gil.

— Pelos deuses, eu não tenho a menor ideia do que aconteceu. Sinto muito. — me abraçou como pode enquanto fazia carinho no meu cabelo.

— Onde está Delphine? — pergunto entre soluços, e se ela tivesse caído?

— Está bem, mas aquele dragão não nos deixa chegar perto dela, só nos deixou te levar.

— Foi horrível, Gil.

— Eu disse para não ir.

Com um esforço considerável me encostei na parede atrás da cama com a ajuda de Gilbert e demorei um pouco para conseguir controlar a respiração. Então o olho séria.

— Eu fui e teria ido novamente. Consegui tirar Delphine de lá. — esfrego as mãos no rosto.

— Deveria ter me deixado te acompanhar, ou não deixar o lugar que Whinni te mandou...

— Gilbert. Eu não me arrependo. Quase morri e teria morrido de verdade se isso fosse tirar o risco de Delhpine correr qualquer risco de vida. Daria a minha pela dela.

—Eu fiquei tão assustado. — ele morde os lábios para evitar chorar, mas uma lágrima acaba caindo e quando ele a limpa noto novas marcas nos braços — Não aguentaria perder mais ninguém.

Já estava de noite do lado de fora, não sei quanto tempo fiquei fora, mas saí pela manhã prometendo voltar para o almoço. Eu não voltei. Não consigo imaginar a angustia dele.

— Ei, estou aqui. — toquei seu rosto ignorando a dor no braço.

— Não mexa esse braço. — segura me braço antes que eu o levantasse de mais, as lágrimas ainda caíam de seu rosto, mas ele pareceu ignorar assim que notou que eu poderia sentir dor por ele. — Você tem um ferimento muito profundo, por pouco não chega em uma artéria, e depois torceu a mão um pouco.

— Eu te amo. — deixo escapar.

Ele me olha um pouco chocado e as lágrimas param de cair.

Então segura meu rosto e me beija.

— Eu também te amo. — sussurra entre os beijos — Te amo.

...

Coloquei uma roupa mais fresca uma hora depois para ver Delphine, Gilbert estava dormindo e eu quase o acompanho, mas lembrei dela e tive que sair.

Haviam diversas tochas próximas do dragão o suficiente para lhe iluminar e respeitar sua exigência inegável. Quem tem garras e dentes é ele e não nós. Gilbert disse que teremos que partir amanhã pela manhã até a França e teríamos que nos virar e tirar Delph do dragão.

Ela estava dormindo apoiada no pescoço do enorme dragão que roncava, parecia o momento certo de tirá-la dali. Aos poucos me aproximei, meu ombro estava imobilizado por uma gaze bem colocada, mas com o braço esquerdo acho que consigo pegá-la.

— Delph — tento a acordar. — Delph.

— Oi Delia. — resmungou se sentando e esfregando os olhos. — Quer dormir aqui também? Carrot gosta de você, ele vai deixar.

— Amanhã vamos para a França! — digo baixo, mesmo que Delph mantivesse a voz em tom normal.

— Que legal! — sorriu — Carrot vai adorar lá, vou mostrar o meu castelo de bonecas para ele!

— Acho que o tio Gil não quer que ele vá...

Assim que digo isso o dragão acorda e me dá uma rasteira com a asa.

— Ai! 

— Carrot! Não faça isso, é feio! — repreendeu Delphine em pé, balançando o dedo como uma mãe — Delia é minha amiga e tio Gil vai fazer o que eu quiser, ele me ama.

Mas que garota atrevida!

— Onde você pensou em deixar Carrot? — pergunto me levantando e limpando a sujeira da roupa.

— No estábulo, ué. Tem espaço para ele.

— Ele não vai caber lá, tenho quase certeza.

— Não importa, Delia. Carrot tem que ir com a gente.

— Fale com seu tio amanhã, mas agora temos que ir dormir. Não vai entrar?

— Não, se eu sair vão querer machucar o Carrot.

Proteção eu sei que ela tem de sobra, esse dragão ama ela. Então só volto para o chalé e pego um travesseiro e cobertor para lhe dar, mesmo que não parecesse necessário, antes de voltar para dormir.

★ 10 votos + 15 comentários = capítulo novo 

A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora