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Maratona 2/3

Depois de me deixar no quarto com vários travesseiros, um bule de chá cheio só para mim e Orgulho e Preconceito, Gilbert se conformou em me deixar sozinho para terminar sua conversa com Denis. Sei que ele se preocupa comigo porque me ama, mas as vezes exagera de mais, concluí isso depois de vinte minutos sozinha no quarto, quando alguém entra sem bater na porta.

— Sim, Gilbert me mandou ficar aqui. — disse Hazel, a avó de Deslphine.

Imediatamente me ajeito na cama, sei que ela me odeia, mas não precisa de mais conteúdo para dizer á rainha.

— Oi, Hazel. Quer se sentar? — pergunto nervosa, se Gilbert acha que a presença dela vá me acalmar ele está completamente errado.

— Claro. — se sentou no sofá, de costas para mim.

— Como está Delphine? não vejo ela desde ontem.

— Está bem, iria ver aquela aberração do celeiro esta tarde com o padrinho, mas você passou mal e ela teve que se contentar comigo.

Ok. Eu já tinha certeza que ela me odiava, mas não tanto assim?

— A senhora não gosta de Carrot?

— Aquilo é uma máquina mortal — se virou para mim —Você mesma sentiu o que ela pode fazer — senti o machucado, já quase curado, dar uma pontada de dor —, não sei como permitiu que trouxessem isso para cá.

— Achei lógico deixar essa decisão para Gilbert, já que ele é o padrinho dela e eu não.

— Você viu com os próprios olhos as coisas que ele é capaz de fazer apenas para irritar a mãe, não deve deixar essas coisas nas mãos dele.

— Ele nunca colocaria a vida de Delphine em risco apenas para irritar a mãe. — ela se vira para mim.

— Tem certeza?

Então eu me irritei.

— A senhora está insinuando de que seu filho errou em escolher Gilbert como o padrinho da sua neta ou eu é que estou entendendo errado? Porque se ele não gostasse de você não teria te pedido para ficar comigo agora mesmo.

— Não tenho certeza das decisões que ele pode tomar estando apaixonado pela princesa da Escócia que até pouco tempo atrás era uma assassina e tanto.

— Eu nunca tocaria num fio de cabelo de Delphine, a senhora não me conhece se acha que boatos são verdadeiros. — quando dou por mim já estou na sua frente, de camisola e tudo.

— Então me faça mudar de ideia, porque se a rainha não confia em você não acho que eu deveria.

Agora estava sem saída, não posso contar a ela a verdade. Se tem uma coisa que aprendi na minha curta existência é que quanto menos pessoas souberem de um segredo melhor. Não vou contar a ela.

— Confiança não é algo que se tem do dia para a noite, só quero que me olhe de um jeito menos fechado já que me julga sempre esperando o pior. Agora se me der licença, adoraria ficar sozinha.

Antes que ela respondesse me fecho no banheiro, só quero ficar sozinha, de verdade. Não quero arriscar abrir a porta e ver a senhora ainda ali, então vou esperar um pouco no banheiro. Algo de novo que tem aqui é um espelho sob a pia, é enorme e deve ter custado caro.

Eu ainda uso as duas tranças sob os ombros, as mesmas que a rainha criticou, a mesma cor vermelha que fizeram piada e as mesmas sardas que enojaram aquela senhora. Sinto que as últimas semanas foram água a baixo quando me olho no espelho e volto a ver a menina de treze anos que pintou o cabelo errado e o deixou verde.

A vida não passa de um grande colégio.

Mas nada que eu faça vai fazer com que me odeiem menos, quando essas pessoas decidem odiar alguém nada muda a chacota que ela sempre será. Pintar meu cabelo não vai mudar a opinião delas sobre mim, ainda temerão que eu tenha um bebê ruivo. Será que foi assim que Gilbert se sentiu sobre a mãe?

— Anne? — pergunta Gilbert do outro lado da porta.

Será que valeu a pena virar princesa? Sempre, até a minha morte e depois dela, vão me julgar pelas atitudes de outra pessoa e eu sabia disso quando subi na carruagem de Cole naquela noite.

— Quero ficar sozinha. — digo baixo.

Ele, mais do que ninguém, sabia da necessidade que temos de vez em quando de ficarmos sozinhos. Não precisei escutar a porta do quarto fechando para saber que ele saiu. Gilbert sempre estará comigo quando precisar e me deixará sempre que pedir, assim como eu por ele. 

Sinto que esse lugar me sufoca. A França. O castelo. O meu corpo. O nome que carrego.

Sempre será assim, não posso mudar isso. Preciso me adaptar ou aceitar a morte.

A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora