A Falsa Prometida - Shirbert

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Ignorei as duas meninas o caminho todo, não era obrigada a conversar com essas duas sem noção, seria um dia de viagem, chegaremos no castelo na próxima noite.

Ruby Gillis e Josie Pye parecem duas garotas ricas e supérfluas que não pensam em nada mais além desse papel que terão que interpretar pelo resto da vida caso a Rainha as aceite.

Não acho que me daria bem como herdeira de um reino inteiro, sou melhor com livros e imaginação.

-Me contaram que a princesa estava noiva antes de adoecer, o noivo está vindo para cá e... ele é o príncipe da França... -disse Ruby ficando com o rosto vermelho.

-O que? -perguntei digerindo a palavra noiva.

-A princesa Cordelia estava noiva do príncipe da França, por acaso é surda além de ruiva? -disse Josie Pye com deboche.

-E você, é burra além de loira? É impossível que esse casamento não tenha virado fofoca, são seis meses de barco. -digo levantando o rosto.

-Ele está no mar a cinco meses e não tem como saber que a princesa morreu. Acho que esse é o principal motivo de quererem uma substituta.

-O que vocês ganham fazendo a de atriz pelo resto da vida? Sejam sinceras.

-Quero me casar com o príncipe. -disse Ruby sorridente.

Josie apenas me ignorou, fazendo cara de nojo e negando com a cabeça.

Não incisti, ela poderia muito bem ficar com esse papel de rainha perversa até a morte, não quero essa praga para mim. Só quero esse lugar na corte e mais nem um dia passando fome.

Menos de uma hora depois eu já não aguentava mais escutar elas falando de vestidos, do príncipe e de como a corte deveria ser.

Dei dois tapinhas no teto da carruagem e Cole parou os cavalos, desci na mesma hora.

-O que está fazendo? Pode ir dormir, ainda faltam horas para acabar a viagem. -disse ele assim que subi no banco do condutor e me sentei ao seu lado.

-Antes dormir com mosquidos do que com as duas. Uma ignorante e a outra estranha.

-E eu sou o que?

-Você é a única opção. -digo cruzando as pernas- Me diga sobre sua Lady Josephine Barry. -digo fazendo um sotaque forçado.

-Ela é minha mentora.

-Porque ela seria?

-Ela tem os motivos dela. -disse franzindo as sobrancelhas.

-O que ela te ensina?

-Economia, ela faz as melhores festas de toda a Escócia e ganha muito dinheiro com isso. Está me ensinando.

-Interessante. Me conte sobre sua vida.

-Eu é que deveria perguntar, das três acho que você tem mais potencial. -disse Cole a olhando de relance.

-Pareço uma dama? -perguntei ajeitando a postura e bebendo chá de uma xícara invisível.

Cole riu:

-Não, mas as duas não parecem o tipo de garota que o príncepe gostar.

-Por falar nesse príncipe. Que história é essa de casamento?

-Essa era uma questão a ser dicutida com a Rainha, mas as garotas ali falam de mais; a questão é que a princesa estava noiva antes de adoecer e não há nem um parente próximo que tenha idade para se casar com ele, por isso a substituição. -disse Cole guiando os cavalos enquanto o sol nascia.

-Como sabe o tipo de garota que o tal príncipe gosta? -perguntei desinteressada.

Cole demorou alguns segundos desenvolvendo uma resposta para assim dizer:

-Vamos dizer que eu pesquisei sobre ele para a princesa. Seria um casamento horrível.

-Ele é tão ruim assim? -perguntei passando a mão no rosto.

-Ela era ruim assim. -corrigiu Cole com o olhar sujestivo.

-Conheceu ela? 

Que pergunta idiota, é claro que sim.

-Conheci, mas nunca fomos amigos, apenas nos esbarrávamos nas festas da corte.

-Na minha vila diziam que ela era a personificação do pecado. -digo me lembrando dos vagos comentários da senhora Rachel nos dias que limpava a casa dela.

-De fato; muito bonita, esnobe e ignorante. -disse Cole mais baixo.

-Mais algum comentário? -perguntei sorrindo.

-Não que eu deva dizer em voz alta.

Nós rimos das possibilidades.

-Como vai funcionar isso exatamente? -perguntei enfim.

-Não sei direito, mas as três vão pintar os cabelos de preto, para parecerem com a princesa e aprenderão como agir na corte, não sei como a Rainha vai escolher entre vocês, nem como será com o príncipe quando ele chegar. O casamento já está sendo preparado.

-Eu só quero um lugar na corte e mais nem um dia de trabalho. -digo suspirando enquanto o sol emergia a minha frente.

-Você trabalha com os músculos dos braços, na corte eles trabalham com a língua.

-Terei que me transformar em uma fofoqueira para ganhar dinheiro?

-Não necessariamente, mas sempre é bom saber da vida dos outros.

-Nunca imaginei escutar isso de um Lorde! -digo rindo um pouco.

-Não espere escutar de outro, sou diferente dos outros lordes.

-Isso seria algo bom ou ruim? -perguntei me recostando no acento.

-Depende de com quem falo; no seu caso, sim. -repetiu minha palavras de antes me fazendo rir.

-Um piadista e fofoqueiro, quais são seus outros segredos, milorde. -digo com ironia.

-Também sou artista, muito bom por sinal. -diz sorrindo convencido.

-Pacote completo, você é legal Lorde Cole. -digo dando um leve empurrão no mesmo.

-Me diga sobre você, Anne Shirley. -disse sorrindo.

-Sou apenas uma órfã com a esperança de um tolo. 

-Seja mais específica.

-Meus pais morreram há quatro anos, me viro sozinha desde então com a esperança de me tornar curandeira. -digo dando de ombros.

-Sinto muito por seus pais...

-Gosto de ler, mas minha leitura não é uma das melhores, não tenho muita prática por conta do trabalho e parei de estudar. -tentei mudar de assunto.

-Vai gostar da bblioteca do castelo,