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Maratona 1/3

— Não fala assim com ele, Gil. Coitado. — tiro suas mãos do meu rosto e o puxo para se sentar ao meu lado — Acho que temos que resolver essa briga agora. — puxo Denis para se sentar ao meu outro lado.

Ele se senta o mais longe que pode de mim, agora ainda mais vermelho.

— Pelos Deuses, Denis. É só um espartilho. — resmunga Josie — Acho que vou sair, ver quanto a rainha está brava. — sai fechando a porta atrás de si.

— Não tem briga nenhuma para ser resolvida — Gilbert se levanta —, agora podemos ir embora? 

— Senta. — puxo ele.

— É verdade, Delia. Tá tudo bem. — insiste Denis.

— Então porque sinto que tem algo de errado?

Eles ficam em silêncio.

— Vão me contar ou não?

Denis olha para Gilbert, como se buscasse uma saída, e o mesmo revira os olhos e exala o ar dos pulmões.

— Fala. — diz Gilbert.

Alguns segundos depois Denis começa a falar.

— Quando eu tinha dez anos nosso pai morreu, Gilbert treze. Eu sempre fui mais próximo da nossa mãe e, mesmo que eu também tenha ficado muito mal, sei que ele sofreu mais. Depois disso ele começou a me tratar muito mal e me afastar de tudo. Não sei o porque, só sei que aconteceu. 

— Gilbert! — olho para ele.

— É verdade, mas no começo não foi de propósito.

— Como assim? — ele pergunta.

— Mamãe começou a me cobrar muito, eu sou o herdeiro do trono e o planejado era que eu assumisse o reino com dezesseis, mas nada que eu fazia era suficiente — olhou para mim —, já te contei isso. Mas tudo o que você fazia, por mais tosco que fosse, era excelente para ela. Eu sempre me lembrava de mim e do pai quando te olhava com ela, era assim comigo também. Então eu comecei a pensar em como você lidaria com a morte dela, desde que eu nasci fui criado para esperar a morte do nosso pai e você viu como eu fiquei, você nunca precisou disso, não é o herdeiro. Sempre se preparou para a minha morte, porque caso eu não tenha filhos você assumirá tudo. Acho que meu inconsciente me afastou de você, tanto por inveja pela sua relação com a mãe como por cuidado para não te fazer sofrer.

— Isso não tem lógica! — disse Denis chorando.

— Nossos pais não planejavam ter um segundo filho — continuou, ignorando o protesto de Denis —, só tiveram você porque eu pedia um irmão desde que aprendi a falar. Todas as merdas que você passar vão ser culpa minha, se não fosse por mim você nem existiria, me perguntava se eu havia te condenado. Porque se eu tivesse como escolher, na época — me olha por alguns segundos e se volta para o irmão —, teria negado, então quem era eu para pedir que outra pessoa faça o que eu não queria para mim?

Eu não deveria estar aqui, sinto que sou uma intrusa numa conversa muito pessoal.

— Você tinha catorze anos. — disse Denis com a respiração fraca.

—Sim, então me afastei ao máximo. Sempre que te tinha por perto pensava nisso e acabava descontando isso em você. Na verdade acho que penso assim até hoje, mas estar com Cordelia me faz parar de pensar em coisas ruins. — segurou minha mão.

Eu deveria falar alguma coisa?

— Eu te amo. — disse Denis para Gilbert — E não te culpo por nada de ruim que já aconteceu comigo, todas foram consequências de decisões que tomei.

— Eu também te amo. — disse Gilbert.

Me levantei, eu realmente não deveria estar aqui. Mas o clima estava tão pesado que esqueci do espartilho solto e quando me levantei o vestido quase caiu.

— Cordelia! — disse Denis, com vergonha.

— Acho que você tem que ir para o quarto se trocar. — disse Gilbert ao meu lado, enquanto colocava o próprio casaco fino sob meus ombros e fechando os primeiros botões para que não caísse.

Vou fazer uma maratona hoje, mas dificilmente terão capítulos novos essa semana. Também pensei em fazer um spin off da Whinni quando AFP terminar, mas é algo que ainda não tem planejamento, só uma ideia, o que vocês acham?


A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora