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Maratona 3/3

Não vou procurar por Gilbert agora, isso é algo que devo encarar sozinha. Não aceito sair dessa porcaria de país até ter certeza que nada que eu faça vá mudar a cabeça de Marila. Não esperei ser anunciada antes de abrir a porta do quarto dela.

Não vou deixar isso me matar.

— Veio se desculpar? — pergunta a rainha.

Ela estava sozinha, o que era bom.

— Não. Não vomitei de propósito e não vou me desculpar pelo inconveniente porque você não fez isso quando era a minha vez.

Ela me olhou de cima a baixo. Passei horas no banheiro, mais do que queria para ser sincera, mas em momentos como aquele não tem como prever nada. Ainda não estava cem por cento disposta a enfrentar a mulher na minha frente, as mãos ainda tremiam e minha respiração não estava regulada completamente, mas preciso fazer isso agora.

— O que veio fazer então?

— Saber qual o seu problema comigo.

Desde que pisamos na França evitei usar uma tiara, sei que é meu direito como princesa colocar a maior que encontrar na cabeça, mas achei que sua falta poderia ser interpretada como respeito á rainha. Por isso agora estou usando uma.

— Nenhum, querida. E mesmo se tivesse não posso fazer nada sobre eles.

— Delphine me contou o que você falou sobre mim.

Eu não sabia, mas fingir saber pode me fazer descobrir.

— E o que ela falou?

— Você sabe muito bem o que disse.

Ela levantou as sobrancelhas, era a primeira vez que a respondi dessa maneira.

— O que te fez querer me enfrentar assim? Isso beira o desrespeito.

— E me mandar embora depois de vomitar em público beira a crueldade.

— E você esperava que eu fosse fazer o que? Perderia o meu respeito como rainha se me abaixasse para te ajudar.

— Você perdeu o meu por não fazer isso. E eu só sou uma.

Ela sorri, como uma mãe que escuta uma pergunta idiota de uma criança.

— Você ainda vai aprender muito, Cordelia. O mundo não é um conto de fadas. Se não pode mudar o mundo, se adapte a ele.

— Como rainha você pode mudar o que quiser, não muda porque não quer.

— Não mudo porque pessoas dependem de mim e o meu erro afetará uma população, justamente por ser rainha. A sua esperança e vinda até aqui, para me enfrentar, foi significativa, mas se recusar a me escutar demonstra ignorância.

Não sabia o que responder. Depois de algum tempo ela volta a falar.

— A minha maior preocupação são os meus filhos. Meu reino pode desmoronar se isso os salvar. Você um dia vai pensar assim, caso tenha filhos, só espero que encontre maneiras me evitar que os dois desmoronem. Pelo pouco que sei sobre você não sei se sacrificaria um reino pelo meu filho.

Cordelia me persegue. Tinha medo dela me assombrar, mas agora tenho certeza de que o faz.

— Eu daria a minha vida por ele.

— Se você diz... Só saiba que eu nunca vou deixar de te observar e no primeiro deslize vou tirar o meu filho de você.

A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora