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Maratona 3/3

Dois criados abrem as enormes portas de carvalho da sala de refeições. Gilbert está relaxado e não dá a mínima para sua mãe, sentada na cabeceira da mesa longa e farta, apenas anda até a outra cabeceira e se senta sem o menor recato na cadeira.

— Gilbert Blythe. Não vai falar com a sua mãe? — perguntou a mulher, a qual eu não via o rosto por ter me mantido na entrada.

— Oi, mãe. — ele disse olhando para a mesa, procurando algo — Não vai se sentar? — olha para mim.

Mesmo nervosa, até mais depois dessa postura de Gilbert, começo a andar e só paro quando estou de frente para a rainha.

— Bom dia, sou Cordelia. — digo sem conseguir a olhar nos olhos, sinto minhas mãos suando.

— Achei que se casando ficaria mais maduro. — disse Marila olhando para o filho, que agora apoiava os pés numa cadeira — Pelo menos teve a decência de se trocar.

— Não fiz isso por você, foi Cordelia que pediu. — disse fazendo careta.

Só então ela me olha.

— Não vai sentar? — perguntou firme.

Não sabia se deveria sentar perto dela ou de Gilbert, mas Marila me dava medo o suficiente para a escolha se tornar mais fácil. Me sentei ao seu lado, na cadeira vaga que ele não apoiava os pés. Mantive as mãos no colo, não acho que consigo comer nada com a garganta fechada como ela está.

— Como machucou o braço? — perguntou Marila vendo um pouco do curativo de baixo das roupas e a faixa que imobilizava meu pulso.

— Um animal me mordeu. — digo sem querer puxar esse assunto agora.

— Um dragão mordeu ela, na verdade, enquanto salvava Delphine de um sequestro. — disse Gilbert colocando doces e mais doces no meu prato, mesmo comigo o olhando para tentar fazê-lo notar que queria que parasse.

— Certo. Isso não seria trabalho para um homem?

— Eu posso fazer muito mais do que um homem se eu quiser. — digo olhando para o meu prato, mas mantendo minha voz firme.

 Ela dá uma risada anasalada.

— Se você diz.

— Ela pode e fez. — afirma Gilbert — Por falar em Delphine, onde ela está?

— Quis mostrar algo nos estábulos para a avó, tomaram café da manhã mais cedo.

Coitada daquela mulher, vai ter um infarto.

— E tio Mathew?

— Pedi que fosse com Delphine.

— Então não preciso continuar aqui esperando por quem não vem. — se levantou — Acho que já vou.

Ele não vai me deixar aqui, de jeito nenhum. Mesmo com as mãos suadas seguro a barra da sua calça quando ele se vira para sair e ele para, se não cairia, então me olha.

— Fique. — digo baixo.

Ele me encara por alguns segundos antes de se sentar novamente. Marila observava a situação com curiosidade.

— Você é assim todo o tempo ou só quando está comigo? — pergunta Marila com uma sobrancelha levantada.

— Eu sempre sou assim.

— A anos você não me obedece e quando ela te pede você faz. Se conhecem há quanto tempo? Dois, três meses no máximo? O que ela tem que eu não tenho?

— Já chega. — ele se levanta e quase derruba a cadeira ao fazer isso.

Não dou a mínima para a rainha na minha frente quando me levanto e corro atrás de Gilbert.

A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora