A Falsa Prometida - Shirbert

27

Acordei no meio da noite sentindo o colchão áspero pela falta do lençol, minha pele estava vermelha pelo contato frequente no áspero colchão.

Não deveria passar das 5h da manhã, mas eu estava sem sono algum, mesmo com o dia exaustivo e extressante, parecia que as poucas horas de sono que tive foram suficientes.

Gilbert não estava ali, nem perto, então não me incomodei em fazer silêncio quando procurei por uma vela na gaveta da mesa de cabeceira.

Liguei a mesma com um fósforo e a levei na mão em direção ao banheiro e os sofás.

Estava frio mas eu havia suado e minhas mãos grudavam no tecido da camisola.

-Está tudo bem? -disse uma voz rouca vindo do sofá.

Lá estava o herdeiro da França, deitado em um sofá florido com nada mais que uma coberta fina e uma almofada de crochet.

-O que estás fazendo aí? Não foi para seu quarto?

-Não se espera que eu volte para aquele quarto tão cedo, Cordelia. É a primeira noite.

A luz da vela em minha mão era fraca de mais para ver o rubor em meu rosto e eu agradecia por isso.

-Eu deveria pedir um cobertor melhor para você.

-Não, se souberem vão suspeitar. -disse tranquilamente se sentando- O que está indo fazer?

-Não sei, estava suando, pensei em tomar banho.

-Mas está muito frio, Cordelia. Vai acabar adoecendo. -se levantou segurando o cobertor sob os ombros.

-O que eu faço então?

-Vou fechar as janelas e você toma banho. Não está com sono?

-Não.

[...]

Gilbert me deu toda a privacidade possível e me ajudou a colocar a água na banheira já que não queríamos acordar os criados.

Ficamos horas conversando, ele disse que acabei tirando o sono dele depois da primeira pergunta.

Eu ainda sentia que ele evitava sorrir para mim, mas não o culpava, ele acreditava que eu era Cordelia, a garota que enforcou uma criada sem motivo plausível, e não eu. Anne.

Mas Gilbert se divertiu, ria de vez em quando.

Mal percebemos quando o sol começou a nascer e imumdou o quarto com luz azulada e laranja.

Só paramos de conversar quando uma criada entrou e nos viu dividindo o cobertor fino, sentados frente a frente de pernas cruzadas em cima do sofá florido.

-Desculpem interromper, mas o senhor Sten me pediu para avisar que partirão em uma hora.

-Obrigada. -digo com um sorriso no rosto.

-Vai ser bom voltar lá. -disse Gilbert quando as portas se fecharam.

-Você vai ter mais privacidade, imagino.

Gilbert pareceu confuso.

-Como assim?

-Para passar mais tempo com ela. Disse que não queria se separar de Lady Whinnifred.

Ele pareceu ofendido e quem fixou confusa fui eu.

-Quando eu disse isso, Corelia? -indagou incrédulo.

-Quando eu te perguntei sobre a viagem.

-Eu me referia a Delphine, obviamente! Whinni queria nos dar mais privacidade sabendo que Delph vem te visitar com frequência mas eu não queria me separar da minha afilhada. Viajar para o país preferido de Delphine seria uma maneira plausível de continuarmos no mesmo lugar sem que ela fique no seu pé! -disse ríspido se levantando.

-Eu...

Não sabia o que falar, não tinha o que dizer também.

-Depois de ontem, das últimas horas que passamos juntos... Mesmo que não tenha havido nada de mais, achei que mudasse algo para você. Se minha amiga e se eu tivesse algum caso teria lhe contado por respeito a minha esposa.

Gilbert pegou seu casaco, o mesmo que nos casamos na noite anterior, o mesmo que estava manchado de sangue para encobrir nossa trapaça. Então saiu batendo a porta e resmungando algo sobre se vestir para a viagem.

Era complicado para mim, se estivesse em seu lugar me recusaria a me apaixonar por Cordelia. Ela era horrível.

Não conseguia entender o porque dele sequer tentar ser amigo dela considerando os feitos horríveis de Cordelia.

Sendo ele nem me olharia nos olhos por nojo.

Ele deveria ter nojo de mim.

Nojo de Cordelia.