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Não tivemos escolha a não ser pedir a ajuda de Zein, depois de perguntar para as pessoas na rua onde ele morava, entramos sem bater.

-Zein! -berrou Gilbert ao abrir a porta.

Eu estava atrás, os sapatos e o vestido pesado não eram nada convenientes para uma corrida.

-Ela sumiu. -ele disse entrando, e pude me deslumbrar com a cena de Zein e Whinni no sofá da grande sala.

-Quem sumiu? -perguntou Whinni se levantando.

-Delphine... Um homem e uma mulher entraram na casa dizendo serem vizinhos -respondi- Gil e eu saímos por um breve momento e quando voltamos eles não estavam mais lá.

Zein praguejou um palavrão e se levantou saindo da casa.

-Quando você voltou? -perguntou Gilbert a Whinni- Estivemos tão preocupados nesses dois dias...

-Faz menos de uma hora, iria avisar vocês agora mesmo que...

-Se não tivesse vindo para ver Zein antes de nos avisar, Delphine não teria sido sequestrada! -disse Gilbert completamente enfurecido- E você não deveria ter deixado estranhos entrarem! São duas inconsequentes!

Ele estava tremendo enquanto passava as mãos no rosto.

-Sinto muito, vou ver se posso ajudar Zein a encontrá-la. -disse antes de sair.

Me aproximei de Gilbert sabendo que desespero apenas atrapalharia na nossa busca, assim que o olhei de frente notei sua respiração ofegante.

-Não fique assim, vamos encontrar Delph. -digo colocando a mão em seu peito.

Ele estava frio, sendo que era um dia quente, ao contrário de onde se localizava o clã Rose, o qual era muito frio, aqui era o mais próximo de algo tropical que já pisei. As pontas dos dedos estavam normais na aparência, mas assim que os toquei senti como se tivesse mergulhado minha mão na neve.

-Me deixe sozinho. -disse se desviando do meu toque.

Ele tocou os cotovelos, como se estivesse segurando um bebê, mas a forma firme que tentava parar a tremedeira mostrava como ele estava descontrolado.

-Vá embora, por favor. -disse ríspido.

Ele se sentou numa poltrona de costas para mim e de frente para a lareira á muito tempo apagada. Pensei em dar o espaço que ele pedia, nunca vi alguém começar a agir daquele jeito, mas também não sabia como isso poderia afetá-lo. Então não o deixaria só.

-Ei... -digo com a voz mais calma que consegui enquanto me aproximava- Vamos encontrar Delph

-Saia. -ordenou me fazendo parar automaticamente.

Lembrei inevitavelmente do marido de Rachel, quando eu estava limpando a lareira e Rachel chegava no escritório para falar com o esposo, ela se dirigia a mim da mesma maneira, com o mesmo tom.

-Sou seu marido e estou mandando que saia daqui. -complementou logo depois com a voz irregular.

Ignorando o que ele disse me andei até parar a sua frente, ele estava encolhido na poltrona, a testa sob os joelhos e abraçando o próprio corpo, era a visão de um príncipe que muitos esqueciam que ainda era humano.

Me ajoelhei a sua frente, assim como fiz com Delphine um dia quando ela se machucou enquanto brincava.

-E você é meu marido, jurei que ficaria com você na saúde e na doença, não quebro minha palavra.

-Foi Cordelia que jurou, pelo menos esse era o que todas as testemunhas achavam. Inclusive eu. -disse baixo sem fazer nenhum movimento a mais do que os involuntários tremores.

Aquilo foi ainda pior do que a ordem que ele deu há poucos segundos.

-Se para ter o direito de me preocupar com você precise ter esse nome então, por favor, me chame de Cordelia. -digo ficando de joelhos e tocando seu ombro.

Ele estava chorando, isso era óbvio antes mesmo dele finalmente me olhar.

-Saia daqui, por favor. -disse, agora, como se eu o estivesse torturando.

-Quero te ajudar, não me faça ir. -digo movendo minha mão de seu ombro ao rosto.

Ainda tremia, mas mesmo assim tocou minha mão enquanto ainda chorava, então vi o que em nem um milhão de anos teria suspeitado.

Haviam novas meias-luas sob os pulsos até os antebraços, ou até onde minha visão de canto de olho conseguia me proporcionar, ao contrário das que vi antes, elas estavam avermelhadas, recém feitas e inchadas o suficiente para que eu saiba que em pouco tempo abririam e formariam uma casca em vermelho escuro.

-Gilbert... -digo sem conseguir evitar o choque.

Fui tão burra, tão idiota em não perceber isso antes.

-Não queria que me visse assim...  Só aconteceu uma vez desde que cheguei na Escócia, quando fomos a caverna dos dragões.

-O aniversário da morte do pai de Delph. -digo baixo, o fazendo chorar ainda mais.

-Sim, mas pude evitar que você visse. Quando a vi passar me forcei a desacelerar, então me acalmei e fui atrás de você.

-Eu nem percebi... -digo triste.

-Não tinha a obrigação de perceber, agora por favor saia daqui.

-Já disse que não vou sair. -me levantei e me espremi ao seu lado na larga poltrona de Zein.

-Anne... -disse com a voz ainda mais chorona.

Peguei sua cabeça e a coloquei contra meu peito enquanto acariciava seu cabelo e costas tentando o acalmar. Não tinha a menor noção do que fazer, mas iria tentar, mesmo que eu mesma não estivesse em meu estado perfeito de calmaria.

Delphine havia sido sequestrada.

Reta final

A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora