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Passamos os dias seguintes como camponeses e acabei sentindo vários deja vus dea minha antiga vida, graças aos deuses Delph acordou hoje de manhã, estava atordoada e com muita fome mas, tirando isso parecia, perfeitamente bem, o que acalmou a mim e Gilbert.

Zein disse que ficaríamos aqui por pelo menos uma semana, ou até ele ter certeza que Whinni havia resolvido as coisas, mandou um homem nos entregar uma bolsinha recheada de moedas com a mensagem de que aquilo deveria ser o suficiente para nos manter naqueles dias e que, para não levantar suspeitas, não voltariam a se ver antes de voltarem para o clã Rose.

Acontece que Gilbert gastou metade do nosso dinheiro com vitaminas para Delphine, dizendo ser apenas uma precaução.

Fomos obrigados a inventar algo para ganharmos algum dinheiro, era apenas nosso segundo dia e não teríamos comida se contássemos com o pouco valor que sobrou.

Gilbert conseguiu um dinheiro ajudando os vizinhos em trabalhos ao ar livre, como mover caixas ou ajudar com as colheitas, ele havia saído fazia meia-hora e já estava me sentindo inquieta, me lembrei de como era a vida de Anne e me angustiou não estar fazendo nada. Delhpine lia em voz alta e demorada um livro que encontramos na casa, travava as palavras e as vezes lia errado, mas era bonito vê-la tentar, estava se saindo muito bem considerando que não era sua língua nativa.

-Quer comer alguma coisa? -perguntei a Delphine que não tirou os olhos do livro ao negar com a cabeça.

Peguei farinha, ovos, açúcar e canela e comecei a cozinhar para ocupar a mente.


....


Eu estava abaixada, colocando mais madeira no fogo do fogão quando escutei uma batida na porta. Limpei as cinzas das mãos no avental que encontrei dentro do armário de suprimentos, Delph continuava a ler seu livro em voz alta.

Mesmo com o cabelo quase caindo do coque e o rosto vermelho pelo esforço, fui abrir a porta, deveriam ser apenas garotos pedindo um copo d'água ou um vendedor ambulante. Uma mulher de cabelos tão alaranjados como os meus, ou talvez ainda mais, estava na porta, com um homem, provavelmente um irmão ou primo devido as semelhanças, ambos com sorrisos no rosto.

-Bem vinda a nosso clã! -disse a ruiva estendendo uma torta salgada nos braços, o que só então percebi que ela segurava- Sou Lila e esse é meu irmão Lion, moramos na casa ao lado. -indicou com a cabeça.

-Oi... Não esperava visitas.  -limpou o rosto com a parte de dentro do avental para evitar a fuligem que acabara de limpar das mãos.

-Eu disse que deveríamos ter avisado. -disse Lion ao lado da irmã.

Enquanto Lila tinha os cabelos vermelhos como uma laranja, o irmão tinha o cabelo quase da cor vermelha de tão escuro, Anne estava realmente chocada, tirando a mãe nunca havia conhecido outras pessoas que os cabelos não fossem loiros, pretos ou castanhos.

-Entrem, por favor. -disse abrindo espaço.

-Sentimos o cheiro de bolo e não resistimos! -revelou Lila- Nossa mãe sabia fazer bolo, mas não nos ensinou a fazer antes de partir, sempre que tentamos acabamos criando mais uma espécie de tijolo. -Anne riu.

-Querem um pedaço? Já está quase pronto.

-Quanto custa? -perguntou Lion enquanto a irmã observava a casa simples.

-Não... Não estou vendendo.

-Por esse cheiro conseguiria cobrar a fortuna de um príncipe só pelas migalhas. -disse Lila se sentando a mesa, só então notando Delphine que estava esparramada numa poltrona com o livro em mãos, mas agora lendo em silêncio- Olá, gatinha. Qual seu nome?

-Delphine. -disse sem olhar a visita.

-Delph, seja mais educada. -exigiu Anne antes de ir a cozinha, que era separada do resto da casa apenas por uma longa parede.

-Desculpe. -escutou Delphine dizer.

O bolo já estava pronto e enquanto escutava a conversa na sala tirava o bolo da forma, sabia que deveria esperar esfriar antes disso, mas tinham visitas e não tinha mais nada apresentável a oferecer além do bolo quente.

Escutou alguém abrir a porta da frente.

-Anne... -era Gilbert, o qual parou de falar de repente.

Com o bolo fumegante no melhor prato que ela encontrou, ela saiu da cozinha, se deparando com Gilbert completamente encharcado de suor observar Delphine conversar com os vizinhos parecendo nada satisfeito.

Assim que viu a esposa relaxou um pouco mais.

-Anne, o que...

-Lila e Lion, esse é meu marido. Gil, esses são nossos vizinhos. -disse o interrompendo e pondo o bolo, que graças ao céus não desmoronou.

-É um prazer, acabamos de chegar, desculpe pelo horário inconveniente. -disse Lila apertando a mão de Gilbert.

Ele não disse nada, apenas fez um aceno com a cabeça e manteve o semblante sério.

-...E então o menino vira um porquinho da índia e a menina fica perdida sem saber qual dentre todos os porquinhos é o amigo. -disse Delph, provavelmente complementando o que estava falando antes de ser interrompida.

-Achei muito legal. -disse Lion- Depois quero ler esse livro.

-Anne, podemos conversar as sós?

-Claro. Se quiserem um pedaço do bolo podem se servir, já voltamos. -disse Anne antes de seguir Gilbert até o quarto.

Ela encostou a porta fina.

-Dois dias depois de sermos atacados você aceita estranhos na nossa casa?! Imagine se eles lhe atacassem? Um homem e uma mulher contra você e uma criança, ainda bem que cheguei a tempo.

-Lila e Lion não parecem pessoas ruins, moram aqui do lado, e Zein não aceitaria qualquer um aqui. -justificou Anne cruzando os braços.

-Aparência não diz nada sobre ninguém, eles podem não parecer mas ainda tem chance de serem pessoas ruins.

-Qual o objetivo dessa conversa?

-Não aceite ninguém na casa sem que eu esteja aqui, por favor.

-Sei me defender.

-Também sei disso, mas é menos perigoso se estivermos juntos.

-Tudo bem. Conseguiu algum dinheiro?

Gilbert estendeu o a mão e mostrou algumas moedas de cobre e prata, sua pele havia ficado mais bronzeada desde anteontem, havia passado pelo menos doze horas exposto no sol, o que deixou ainda mais aparente suas cicatrizes de meia-lua nos braços.

-Que bom, ainda acho que era desnecessário gastar todo aquele dinheiro com as vitaminas, Delph está bem.

-Não iria arriscar. -disse Gilbert pondo o dinheiro nas mãos da esposa- Acha que é o suficiente até irmos embora?

Era o suficiente para duas refeições por dia até o prazo médio dado por Zein, excitante ela concordou.

-Vai servir.

-Vamos voltar para lá. 

Gilbert abriu mais a porta, mas não se moveu, a sala era um pequeno cômodo que podia ser visto por completo de qualquer canto da casa, inclusive as pessoas que a ocupavam.

Anne achou que Delph havia convencido os vizinhos a brincar de esconde-esconde, porque ninguém estava na sala de poucos móveis independente da direção que olhasse. 

A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora