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Maratona 1|3

O caminho de volta para o clã Rose foi uma das maiores agonias sociais que já senti, e mesmo não tendo experiências extraordinárias durante a minha vida era óbvia a energia pesada na carruagem.

-Desculpe, Whinni. Não foi culpa sua. -disse Gilbert pela primeira vez depois de muitas horas.

-Do que está falando? -perguntou Whinni sentada no banco estofado a nossa frente.

-Eu te culpei mais cedo. Não foi culpa sua, tinha o direito de ver Zein antes de nós, nossa amizade sobressai a hierarquia. 

-Tudo bem. Se tiver notícias aviso vocês. -disse e saiu da carruagem indo até a própria casa a poucos metros dali.

Ela sai antes de darmos uma resposta, era óbvio que ela estava tão angustiada com o rapto de Delphine assim como Gilbert e eu, mas o príncipe de sua corte a culpando por isso parecia tornar a situação ainda mais difícil, mesmo com um pedido de desculpas.

-Ela mudou tanto depois que saímos da Escócia. -digo tentando amenizar o clima.

-Ela não admite, mas não se sente a vontade na corte. É óbvio que ela prefere ficar aqui.

-Então porque ela foi? Não podia recusar o pedido de ser madrinha?

-Podia, mas era muito amiga de Mary, não sei direito como elas se conheceram, mas eram muito próximas. Whinni não tem muitas amizades e Mary foi a única que ela realmente confiou, depois que ela morreu no parto ela se recusou de voltar para cá, eu concordei é claro, ela era e ainda é a lembrança viva de Mary.

-Sinto muito por vocês dois.

-Ela e você são o mais próximo de uma mãe que Delph já conheceu, e ouso dizer que vocês duas a consideram uma filha.

-Sem dúvidas.

-Ela é a única filha que Whinni vai ter. -diz mais baixo.

-Como assim?

-Ela não pode engravidar, não acho que isso a afete tanto, mas a sociedade gosta de lembrá-la. O pai de Zein, quando ainda estava vivo, tentou cancelar o casamento deles por conta disso, mas morreu na viagem para Rose antes de terminar tudo.

-Sinto que conheço vocês, mas continuam sendo estranhos de algum jeito.

 Gilbert me olha pela primeira vez desde que entramos na carruagem, ele estava tão estranho, na casa de Zein estava me abraçando e depois se afastou, fez isso alguns dias atrás também.

-É impossível realmente conhecer alguém, todos guardamos segredos que nós mesmos desconhecemos e só os descobrimos com o tempo.

-Você me conhece. -digo- Pelo menos eu acho que sim.

-Também achava isso de Cordelia sem nunca ter trocado uma palavra com ela.

-Porque você é assim? Parece que quanto mais próximos ficamos mais você se afasta. -estouro.

Esse era o pior momento para ter essa discussão, mas era óbvio que nunca haveria um bom momento em nossas vidas.

-Deixe para lá. -digo depois que ele não responde.

-Não é fácil para mim, olhei para você por pelo menos uma semana inteira achando que era a desgraçada da Cordelia, não é fácil lidar com a morte do meu melhor amigo enquanto estou num altar prometendo fidelidade a alguém que odeio só por boatos.

-Todos nós temos problemas, eu tenho também e não é por isso que me afasto de você.

-Porque foi com Mackenzie para o castelo? O que deixou para trás? -perguntou mais calmo, tentando evitar que briguemos.

Mas eu queria brigar.

-Não tinha nada a perder, além do meu nome, é claro, mas a chance de Prissy me escolher era tão baixa que o risco valia a pena, pelo menos eu achava isso. 

Gilbert endireitou as costas, sentindo o veneno que estrategicamente coloquei nas palavras.

-Depois falamos sobre isso, você está brava por causa de Delphine. -desviou o rosto.

Então a carruagem parou.

Eu estava brava, e muito, ele estava me culpando, mesmo que não dissesse em voz alta, era óbvio, ele culpava a mim e Whinni. Desgraçado. Não tivemos culpa, e mesmo se tivéssemos seria sem querer, não justifica nos tratar tão mal. Como se fossemos estranhos.

A Falsa Prometida - ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora