Mesmo que relutante Gilbert aceitou tomar o banho antes de mim. Depois do tempo que passamos na carruagem, mesmo que por poucos minutos, foram o suficientes para me fazerem ficar com mal cheiro também, mas ele estava pior.
Enquanto a água era trocada para o meu banho e o barco desancorava do porto, eu estava olhando os livros que Gilbert trouxe conosco para a Escócia. Ele disse que se eu terminasse Orgulho e Preconceito nessa semana no barco eu poderia pegar qualquer outro de sua mala.
Havia uma variedade tão grande, uma mala larga e funda cheira de exemplares bem cuidados e praticamente sem desgaste, apenas o estufamento natural das páginas depois de tantas leituras e viagens.
Um em especial tinha chamado a minha atenção, O Cão de Baskerville, uma versão em inglês resumida em noventa páginas, o tipo de livro que o professor da sexta série nos obriga a ler para aprendermos a ler. Nunca li esse. Mas porque ele traria um livro tão pequeno para uma viagem tão longa?
— Gostou desse? — a voz de Gilbert soa atrás de mim.
— Porque você trouxe um livro tão pequeno? — pergunto folheando as páginas amareladas pelo tempo.
— Foi um presente da minha mãe. E é um livro muito bom.
— Porque não comprou uma versão normal? Duvido que ele seja tão curto.
— A versão completa é quatro vezes maior, mas tenho um apego emocional nessa.
— Por causa da sua mãe?
— Sim. É esse livro que eu leio quando sinto que posso surtar, além de ser um dos únicos presentes que ela me deu sem segundas intenções. Tá, isso soou estranho, mas quero dizer que tudo o que ela me dava de presente seja no natal, aniversário ou dia das crianças era para me tornar um rei melhor. Quando fiz dez anos ela me deu um dicionário.
— Eu posso competir com você nos presentes ruins. Quando fiz onze meu pai me deu uma faca.
— Eu adoraria ter ganhado uma faca no lugar de um dicionário.
Eu sorri.
— Ok, você venceu, um dicionário é pior.
— Eu disse que era, agora você precisa ir tomar um banho, está fedendo.
— Nunca imaginei escutar isso do meu marido.
— Pois acabou de escutar. — ele sorri.
As mangas da blusa de linho estavam dobradas até os cotovelos e pude ver as meias-luas sob seus antebraços enquanto ele fechava a mala de livros. Agora eu tinha iguais, porém sob as palmas das duas mãos.
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A Falsa Prometida - Shirbert
Fanfiction+13 (gatilho estupro, ansiedade, suicídio e auto mutilação) Ela assumirá o nome de um tirana poderosa e se casará por obrigação. Ele precisa decidir se vale amar alguém com um passado tão cruel. "Me chame de Cordelia" Início: 14/12/20 Fim: