Nenhum homem presta - Segunda parte do conto

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Quando eu tinha 8 anos me mudei de Foz do Iguaçu para Guairá. Fui morar com minha tia Alicia. Todos achavam melhor para que ficasse longe da minha mãe, para o meu bem e o dela. Eu não gostava de ficar longe dela e ter que saber noticias só por telefone e assim dentro de mim o ódio que sentia pelo meu pai só aumentava. Comecei a odiar os homens pensando que todos fossem que nem ele. Minha tia vivia dizendo que era normal todas as meninas falarem de como é nojento garota e garoto se beijando, mas que quando chegar à adolescência não vê a hora de dar o primeiro beijo. Pelo menos comigo ela estava errado. Nunca quis estar perto dos garotos. Por 10 anos um garoto tentou ser meu amigo, mesmo eu sempre dando vários foras nele e dizendo que não queria ele perto de mim, não me ouvia, todo o dia se sentava ao meu lado e quando o trabalho era em dupla vivia com esperança de que fizesse com ele. Quando ele fez 10 anos preparou uma festa do acampamento no jardim dele. A primeira pessoa a ser convidado fui eu. Ele ficava tagarelando o dia todo sobre o aniversário achando que eu estava prestando atenção e não vendo a hora de podermos estar juntos na festa. Eu já tinha deixado bem claro que não iria, mas no fim fui forçada a ir quando minha tia havia encontrado o convite.

- Mags vai ser bom para você fazer amigos e um acampamento parece realmente muito divertido. Já faz dois anos que você está aqui e te vejo tão sozinha. Brinque se divirta, porque no futuro você vai ver que esses foram os melhores momentos de sua vida. Não se deixe permitir que os erros dos outros a faça se afastar das pessoas.

Eu continuava não querendo ir, mas ela insistiu tanto que fui me arrumar e até havia comprado  algum brinquedo para que eu levasse. Deixou-me lá e disse que voltaria as 8 para me buscar, seriam 3 horas de puro tedio eu tinha certeza.

- Você veio! – disse todo animado.

- Sim e isso é pra você. Feliz Aniversario! – disse tentando demonstrar animação, mas acho que só conseguiu demonstrar ainda mais como estava sendo forçada a estar em uma festa de merda. Dei o presente de merda, a um aniversariante merdinha, já que era tão sem graça que nem chegava a ser um merda.

- Obrigada Mags e que bom que você veio. – disse sorrindo e pela primeira vez reparei que ele usava uma grade em seus dentes. Aparelho. Comecei a rir disso não sei por quê. E comecei a enxergar uma nova diversão para aquele dia e para todo o ano.

Naquela noite pela primeira vez fiz um homem chorar e me senti vitoriosa por isso. Eu os detestava e mereciam sofrer. Ele estava me mostrando à coleção de seus carrinhos e tinha um que era o seu favorito uma Lamborghini Gallardo Spyder. Nunca vou me esquecer de tanto que ele falou sobre ela durante esses longos anos ao seu lado. Foi o presente de seu padrinho que morava na Itália e sabia da sua paixão por carros, em todos os aniversários trazia um carro diferente e nesse tinha trazido a tal Lamborghini que tanta a idolatrava. Sem nem pensar eu a quebrei em pedacinhos. Então como uma criancinha começou a chorar até mesmo fungar ele fazia. Quando seus pais vieram ver o que estava acontecendo descobri que estava encrencada.

- O que aconteceu Derek?

- É que... – disse fungando. – eu acabei quebrando o carrinho que o meu padrinho me deu.

- Meu amor, tenha mais cuidado com suas coisas. Se as quebrar não as terá mais e não chore hoje você está se tornando um homenzinho. – beijou o topo da sua cabeça e foi embora com um leve sorriso para mim.

Ele tinha pegado a culpa para si mesmo, por quê? E não foi só naquele momento que fez isso por mim. Quando me encrencava na escola sempre estava lá ou dizendo ser cumplice, para assim o castigo não ser tão severo comigo, ou dizia que a culpa era dele. Seus pais ficaram indignados por terem que ir quase toda semana à diretoria, sendo que o filho deles sempre foi um ótimo aluno. Mesmo assim nunca deixei que se aproximasse de mim, nem conversar direito com ele fazia.

Foi um longo ano e fiquei com medo de poder repetir a 4ª serie, mas ele me ajudou a fazer alguns trabalhos sem nem ao menos ter pedido. No fim tudo tinha dado certo e tinha passado de ano. Graças a ele. Eu deveria ter gravado o nome dele, bem eu sabia qual era, mas não conseguia me ver o pronunciando. Derek. Era um nome estranho. Nome de garoto, eca!

Na 5ª serie uma garota nova apareceu na classe. Seu nome era Brenda. Uma garota de cabelos pretos nos ombros com olhos castanhos. Ela era da minha altura na época.  Sentou-se atrás de mim e tentou muitas vezes puxar assunto comigo. Vendo que eu não dava bola deixou pra lá. Até o dia em que a professora começou uma aula divertida em que nós escolheríamos um filme para assistir na sexta e nos duas dissemos Todas contra John ao mesmo tempo.

- Esse é meu filme preferido. - disse toda animada.

- O meu também. – disse querendo brigar com ela por ter o mesmo filme preferido que o meu. Isso nunca tinha acontecido antes. Amava como Kate, Carrie, Heather e Beth se juntaram para chutar a bunda do John e mostrar para ele como foi bom as ter traído e as enganado. Adorava ver suas vinganças e me fazia imaginar que faria as mesmas com os garotos da escola.

Por fim nós duas juntas insistimos para que a professora o passasse e depois de tanta insistência e promessa de bom comportamento. Através de figas que não valia nada. Tínhamos conseguido e de tão felizes estávamos fazendo uma dancinha estranha. Uma começou a rir da outra e assim começou uma longa amizade entre nós. Demorou mais uns 2 anos para lhe contar o que tinha acontecido quando eu tinha 5 anos e o porquê de odiar tanto os homens. 

Abraçada pelas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora