Capítulo 7

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Eu não conseguia acreditar que foi tão fácil assim. Não conseguia tirar da cabeça que poderia existir algo a mais nisso. Oh Haley não era o que você tanto queria? Então porque ficar pensando demais nisso. E então peguei meu celular e liguei para minha mãe:

- Oi mãe, como estão às coisas?

- Oi minha filha. Já faz uns dias que não me liga hein?  Estamos todos muito bem.

- Que bom, eu queria te contar que na faculdade iremos fazer um trabalho de dança para o festival e que irei dançar nele.

Minha mãe sempre amava as coisas que garotas podiam fazer. Antes de nascer ficava tagarelando para lá e para cá de como a menina dela seria- sem nem ver os exames ainda, - não havia duvidas de que sexo ela preferia. Mas eu estraguei muitos dos seus planos de mãe e filha, não sendo a menininha delicadinha que tanto queria. Sempre gostei mais de carrinhos e de jogar bola com meu pai do que brincar de bonecas e escolher vestidos. Com a separação dos meus pais e meu irmãozinho pequeno acabei madurecendo cedo demais. Entrei em um casulo, sem fazer contato com as outras pessoas por medo de me machucarem mais do que já estava. Mesmo estando em uma cidade grande não faz com que a língua das pessoas seja menor do às de cidade pequena. Muitos sabiam sobre como o meu pai estava lidando com as coisas e gostavam de me lembrar disso todos os dias. Era na escola, no parque, na minha rua. Sempre quando passava ouvia os bochichos delas, muitos sentiam pena e outras nos julgavam. Eu era só uma criança e não conseguia mais fazer amigos e enquanto crescia isso só piorava a cada dia me sentia mais fria e sem sentimentos. Com a adolescência todos começavam a namorar, mas eu não me interessava por nenhum daqueles garotos. Não podia negar que existiam alguns muito bonitos, contudo só conseguia apreciar a sua beleza. As garotas com seus 15 anos eram um porre de aturar todas cheias de frescurinhas aqui e acola, por conta de seus corpos, de como estava com uma espinha no rosto ou por causa de seus cabelos. Eu sempre revirava os olhos para elas. Mas havia uma que a minha vontade era de arrancar fio por fio daquele loiro de farmácia. Ela estudava comigo desde o jardim e sabia bem de todos os momentos em que passei.

Na minha escola iria ter um baile de primavera e todos estavam animadíssimos. Os meninos que queriam se aproximar das garotas para conseguir uma desculpa de ficar se esfregando nelas e as garotas querendo ver quem as chamaria para o baile para se exibirem. Eu estava pouco me importando com aquele maldito baile e se dependesse de mim nem iria. Minha mãe acabou sabendo dele e estava toda animada. Um de seus hobbies era a costura e já falava toda empolgada de como faria meu vestido. Eu senti um aperto no peito por vê-la daquele jeito. Sempre ficava sonhando com essas coisas de garota e eu não conseguia me interessar por elas. Por muitos momentos senti muito ódio do meu pai por ter destruído aquela família, porque ninguém mais foi o mesmo desde o dia em que foi embora.

- Meu Deus! Como será essa competição?- de novo eu ouvi a sua voz toda empolgada e naquele momento eu queria estar ali do seu lado.

- Será feita por casais. Que cada um irá sortear uma década ou um ritmo que não estava coincidindo com as décadas. Serão 20 casais dançando disputando o  1º lugar, mas o mais importante é que já faz alguns anos que este concurso não era realizado e nós esperamos trazer ele de volta para Guaíra.

- Ah minha filha que bela iniciativa. Mas me conte quem será o seu par?

Eu sabia que ela perguntaria isso. Queria tanto conversar com ela sobre o Nathan eu não sabia o que sentia por ele, o seu jeito tão conservador lembrava o do meu e hoje sei que o esse isolamento todo não é bom. Eu sentia uma necessidade de me aproximar, de entrar no seu mundo e mostrar que existem pessoas pelas quais se pode dar chance de deixa-las participar de sua vida.

Abraçada pelas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora