Capítulo 1

117 2 0
                                    

 Finalmente teria uma chance de poder ter uma vida nova. Agora com os meus 18 anos, em uma nova cidade, morando com meu pai depois de 9 anos sem vê-lo. Vai ser perfeito. Ou melhor, eu espero que seja perfeito. Só d e olhar para minha a mãe sabia o quanto ela ainda era contra eu ir, ele pode ter errado no passado, mas eu acredito que aprendeu com esse erro, mas uma decepção não pode ser apagada assim tão fácil da vida de quem foi a principal afetada.

Colocando as malas no carro e vendo pela ultima vez a casa que eu estou deixando para trás, as memorias que tanto me fizeram mal durante anos. Deparo-me com uma criança com a cabeça abaixada tentando disfarçar as lagrimas, seus cabelos pretos e olhos verdes, uma mistura do nosso pai e mãe tão perfeita me faz chorar por ter que ficar longe dele, mas sei que preciso disso. Então seco rapidamente meu rosto enquanto ele coloca a minha ultima mala no carro.

- Jay. – ele veio correndo com aqueles olhos cheios d’agua e me abraçou forte. – Eu estou indo pra casa do papai, mas eu não vou te deixar. Quando as férias da faculdade chegar eu venho te visitar.  Chora não porque odeio vê-lo assim. – disse tanto pra ele quanto pra mim.

Assentiu e voltou pra casa onde a Tia Kiera estava esperando por ele na porta com seus cabelos castanhos presos, em um lindo coque e uma roupa toda preta. Pergunto-me até quando minha tia vai ficar de luto por conta do meu tio Carlos, que Deus me perdoe, mas ele nunca foi um bom marido para ela e por conta disso deve estar no inferno.

Minha mãe entrou no carro e logo em seguida fiz o mesmo. Foi um longo caminho até a rodoviária e o silêncio dominava. Até que ela quis quebrar o silêncio.

- Você sabe que há boas faculdades aqui na cidade, não sabe?

Eu não queria discutir sobre aquilo de novo, eu até sabia que existia faculdades ótimas aqui, mas em nenhuma delas eu vou ter o meu pai. Só que não podia dizer isso já iria a magoar, contudo eu amo o meu pai inconsequentemente do que ele fez no passado. Eu sinto muito a falta dele, 9 anos sem vê-lo já foi tempo demais. Não quero ter que começar a minha vida adulta sem ele ao meu lado, a adolescência já foi difícil demais. Agora que sou maior de idade  preciso começar uma vida nova, sem que o passado me impeça.

- Me responde Haley, você ficou surda e muda agora foi?

- Não mãe, eu não fiquei surda e nem muda, mas que saco de nova essa pergunta?  Eu sei que aqui tem boas faculdades, okay? Mas eu quero... – Eu não podia falar do meu pai, ela iria pirar como sempre quando toco no nome dele.

- Fala! Mas você quer o quê?

Respirei fundo e tentei distorcer as palavras para que não houvesse mais discussão até a chegada da rodoviária.

- Mãe eu estou indo pra Guairá por conta de que eu quero mudar a minha vida, deixar pra trás as coisas ruins que aconteceram aqui e tentar ser feliz em um lugar novo, com pessoas novas, conhecer algo novo. Eu preciso disso agora mãe e realmente gostaria que você entendesse.

Ela já estava abrindo a boca para me responder, mas por alguma motivo se calou. E foi assim até chegar à rodoviária, levei meu olhar ao grande relógio pendurado na parede que mostrava 16:40, faltava só 20 minutos para embarcar no ônibus então nos dirigimos até a plataforma 15. Minha mãe voltou a falar:

- Filha... Eu só quero pedir pra que você se cuide lá e qualquer coisa me ligue pelo amor de Deus, nem ouse me deixar sem noticias suas.

- Okay, quando eu chegar à casa do meu pai eu te ligo para avisar que estou bem.

Ela me deu um sorriso discreto como resposta. Nesse momento chegou o meu ônibus, dei um abraço de despedida nela e entrei. Eu tinha ficado na poltrona da janela onde desde criança eu gostava de me sentar. Gostava de admirar as paisagens, de imaginar viver em cada parada de ônibus. Em ser uma fazendeira ou uma grande empresaria coisas de uma criança que gostava de fantasiar com um futuro que ainda era tão distante, mas que agora já estava aí. Uma grande jornalista esperava me tornar depois de 4 anos estudando.

Saindo de Porto Alegre, começou aparecer à área rural, vi lindos cavalos e me lembrava de como foi à primeira vez que cavalguei. Meu pai estava lá comigo dizendo que estava tudo bem que o cavalo não iria me machucar. Montei em um pônei já que só tinha 8 anos e não teria idade para um cavalo que ia lá ficava o namorando. Naquele dia fiquei cavalgando até tarde. Havia amado a sensação de estar no comando e livre, sentindo o vento em mim. No momento estava decidida a ter uma fazenda e ser cuidadora de cavalos. Estava tão feliz, como sempre ficava quando estava na presença do meu pai, mas que fora o ultimo que me senti completamente feliz. Depois tudo começou a desmoronar.

Sem perceber acabei caindo no sono sem perceber. Onde sonhava com um lugar que eu nunca tinha visto antes.

Nele havia um jardim florido, com um clima forte de primavera. Havia um rio pelo qual espelhava um rosto de um homem com seus vinte e poucos anos. Seus traços pareciam perfeitos naquele rosto, como se fosse uma pintura. Os olhos eram de uma cor tão azul quanto aquela água cristalina que ali o espelhava. Seus cabelos de um louro escuro e bem cortado. E como se eu tivesse feito algum barulho notara minha presença e estava olhando fixamente pra mim. Ele ainda estava longe, mas parecia estar tão perto já nem conseguia respirar, como se tivesse retirado todo o ar daquele lugar. Começou a caminha até a minha direção e parou por volta de poucos centímetros de nossos rostos estarem próximos. Tanto que qualquer movimento a mais nossos lábios se encontrariam. Ele estava com um sorriso tão cativante e me olhava de um jeito que eu nunca vi ninguém me olhar antes, que me hipnotizou já que não conseguia tirar os meus olhos dos dele. Ele se aproximou mais perto agora e estava inclinando seu rosto para o meu, agora meus olhos se fecharam e eu jurava que iria me beijar, mas não o fez. Ao invés disso disse uma palavra no meu ouvido.

 Quando abri meus olhos estava já despertada e não conseguia me lembrar do que ele tinha me dito. Mas lembrava-me exatamente de suas feições. De como nunca vi alguém tão bonito na vida, só que tudo era só um sonho. Que esse cara não existia e era um fruto da minha imaginação. 

Abraçada pelas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora