Finalmente maior de idade - Sexta parte do conto

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Agora já com 18 anos e hoje sendo o grande dia da formatura, estava me sentindo realizada. Acordei animada e fui até o guarda roupa. Tia Alicia havia comprado meu vestido sem que eu soubesse. Sua cor verde-água com bordados brancos no decote e de comprimento longo era perfeito. Não usava um vestido há anos, mas na formatura não podia fugir e minha tia ter escolhido era um favor para mim.

Ela estava na porta com um sorriso contagiante me olhando.

- Nem havia perguntado se tinha gostado, desculpe, estou correndo que nem uma louca com as coisas dos pacotes. – eu a abracei de surpresa e disse:

- Eu amei. Não esperava nada menos de deslumbrante quando me disse que iria comprar meu vestido e uau você se superou tia. Obrigada.

- Que bom que gostou. – ela ficou meio seria e eu sabia que havia alguma coisa que ela queria me contar. – Eu recebi uma ligação no dia do seu aniversário, mas não era exatamente para mim. Seu pai te ligou e tinha dito que queria falar com você. Eu perdi a noção de tudo quando ouvi sua voz e falei tudo estava entalado na minha garganta em todos esses anos. Disse que ele nunca mais iria te ver se dependesse de mim, contudo nesses dias isso não saía da minha cabeça. Eu não posso tomar suas escolhas, ainda mais agora que já é maior de idade e então eu peguei o numero dele na secretária eletrônica.

Ela me entregou o número e não sabia o que fazer com ele. Uma parte de mim queria rasga-lo pedacinho por pedacinho para que não sobrasse nada dele, mas a outra tinha vontade de ouvir mais uma vez a voz do meu pai e poder vê-lo. Eu encarava o papel e não conseguia tomar uma decisão.

- Eu sei que é difícil ter de decidir se é melhor deixar para trás ou de ir atrás, mas você não precisa escolher agora. Hoje é a sua formatura e não deve se preocupar com nada mais do que só com ela. Marquei o salão para nós arrumar depois do almoço e seu tio tem que ir buscar o terno na costureira. – ela me abraçou e disse. – Você não sabe a preocupação que meu deu em ficar pensando que não iria conseguir se formar com 18 anos. Sempre passando de raspão e com um seu comportamento impulsivo só piorava as coisas, mas não sabe o orgulho que me dá em ver a minha menina se tornando uma mulher hoje e graças a Deus formada.

Nós duas rimos e eu disse:

- Obrigada por tudo que fez por mim. Não é qualquer pessoa que iria aguentar cuidar de mim como você cuidou. Como você me amou como se eu fosse sua filha, porque no fundo tia tu se tornou uma mãe para mim. –nós duas estávamos com os olhos cheios d’água e ela respirou fundo, engolindo o choro e disse:

- Muito bom você falar essas coisas e depois de amanhã estar saindo de casa. Abandonando a gente.

- Para de drama, estou me mudando com a distância de duas quadras daqui. Nunca vou abandonar vocês.

- É bom mesmo mocinha, porque eu não posso tirar os olhos de você se não já entra em encrenca. – dou um sorriso e ela alega ter que começar a preparar o almoço me deixando sozinha.

Com o papel na minha mão fico pensando em como seria ligar para ele e ter de novo todas as lembranças para me perturbar, mas também penso em como sinto que precisa ouvir tudo que me fez passar nesses anos e mostrar para ele o que me tornei por conta de seus erros. Deixo o papel na cabeceira. Minha tia está certa hoje não é dia para se preocupar com coisas ruins.

Estávamos no local da festa. A decoração era em preto e vermelho. Minha tia pegou uma flor com a recepcionista e fomos até uma mesa que ficaria perto da colação. Meu tio estava com um terno cinza escuro contrastando com sua pele escura. Os longos cabelos loiros da tia Alicia estavam em um coque alto e aquele vestido cor de vinho deixava seus olhos azuis incendiados. Aqueles olhos que eu tanto invejava. Minha avó deu de herança a suas três filhas, mas eu não consegui herda-los e sim os do meu pai. Doces olhos mel que com o tempo perderam por total sua doçura.

Abraçada pelas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora