Phil: Alguém me perguntou hoje: “Se você pudesse estar em qualquer lugar do mundo, onde você
gostaria de estar?”. Eu disse para ele: “Provavelmente bem aqui”.
(Feitiço do tempo)
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Horários de Fani Castelino Belluz para o segundo semestre:
HORA SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA
6:30 Acordar!! Acordar!! Acordar!! Acordar!! Acordar!!
7:30 Português Ed. Religiosa -- Vago -- Português Informática
8:20 Português Física Matemática Português Matemática
9:10 História Matemática Literatura História Matemática
10:00 Recreio!! Recreio!! Recreio!! Recreio!! Recreio!!
10:20 Química Biologia Geografia Química Geografia
11:10 Inglês Inglês Física Ed. Física Biologia
12:30 Almoço!! Almoço!! Almoço!! Almoço!! Almoço!!
14:00
15:00 A.P. Física A.P. Física
16:00 INGLÊS INGLÊS
17:00 ACADEMIA ACADEMIA ACADEMIA
_______________________________________A minha mãe estava me levando para a aula de Inglês ontem quando veio com uma novidade: “Fani, ontem eu
fui ao aniversário da minha amiga Lourdinha, e o marido dela me perguntou sobre você”.
Ela começou a contar o caso e eu nem liguei, já que as pessoas mais velhas têm mesmo essa mania de ficar
perguntando sobre os filhos dos outros. Aumentei o volume do rádio e tentei achar uma estação melhor do que a
que minha mãe sempre escuta no carro dela.
“Ele quis saber em que nível está o seu Inglês, o que você pretende fazer no vestibular e como vão as suas
notas.”
Eu resolvi prestar um pouco mais de atenção, já que estava começando a achar meio estranho aquele interesse
todo na minha vida.
“Eu contei a ele que você é uma ótima aluna, nem mencionei essa aula particular de Física que você resolveu
fazer porque eu sei que isso ainda é consequência do processo de adaptação pela mudança de colégio. Aí ele me
contou que agora é o novo responsável pelo programa de intercâmbio cultural SWEP – Small World Exchange
Program e perguntou se você nunca pensou em estudar um ano no exterior. Eu disse a ele que você, neste
momento, está muito centrada no vestibular de Direito que vai prestar no próximo ano, mas aí ele disse que o
intercâmbio é uma experiência única e que te ajudaria inclusive na sua futura profissão, já que, além de aprimorar
o Inglês, você adquiriria traquejo social e capacidade de lidar com o desconhecido. Então eu conversei com seu pai
e...”
Eu não escutei mais nada do que ela disse. Nem discuti pela milésima vez o fato de que eu não vou prestar
vestibular para Direito como ela quer, e sim para Cinema. No momento em que ela disse aquelas palavras, tudo
parou na minha cabeça. Intercâmbio cultural.
Eu já tive uns colegas que fizeram intercâmbio. Eles voltaram com roupas esquisitas e piercings espalhados pelo
corpo. Mas eles contaram que a gente não tem noção de como o mundo é grande, olhando apenas pela janela da
nossa casa. Que tudo o que queriam era acabar a escola logo para tentar voltar para o exterior. E eles falaram da
neve, das folhas secas, de como as cores podem ter nuances que a gente não conhece. Mas eu lembro que aqueles
piercings me chamaram mais a atenção do que as histórias que eles contavam. Será que todo intercambista é
obrigado a se furar? Eu morro de medo de agulha!
Voltei do meu devaneio a tempo de ouvir minha mãe dizer: “... aí ele marcou sua entrevista para a próxima
quarta-feira, 17 horas. Eu sei que você tem academia nesse horário, mas Estefânia, minha filha, você tem que
pensar no seu futuro!”.
“Eu vou, mãe!”, eu disse tão rápido, que ela até se assustou por termos concordado pelo menos uma vez na vida.
Ela fez aquela expressão que ela sempre faz quando dá a palavra final em uma discussão e me deixou na porta da
minha escola de Inglês.
Antes de descer do carro, para diminuir um pouquinho o sorrisinho irritante dela, eu disse: “Eu concordei em ir
à entrevista. Mas, se você pensa que eu estou interessada em largar os meus amigos, o meu quarto, a minha vida
inteira aqui, pode saber que você está completamente enganada”. Eu fechei a porta e ela arrancou o carro, sem
nem esperar que eu entrasse na escola.
Passei o resto do dia pensando nisso. Como seria morar em um outro país? Como eu poderia viver na casa de
pessoas que eu não conheço e que não falam a mesma língua que eu? Será que eu conseguiria fazer amigos lá? E
os meus amigos daqui, será que iriam me esquecer? E se a minha mãe não se lembrar de dar comida pra Josefina,
a minha tartaruga? Será que, na cidade onde eu vier a morar, tem cinema? E se meu inglês não for bom o
suficiente? E o mais importante: será que o Marquinho arrumaria outra aluna para olhar daquele mesmo jeitinho
que olha pra mim?????
Eu fiquei tão entretida com os meus pensamentos que, quando olhei no relógio, já era quase hora do jantar e eu
nem ao menos tinha começado a fazer o dever de Informática, que era inventar umas planilhas no Excel de vários
tamanhos diferentes. Fiz logo umas três (aproveitei e fiz uma com os meus horários para ver se eu consigo parar
de chegar atrasada) e aproveitei que eu já estava no computador para pesquisar na internet sobre intercâmbio
cultural. Encontrei muitos depoimentos interessantes, o que me deixou um pouquinho ansiosa para a tal entrevista
de quarta-feira que vem.
Hoje de manhã, no colégio, eu contei a novidade para o pessoal. Cada um reagiu diferente. A Júlia disse que a
prima da vizinha dela fez intercâmbio em uma cidade no interior da Austrália e odiou! As pessoas da família onde
ela ficou hospedada comiam carne de canguru e feijão doce, e ela só não morreu de fome porque tinha guardado
dentro da mala um pacote de bombons e duas garrafas de guaraná que ela tinha levado para dar de presente.
O Rodrigo, ao contrário, disse que irmão dele foi para o Canadá e adorou tudo, voltou cheio de equipamentos
novos para a banda.
A Priscila falou que também pensou em fazer intercâmbio, mas, como no ano que vem a gente vai estar no
terceiro ano, o pai dela não deixou por causa do vestibular. Eu disse pra ela tudo aquilo que o diretor do SWEP
falou para a minha mãe, de socialização e aprendizado do Inglês, mas ela disse que o pai dela falou que a
prioridade da vida dela agora é passar no vestibular, que viagens ela pode fazer pelo resto da vida. Será? Eu acho
que vestibular a gente pode fazer pelo resto da vida, já viajar de intercâmbio...
Não sei, não, mas eu acho que a Natália e a Gabi ficaram meio com invejinha. Elas falaram que têm certeza de
que eu não vou gostar porque eu sou toda tímida e que o mundo é dos desinibidos.
Eu ia começar a replicar, quando o Leo – que estava muito calado, só escutando a discussão – perguntou: “Você
sabe quanto custa uma ligação telefônica para lá?”.
Eu respondi pra ele que eu nem sabia para onde ia, nem se ia.
“Pois me avise assim que souber”, ele disse, todo sério. “Tenho que começar a fazer economia.”
E, depois disso, entrou na sala sem falar mais nada.
Esse Leo é meio maluco. Até parece que ele vai me ligar quando eu estiver lá! Ele nunca me telefona aqui... na
verdade, eu é que sempre ligo pra ele pra perguntar sobre trabalhos em grupo, mas se bem que nem precisava, já
que a gente se encontra o tempo todo no colégio, tipo que ele senta praticamente do meu lado, e no fim de semana
a gente sempre vai para os mesmos lugares, e todo dia eu recebo um e-mail dele com cada piada mais sem graça
do que a outra, e ele é quase tão viciado em filmes quanto eu, aí sempre passa lá em casa sem avisar para pedir
um DVD emprestado da minha coleção (e acaba ficando para assistir lá mesmo, já que eu nunca empresto), mas
telefonar, eu acho que ele nunca me telefonou. Diz ele que não gosta muito de telefone porque não dá pra ver a
expressão facial da outra pessoa.
O resto da aula passou bem depressa, acho que por causa desse assunto todo de intercâmbio. Eu estava tão
concentrada me lembrando do que o pessoal falou (Canadá, sim – interior da Austrália, não!), que nem vi o
Marquinho entrar na sala. Quando eu dei por mim, ele já estava falando meu nome na chamada, e dessa vez eu
gritei “presente!” bem alto, mais pelo susto do que para ser escutada.
Mas foi olhar para ele que esqueci tudo o que tinha na cabeça... ele estava vestido com uma blusa branca, estilo
bata, pra fora da calça jeans. O cabelo, como sempre, meio compridinho na parte de trás e com aquela franja que
fica caindo em cima do olho na hora em que ele faz uma anotação... e a voz... que voz! Como eu podia não gostar
de Biologia antes? Uma matéria tão interessante!
Eu acho que a minha boca ia adorar fazer um intercâmbio na boca do Marquinho...

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Fazendo meu Filme
RomanceFazendo meu filme nos apresenta o fascinante universo de uma menina cheia de expectativas, que vive a dúvida entre continuar sua rotina, com seus amigos, familiares, estudos e seu inesperado novo amor, ou se aventurar em um outro país e mergulhar nu...