capitulo 39

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Annie: Isso era quando as pessoas sabiam como estar apaixonadas. Elas sabiam! Tempo, distância,
nada podia separá-las, porque elas sabiam. Isso estava certo. Isso era real. Isso era...
Becky: Um filme! Esse é o seu problema! Você não quer estar apaixonada. Você quer estar apaixonada
dentro de um filme!
(Sintonia de amor)

Completamente inútil essa recuperação, sinceramente! Ficamos lá (eu e os outros 13 infelizes que também não
passaram direto em Matemática) ouvindo aquela professora falar tudo o que já sabemos de cor e salteado! Vamos
ter duas provas. Nas duas sextas-feiras. Uma vale 45 e a outra 55. Temos que tirar 60 no total das duas. Ou seja, se
você estiver com dor de barriga, ou cólica, ou alguma coisa assim no dia de uma das provas, pode desistir. Quem
zerar uma delas pode se matricular novamente no segundo ano.
E o problema é que nós temos que comparecer a todas as aulas porque na recuperação a frequência também
conta e a gente só pode ter DUAS faltas. Tudo bem, são só dez dias de aula, mas – poxa! – bem que eles podiam
deixar a gente estudar em casa e ir ao colégio só pra fazer as provas! Tenho certeza de que se eu estudasse junto
com o Leo ia me sair bem melhor do que tendo que ouvir essa professora fazendo essas piadinhas sem graça sobre
o teorema de Pitágoras!
Se bem que o Leo está tão estranho que eu nem sei se ele ia querer estudar comigo.
No primeiro dia da recuperação, eu cheguei bem cedo para pegar os horários. Sentei no meu lugar de sempre,
na penúltima fileira, do lado esquerdo. Achei que quando o Leo chegasse, ele fosse se sentar também no lugar de
costume dele, que é perto de mim, duas cadeiras para a direita.
Eu já tinha até ensaiado como e o que ia conversar com ele, pra não ficar sem graça, já que ia ser a primeira vez
que a gente ia se encontrar depois daquela noite estranha...
Ele chegou um pouco atrasado. Foi ele entrar na sala que eu senti o meu estômago dar um looping de 180
graus. Meu coração começou a bater mais rápido e eu senti que estava ficando vermelha. Joguei um lápis no chão
para disfarçar, me abaixei para pegar e, quando levantei, vi que o Leo não tinha sentado ao meu lado, e sim na
primeira fila! Caramba, concordo que na recuperação não dá pra ficar bobeando, mas o Leo é bom em Matemática,
muito melhor do que eu, ele também não precisaria ter essas aulas! Só que foi na primeira fila mesmo que ele
sentou e ficou a aula inteira. Ele me deu um aceno rapidinho em uma hora que eu saí da sala pra ir ao banheiro, e
só.
No final da aula, ele foi conversar com a professora e eu fiquei esperando que ele saísse, do lado de fora da sala.
Quando me viu, ele fez uma cara meio desanimada e falou: “Ah, oi...” e foi andando pelo corredor.
Eu apressei o passo e perguntei: “Leo, o que houve?”.
Ele olhou rapidinho pra mim, mas desviou o olhar depressa.
“Nada. Só estou com vontade de chegar em casa logo”, ele falou andando mais rápido ainda.
“Mas por que essa pressa toda?”, eu perguntei praticamente correndo atrás dele.
Ele me olhou como se eu estivesse ficando doida e falou com a testa franzida: “Pra estudar, Fani!”.
Depois dessa, eu deixei que ele fosse andando na frente e fiquei parada no meio do corredor.
No dia seguinte, ele sentou na mesma carteira. Eu resolvi sentar perto dele, pra pelo menos ter mais chance de
puxar algum assunto. Mas a cada vez que eu falava alguma coisa, ele ficava fazendo anotações no caderno sem
nem olhar pra mim.
Eu perguntei se já tinha trocado o vidro do carro e ele falou: “Sim”. Perguntei se ele tinha descoberto quem
tinha jogado a pedra (embora isso esteja claramente óbvio para qualquer um) e ele respondeu: “Não”. Perguntei
então alguma coisa sobre a matéria, já que parecia ser o único assunto atual de interesse dele, e ele falou: “Fani,
espere o fim da aula e pergunte pra professora. Tenho certeza de que ela vai poder te explicar bem melhor do que
eu...”, e voltou para as anotações. Aí eu resolvi perguntar se ele estava com raiva de mim por algum motivo, e ele
respondeu: “Por que eu estaria?”, e tornou a escrever no caderno.
No terceiro dia de aula, comecei a ficar preocupada. Ele só podia estar mesmo com raiva de mim, mas eu não
conseguia imaginar o motivo. De repente, uma luz acendeu na minha cabeça. Com certeza ele devia estar me culpando pelo vidro quebrado! Porque afinal de contas, de certa forma, fui eu quem o convenci a ir à festa! Claro
que eu não forcei, mas eu insisti um pouquinho... se ele não tivesse ido, nada daquilo teria acontecido. Nada...
Cheguei em casa, aproveitei que os meus pais ainda não tinham chegado para o almoço e entrei na internet. Nas
férias, a Gabi deixa o computador conectado quase em tempo integral. O chat dela fica ligado no volume máximo
para se alguém mandar uma mensagem ela escutar o alerta em qualquer lugar do apartamento.

Fazendo meu FilmeOnde histórias criam vida. Descubra agora