capitulo 44

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Carrie: Nosso “timing” foi muito ruim.Charles: É, foi mesmo. Muito ruim.Carrie: Foi um desastre.Charles:
Foi, como você diz, muito ruim mesmo.
(Quatro casamentos e um funeral)
Cheguei em casa e caí em prantos. Ficamos o ano inteiro perto de alguém sem nos dar conta de que ele é o
amor da nossa vida. No momento em que tomamos consciência disso, o menino começa a ficar estranho. Quando
tudo volta ao normal e a gente acha que finalmente vai ser feliz pra sempre, ele viaja! E quando ele volta, quem
viaja é a gente!
No clube, mais cedo, as meninas fizeram de tudo pra me animar. Compraram churrasquinho e sorvete,
colocaram um monte de músicas que eu adoro para eu ouvir no iPod e no fim até chamaram o salva-vidas do clube
para ele ajudar a gente a ver as coisas por uma ótica masculina, falando pra ele que esse era um caso de vida ou
morte... nada adiantou.
Elas acabaram também perdendo a graça de ficar no clube e resolveram ir pra casa comigo, pois falaram que
não iam deixar que eu ficasse sozinha de jeito nenhum. E tudo o que eu mais queria era me trancar no quarto e
chorar até não poder mais, sem ninguém por perto...
O apartamento estava vazio quando chegamos. Foi entrar no meu quarto que o choro desabou. A Natália tentou
falar alguma coisa, mas a Gabi fez sinal pra ela me deixar chorar à vontade. Eu fiquei uns dez minutos abraçada
com o meu travesseiro, sem falar nada, só deixando as lágrimas correrem. De repente bateram na minha porta, eu
comecei a enxugar o rosto rápido e a Natália se levantou para abrir.
Era o Alberto.
Ele já ia fazer uma gracinha pra ela, quando olhou em minha direção.
“O que foi, Fanizinha?”, ele perguntou, passando direto por ela e se sentando ao meu lado. “Você... você não
tomou bomba, né?”
“Viu, Fani, tem coisa pior!”, a Gabi se levantou das almofadas e sentou na beirada da cama. “Imagina se você
tivesse tomado bomba?!”
“Não seria pior nada...”, eu falei fazendo beicinho. “E, na verdade, eu não sei se passei de ano ou não, o
resultado só sai quarta-feira”. Desesperei só de pensar naquela hipótese. “E se, além de tudo, eu também tiver
tomado bomba? Está tudo dando errado mesmo!”
“Que bomba, Fani! Você mesma falou que a prova estava facílima, para com isso!”, a Natália retrucou, sentando
mais perto também.
Ficamos os quatro na minha cama sem falar nada e, quando o meu choro acalmou um pouco, o Alberto tornou a
perguntar o que tinha acontecido.
“Nada. Não aconteceu nada”, eu falei sem a menor vontade de compartilhar minha tristeza com mais gente
ainda. “O que você está fazendo aqui nesse horário? Você não devia estar na faculdade?”
“Ué, minha filha! Você acha que só você que pode ter férias?”, ele falou rindo. “Agora só volto para aquela prisão
em fevereiro!”
Nisso eu lembrei que eu não ia voltar para o colégio em fevereiro porque em fevereiro eu estaria do outro lado
da linha do Equador e estaria estudando em um lugar completamente diferente! Devo ter feito cara de quem ia
desabar de novo, porque o Alberto se levantou e foi em direção à porta, meio sem paciência.
“Se você quiser continuar chorando aí, tudo bem, mas eu acho um desperdício passar o primeiro dia de férias
assim. Eu, pelo menos, tenho coisa melhor pra fazer”. Ele ia saindo do quarto, mas parou e olhou pra mim mais
uma vez. “Você não quer me contar mesmo, né? Não precisa da minha ajuda?”
Eu não disse nada, mas a Gabi falou por mim.
“Precisa sim!” Ela puxou o Alberto pra dentro e fechou a porta de novo.
Eu olhei para ela pra entender o que ela estava pretendendo, mas foi a Natália que falou em seguida: “Alberto, o
que uma menina tem que fazer pra te conquistar?”.
Ele ficou meio sem graça, falou que dependia da menina, da situação...
Aí a Natália explicou melhor: “Assim... vamos supor que você tenha uma grande amiga, mas muito amiga
mesmo. E, de repente, ela começa a gostar de você. O que ela teria que fazer pra saber se você gosta dela
também?”.
“Não é isso!”, a Gabi discordou. “Vamos supor, Alberto, que você era a fim da sua amiga, mas, como ela nunca
sacou isso, você desistiu. O que ela teria que fazer pra te reconquistar? Pra fazer você voltar a ter vontade de ser
mais do que um amigo?”
O Alberto coçou a cabeça um segundo, olhou pra mim, olhou para elas, deu um suspiro e tornou a sentar na
cama.
“Bom... é uma situação meio complicada... porque tudo que ela fizer pode ser encarado pelo cara como sinal de
carinho, amizade, exatamente o que deve ter passado pela cabeça da menina quando ele gostava dela”, ele falou
gesticulando, como se estivesse mexendo com peças de xadrez, para certificar que a gente estava entendendo.
“Acho que, nesse caso, o melhor é ser bem explícita mesmo, pra não deixar dúvidas! Quem é o cara, Fani? Vou lá
tirar satisfação com ele, não gosto que façam minha irmãzinha chorar!”
Todas nós rimos, pois sabíamos que ele estava brincando.
“Mas olha só, Alberto”, a Natália voltou a falar, “se o cara não estiver mesmo mais interessado e a menina for
bem explícita, isso não vai estragar a amizade?”
Ele pensou um pouco e disse: “Sim, tem esse risco. Mas quando a gente gosta de alguém, não fica se
contentando só com amizade, né? É preferível pagar pra ver... eu, pelo menos, arriscaria!”.
“Você acha que ela tem que chegar na cara dura e falar que está apaixonada por ele?”, a Gabi perguntou,
fazendo com que eu arregalasse os olhos só de pensar na possibilidade.
“Não, né...”, o Alberto respondeu meio rindo. “Tenho certeza de que vocês podem ser mais sutis do que isso...
tem que descobrir um jeito original, alguma coisa que pegue o cara de jeito, que sensibilize sem assustar. Senão
ele vai sair correndo!”
Nós rimos um pouquinho, o Alberto levantou, me deu um beijinho na testa e falou que tinha que sair porque
tinha uns colegas esperando por ele no “boteco”.
“... mas qualquer coisa me fala que eu coloco o cara na parede, hein?” Ele se despediu das meninas e saiu do
quarto.
Nós ficamos sentadas, olhando umas pras outras.
“A gente tem que imaginar o que você poderia fazer pra mostrar que gosta dele”, a Natália falou de repente,
com uma expressão pensativa.
“Mas o problema é que ele vai viajar!”, eu lembrei, começando a sentir vontade de chorar de novo. “Hoje!”
“Bom, provavelmente ele deve ir depois das seis da tarde”, a Natália considerou, “já que ele disse que ia com o
pai, que por sua vez deve trabalhar até esse horário...”.
“É isso!”, a Gabi se levantou, saiu do meu quarto e voltou com uma lista telefônica na mão. “Fani, qual é mesmo
o nome da empresa do pai do Leo?”
“Santiago”, eu falei, olhando pra Gabi sem entender. “É o sobrenome dele. Mas de que isso vai adiantar?”
Ela não respondeu. Em vez disso, olhou um número na lista, ligou e começou a conversar com alguém. “Por
favor, tenho aqui uma encomenda para o dono da empresa Santiago, a senhora poderia me informar até que
horário eu posso encontrá-lo hoje? Ele tem que receber pessoalmente.”
Um segundo depois, ela desligou o telefone. Olhou pra mim com um sorrisinho e disse: “Você tem que fazer
alguma coisa antes de seis da tarde. Aliás, esse é o horário que o pai dele vai sair da empresa. Depois disso, ele
deve ainda passar em casa pra pegar o Leo... então com certeza eles não vão viajar antes das seis e meia!”.
Eu olhei para o relógio e vi que eram três e meia.
“Gabriela, que ‘alguma coisa’ você quer que eu faça em apenas três horas?”, eu perguntei meio sem paciência.
“Gritar no meio da rua que eu amo ele?”
“Você ama ele?”, as duas perguntaram juntas.
Eu fiquei toda sem graça. Em vez de responder, falei: “Afinal, onde estão as ideias fantásticas de vocês? O tempo
está passando!”
As duas ficaram meio aflitas, a Gabi continuou andando pelo quarto, a Natália começou a estalar os dedos...
“Já sei!” A Gabi parou de repente. “Vamos pensar em tudo que fez com que a gente pensasse que ele gostava de
você. Nas coisinhas que ele fez e que deixaram a gente com essa impressão.”
A Natália estava com uma cara muito pensativa, prestando atenção na nossa discussão e, de repente, falou: “Eu
sempre achei que os dois tinham a ver, mas a primeira vez que eu considerei se ele realmente estaria gostando
dela foi no dia em que ela falou que ia fazer a prova para o intercâmbio. Todo mundo ficou feliz por ela e ele fechou
a cara”.
Eu nem me lembrava disso. Meu coração deu uma batida mais forte, só de imaginar que ele algum dia tinha
ficado emburrado pela possibilidade de eu viajar.
“Mas isso ela já fez”, a Gabi falou, apontando pra mim. “A Fani ficou nitidamente chateada quando ele disse que
ia viajar hoje, qualquer um perceberia!”
“Sim, mas ele pensou que o motivo disso foi por eu ter ficado com raiva pela possibilidade dele não estar aqui no
dia da minha viagem”, eu expliquei, “e não por eu estar triste porque não ia ter tempo pra mostrar o quanto eu
gosto dele...”
Elas concordaram e continuaram pensando.
“Fani, você sabe melhor do que a gente”, a Natália sentou de novo do meu lado e segurou a minha mão com
força, como se fosse para me dar apoio. “Quando foi que você admitiu que talvez ele estivesse a fim de você?”
Eu dei um suspiro, passei a mão no cabelo, comecei a lembrar dos fatos todos, da Gabi me contando das bodas
de prata, depois dele com a Vanessa, do ciúme que eu senti... mas nada disso tinha me convencido. De repente, eu
me lembrei de uma coisa.
“Ei!”, eu falei, levantando da cama e indo em direção aos meus CDs. “A primeira vez que eu imaginei que
realmente tinha a possibilidade da Gabi não estar ficando doida e ele estar mesmo me olhando com outros olhos”,
eu peguei um CD no meio dos outros, “foi quando eu ‘reescutei’ este CD que ele gravou pra mim no meu
aniversário.” Eu coloquei o CD pra tocar. “Na época eu não tinha visto nada de mais, mas, quando escutei depois
de um tempo, achei que talvez ele estivesse querendo me mandar alguma mensagem, que por sinal eu só fui captar
tarde demais...”
O CD começou. Eu deixava cada música apenas o tempo suficiente para elas ouvirem um pouquinho da letra e
passava para a próxima. A Gabi, a cada uma delas, fazia cara de quem sabia de tudo há muito tempo e a Natália
ficava só suspirando o tempo todo, falando: “Que bonitinho!”.
Quando terminou, as duas olharam pra mim como se quisessem me bater.
“Fani, não acredito que você não sacou tudo na primeira vez em que escutou esse CD! Está óbvio demais!”, a
Natália disse, analisando o nome das músicas na capinha.
A Gabi nem falou nada, só ficou me olhando fazendo “tsc, tsc, tsc” e balançando a cabeça negativamente,
completamente inconformada.
“Gente, isso agora não importa!”, eu comecei a desesperar. “São quatro da tarde, o que eu faço? Alguém me
ajuda!”
Acho que nós três pensamos a mesma coisa ao mesmo tempo. A Natália ainda estava segurando o CD, e de
repente eu e a Gabi olhamos para ele.
“O CD!!!”, falamos todas juntas.
“Fani, urgente!”. A Gabi tomou o CD da mão da Natália. “Você precisa gravar um CD pra ele com tudo o que
quer falar!”
Eu estava tão ansiosa que nem conseguia responder.
“Isso!”, a Natália concordou. “Ele adora música, vai amar receber um CD criado por você, e – na hora que ele
ouvir – é claro que vai sacar, afinal, foi ele quem teve a ideia primeiro!”
Uma alegria começou a tomar conta de mim, junto com uma pontinha de esperança. Isso tinha a possibilidade
de dar certo e eu nem precisaria passar muita vergonha, já que ia entregar como se fosse um presente de Natal e
ele só escutaria quando estivesse viajando...
“Mas temos que correr”, a Gabi apontou pro relógio. “Ou não vai dar tempo.”
“As músicas!”. A Natália pegou um caderno e uma caneta. “Vamos pensar tudo o que você gostaria de dizer pra
ele e depois a gente tenta encontrar músicas que digam isso por você.”
Eu me deitei no chão, abracei uma almofada e comecei a pensar tudo o que eu queria dizer pra ele. E, de
repente, eu comecei a entender o motivo do Leo ter tantos CDs no quarto dele...

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