Capítulo Trinta e Quatro

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Moedas de ouro e pedaços de jóias batiam e se enroscavam em mim enquanto eu era arrastada pela caverna, e os gritos de meus amigos chamando meu nome pareciam mais distantes a cada segundo. Esperneei e me debati tentando me libertar do que me segurava, e, antes que eu pudesse tentar usar a espada que tinha na mão, meu raptor parou bruscamente, soltando minha perna e me deixando caída no chão frio de pedra.

Ainda do chão, olhei ao meu redor, sem conseguir enxergar nem minhas próprias mãos devido a escuridão infinita. Levantei com dificuldade, achando que de pé conseguiria ver alguma coisa, mas só ficou pior, como se eu estivesse sendo engolida por um buraco negro, e me tornasse parte de suas sombras.

Ergui a espada na frente do corpo, com as mãos trêmulas e o som de meu coração martelando em meus ouvidos, que quase me fez não ouvir os ecos de uma batalha acontecendo em algum lugar no outro lado da caverna, onde, provavelmente, Rodrick e Roberta lutavam juntos por sua sobrevivência.

Enquanto eu, estava sozinha.

Senti algo passar por trás de mim e me virei num pulo, ouvindo apenas o tilintar de moedas de ouro caindo de suas pilhas. Mesmo ainda não enxergando nada, eu sabia que alguém estava ali comigo, espreitando, esperando a hora certa de dar o bote. Balancei minha espada pra frente e para os lados, querendo que quem quer que fosse mantivesse distância, mas pude ouvi-lo de novo, remexendo mais pilhas de ouro atrás de mim, fazendo o som dos metais colidindo camuflarem sua localização real.

Apertei os olhos tentando acostumá-los à escuridão, mas não havia mais luz nenhuma naquele lugar. Havia somente uma cor preta profunda e fria, e o som do ser que me cercava parecendo se aproximar cada vez mais.

― E-e-eu sei que está aí! ― gritei para o nada, tentando controlar a respiração pesada e manter uma voz mais firme ― Apareça!

Senti algo arrastar em minha perna e me afastei num pulo, quase tropeçando em alguma peça metálica que estava no chão. Pude ouvir um riso abafado ao meu redor, e continuei apontando minha espada para todos os lados, com o medo já tomando conta de meus batimentos cardíacos.

― Eu lembro de você. ― disse uma voz. Me virei em direção ao som e um estranho brilho começou a se formar alguns metros a frente, crescendo num tom avermelhado até iluminar parcialmente o rosto da fera, expondo sua boca flamejante e seus olhos laranjas, que refletiam a cor do fogo que o dragão mantinha entre as presas. ― Você é a menina do festival, a que pediu que eu devolvesse a opala. ― disse Fafnir, num sorriso debochado, que se tornava incrivelmente assustador acompanhado da iluminação que vinha de si mesmo ― Não acha que está sendo muito repetitiva garotinha?

― E-ela não pertence a você! ― rebati, tentando manter a postura ― Não importa o que outra pessoa tenha dito, ela é minha!

― É mesmo? ― seu sorriso se abriu ainda mais, e o dragão dourado começou a me rodear novamente, com a boca em chamas iluminando somente parte de sua cabeça escamosa ― Então por que ela não estava com você quando eu fui buscá-la?

Travei por um segundo, não esperando aquela pergunta.

― Hã... Bem, p-porque...

― Ah! Eu lembro. ― disse, ainda com um sorriso, fixando seus olhos brilhantes em mim ― Você a entregou aos guardas, não foi? Não se sente capaz de proteger sua própria pedra sozinha?

― E-eu, não, quer dizer...

― É óbvio que não, uma garotinha fraca que nem você nunca conseguiria proteger um artefato tão importante. ― Fafnir ergueu a pata até que ela fosse iluminada pelo fogo de sua mandíbula, exibindo meu medalhão destruído e a opala que jazia dentro dele. Ele balançou a pedra em minha direção e sorriu, com os olhos afiados encarando os meus como se entrassem em minha alma. ― Pode até ter os olhos de Nadi, mas duvido que seja a verdadeira Escolhida.

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora