Capítulo Cinco

154 41 38
                                    


Uma tempestade. Uma guerra. Uma mulher.

Uma luz.

— Anny você tá me ouvindo??

Pisquei por um segundo e vi que Roberta me encarava.

— Hã? Ah! Sim! Sim tô ouvindo, fala.

O sinal já havia tocado e a turma se organizava pelas carteiras. Eu e Roberta estávamos sentadas uma ao lado da outra, discutindo o que tinha acontecido no dia anterior.

— A minha teoria, - Roberta gesticulava com as mãos, agitada – é que a minha mãe tem algum compartimento secreto no depósito, logo atrás da Velha Estante, e aí ela botou todos os escombros nesse esconderijo secreto e é por isso que tudo estava tão limpo, tão rápido.

— Você acha que tinha um esconderijo secreto na sua própria casa e você não sabia?

— É. - disse - Ou ela é uma bruxa. As duas opções são válidas.

Me recostei na cadeira e soltei um suspiro.

— Sei lá. Tudo isso é tão estranho.

— Talvez tenha alguma resposta naquele livro que ela te deu.

— Duvido muito. - tirei o livro de couro da mochila e o mostrei a Roberta. Eu estava tão entretida com a história que não consegui deixá-lo em casa. - Aí só tem histórias sobre os heróis desse lugar, Arret, e as mudanças que aconteceram no planeta com o passar do tempo por causa deles. É tipo, muito legal, e me faz querer ler ele por horas e horas, mas não tem nada aí que possa ser o motivo daquele escândalo que a Tia Lina fez ontem.

— Será que ele é um livro raro? Tipo, de colecionador? - Roberta analisou o livro, dedilhando as trepadeiras douradas da lombada. - Seria um bom motivo pra fazer um escândalo.

— Se fosse tão raro ela não me deixaria ficar com ele. E além disso não tem nada sobre esse livro em lugar nenhum, eu pesquisei. Não tem nem autor!

— Verdade, só tem o nome... - Roberta olhou para a capa mais uma vez e franziu a testa – Arret. Você sabe que isso é, tipo, Terra ao contrário né.

— Eu sei! Quem escreveu isso não tinha um pingo de criatividade pra nomes. - ela me devolveu o livro e coloquei-o em cima da mesa – Mas, pelo menos a história é boa.

— Pelo menos isso.

— E tem mais! - tirei meu medalhão de debaixo da camisa e o mostrei à Roberta – Olha só os desenhos, são iguais! A capa do livro é igual ao meu medalhão!

— Uau. Eles são idênticos! - ela segurou meu colar e comparou com o livro – Será que tem como isso ficar mais estranho?

— Será que tem como vocês duas ficarem mais estranhas?

Uma aparição de cabelos loiros e olhos escuros nos encarava entre nossas carteiras. Roberta se endireitou na cadeira e sorriu:

— Mia! Que surpresa. Está aqui para melhorar o dia de nós, meros plebeus?

— Estou aqui por que vocês estão no meu caminho e eu gostaria de ir para minha carteira ainda hoje.

Percebi que minhas pernas estavam bloqueando a passagem e as encolhi rapidamente, envergonhada.

Mia abriu um sorriso cheio de brilho labial e deboche e se virou para mim:

— Ah, pobre Anny, avoada como sempre. Estava sonhando acordada de novo? Quer uma almofada? Ou um cobertor pra te ajudar a dormir?

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora