Capítulo Seis

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— Eu não consigo entender.

O intervalo já tinha começado e todos os alunos estavam indo para o pátio para lanchar, conversar, e fazer alguma besteira como de costume.

Passamos por um grupo de meninas mais velhas, que comentavam sobre como seria incrível se o cabelo da namorada da paixonite delas pegasse fogo "acidentalmente".

— O quê? O fato de estarmos no século 21 e ainda existirem garotas que desejam o mal umas as outras?

— Isso também – disse Roberta. Sentamos em volta de uma mesa quadrada onde apoiamos nossas mochilas. Ela continuou – Mas, eu não consigo entender como você não tem medo de matar aula ou de ser castigada pela minha mãe mas tem medo de levar bronca da professora substituta a ponto de ficar paralisada! Fala sério Anny, esperava mais de você.

— Eu não estou acostumada a levar bronca na escola o.k.? Nunca tinha acontecido antes, eu não sabia como reagir!

— Bem, você devia reagir de alguma forma, - Roberta desembrulhou um sanduíche de presunto que estava na mochila e começou a comer - porque ficar parada com cara de tacho não vai adiantar nada.

Ri e disse:

— Pelo menos eu tenho você pra me defender!

— Pelo menos isso! - Roberta abriu um sorriso cheio de pão e presunto – Você não ia durar um dia nessa escola sem mim!

Estava prestes a comer um dos famosos bolinhos recheados caseiros da minha mãe quando ouvi risadas vindas dos bancos no centro do pátio. Mia e alguns outros colegas de classe irritantes esnobavam um garoto do sexto ano por usar um tênis de cor diferente do outro.

— Será que eles não tem nada pra fazer além de irritar os outros?

— Esse lugar é uma selva, - disse Roberta, balançando a cabeça tristemente - se você é diferente vira uma presa fácil.

O garoto saiu correndo e chorando em direção aos banheiros, enquanto o grupo de valentões ria de sua tristeza.

— Pobrezinho... - lamentei.

Olhamos em direção à Mia e sua trupe de súditos novamente, que já desviavam sua atenção para outro aluno indefeso.

— A única garota loira da escola e ela é praticamente uma patricinha de filme americano. - disse Roberta – Isso é tão clichê.

— E um esteriótipo com certeza. - Observei-a mais uma vez.

Apesar de ser uma metida mal educada, Mia continuava sendo a queridinha de todos. Não importava o que ela fizesse, ou quem humilhasse, no final, todos iriam perdoá-la e seguir em frente, como se nada tivesse acontecido.

Ela notou que eu estava olhando e desviei o olhar rapidamente.

Que tipo de superpoder era esse que fazia todos se sentirem inferiores perante ela? Que fazia qualquer um desviar o olhar, como se estivesse fazendo algo errado? Que dava a ela o direito de humilhar alguém e nunca sofrer as consequências?

Era um poder mau, disso eu tinha certeza.

Um tipo de poder que ninguém nunca deveria possuir.

***

— Oi mãe, já cheguei!

Joguei minha mochila no sofá da sala e tirei o tênis. Tanto a sala como os corredores eram pintados de uma tinta cinza clara, o que dava destaque para os móveis e os milhares de quadros que minha mãe adorava colocar nas paredes. O sofá da sala era de um laranja desbotado e meio mole devido aos anos de uso, a televisão ficava logo a frente, em cima de um grande gabinete cujas prateleiras e gavetas estavam lotadas de livros, CDs, DVDs, e também alguns discos de vinil.

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora