Capítulo Dezenove

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O lago ficava no meio da floresta, com o caminho sendo indicado por uma trilha de tábuas de madeira, o que facilitava o trajeto. Não demorou nem cinco minutos andando para que eu pudesse ouvir o som alto de risadas, conversas e música, que, estranhamente, parecia estar saindo de algum lugar da floresta.

Um clareira surgiu por entre as árvores e pude ver o grande lago azul marinho em seu centro. Um pequeno píer vinha do gramado até quase o meio do círculo de água, e, próximo dele, um adolescente boiava tranquilamente em cima de uma bóia em formato de rosquinha. Já no gramado, algumas mesas de piquenique eram arrumadas por algumas garotas com vários tipos de comidas, e vários adolescentes conversavam e dançavam ao som da música animada. Do outro lado do lago, algumas crianças corriam e brincavam de algo que não consegui identificar, e, debaixo da sombra de uma das árvores, quatro figuras conhecidas se sentavam em uma toalha e observavam o ambiente.

Assim que me viu, Roberta levantou-se e correu em minha direção.

— Até que enfim! Já estávamos achando que você não vinha! — ela agarrou minha mão e me puxou para perto do grupo, que acenaram de forma simpática para mim, com exceção de Camila, que só ergueu uma sobrancelha e me ignorou. — Dallia tava contando algumas histórias da Academia.

— Histórias? — perguntei enquanto me sentava.

— É! — e virou-se para a garota a sua frente — Vai, conta pra ela a da Circe e do Ulisses!

A bruxa ajeitou as pernas, cruzando-as, e se inclinou para frente enquanto falava.

— Então, tem meio que uma lenda na Academia que conta a origem dos bonecos de treinamento de Perseia e do Ginásio. — disse, enquanto gesticulava com as mãos — Dizem que Circe e Ulisses eram pessoas de verdade, uma bruxa e um guerreiro, vivendo um amor proibido. O pai de Circe ficou furioso quando descobriu o relacionamento e contratou um bruxo das trevas para amaldiçoar Ulisses, mas Circe se pôs na frente do feitiço, que acabou atingindo os dois. Agora eles estão presos pra sempre como bonecos de madeira e ainda assim foram separados, cada um em uma escola diferente, servindo de equipamento de treino para os alunos. Apesar de estarem tão próximos um do outro, estão separados por toda a eternidade, e não há feitiço que possa salvar os dois!

— Nossa, que trágico! — comentei, surpresa com a história, e me sentindo ainda mais culpada por ter decapitado Ulisses no dia anterior.

— Pois é! — e deu de ombros — Mas é só uma história, ninguém sabe dizer se é verdade ou não.

— Karim diz que é mentira mas as vezes eu vejo ele conversando com a Circe como se ela fosse gente. — disse Lucile.

— É, eu também já vi ele fazendo isso. Aposto que o Tyrian faz a mesma coisa com o Ulisses...

Camila, que observava a conversa com cara de tédio, revirou os olhos e bufou alto, cortando a fala de Dallia:

— Será que tem como parar com a contação de histórias e irmos comer logo? — disse ela, irritada — Vocês queriam esperar a Anny e ela já chegou, agora vamos logo antes que tudo esfrie.

— É, eu to ficando com fome. — comentou a ruiva.

— Tá bom, então vamos. — Dallia se levantou e virou-se em direção as árvores — Vem Césio, vamos sentar nas mesas e comer alguma coisa. — disse, para um garoto que se encostava na árvore atrás de nós, que eu não tinha notado a presença até aquele momento. Logo o reconheci como sendo o garoto que se sentou conosco no refeitório mais cedo — Aí você aproveita e tenta pegar um bronzeado.

— Não, obrigado. — respondeu o garoto pálido — Eu prefiro ficar nas sombras.

Camila revirou os olhos, impaciente.

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora