A Escolhida da Luz

Capítulo Trinta

Mentiroso! Idiota! Como eu pude ser tão burra?, pensei, com o coração batendo rápido e os pensamentos a mil.

Caminhei pela floresta pisando firme e cortando galhos com raiva, precisando extravasar em algum lugar tudo aquilo que eu estava sentindo. Roberta tentava acompanhar o meu ritmo logo atrás, e Rodrick também nos seguia, mantendo uma distância razoável para o seu próprio bem.

Eu comecei a andar sem pensar muito para onde estava seguindo, mas, aparentemente, estava indo na direção certa, já que o garoto que tinha todos os mapas permaneceu em silêncio durante todo o percurso.

— Será que você vai me explicar direito tudo o que aconteceu ou eu vou ter que adivinhar? Esse seu silêncio raivoso tá me deixando nervosa. — disse Roberta, falando baixo e se apressando para andar ao meu lado.

— Eu segui Rodrick pela floresta quando nos separamos, aí eu encontrei ele tendo uma conversa super amigável com a irmã mais velha dele. — expliquei rapidamente, também em um tom baixo, sem parar de andar ou de abrir caminho na floresta — Eu sabia que tinha alguma coisa errada, que ele podia estar escondendo alguma coisa, mas isso?? Ele estava conversando com a única pessoa que não podia descobrir que estamos aqui, aí agora a gente tem que fugir o mais rápido possível por causa da burrice dele. — Parei por um instante e a encarei, ainda alarmada com a situação — E acredita que ele teve a audácia de me culpar depois??

— Mas por que culpar você?

— É que eu... meio que caí na frente dela... — respondi baixinho, um pouco envergonhada pela queda, mas logo depois sacudi a cabeça e continuei a abrir passagem — Mas mesmo assim ele não devia ter começado a falar com Morgana em primeiro lugar! Dane-se se ele não expôs a gente, manter contato com o inimigo também é traição! — e balancei a cabeça de novo, assentindo — O príncipe Erick estava certo o tempo todo, e eu fui muito burra de não tê-lo ouvido antes.

— Caramba, que doideira. Eu também não esperava por essa. — disse Roberta, com um suspiro, mas depois voltou-se para mim novamente — Mas como você sabia que tinha que seguir ele? Ele não pareceu nada suspeito pra mim antes.

— Foi... um pressentimento que tive. — menti, não querendo que ela soubesse que acabei invadindo os sonhos de Rodrick sem querer — Mas isso não importa, o que importa é que agora sabemos que ele é um mentiroso e que não podemos confiar nele de novo! — balancei a cabeça, reafirmando algo decidido desde o nosso primeiro dia em Arret — Você mesma disse, só podemos confiar uma na outra.

— É, eu disse, mas...

— Eu não quero mais falar disso agora, por favor. — a cortei, e olhei por cima do ombro, vendo Rodrick caminhar a alguns metros de distância de nós. Sua cabeça estava baixa e sua expressão parecia cansada, e até um pouco triste. Ele ergueu o olhar e virei para frente novamente, tentando disfarçar o flagra — Vamos... só focar na missão, ok?

— Ok... — respondeu Roberta, ainda com uma expressão preocupada no rosto — Se quiser eu posso ajudar a abrir caminho...

— Não precisa, eu to bem. — respondi, tomando a frente da trilha de novo.

Cortar aquelas folhas me ajudava a não pensar no garoto atrás de mim, e nem no aperto em meu peito que surgiu ao encará-lo.

Continuamos seguindo em frente, e logo foi possível notar as elevações do chão, indicando que a partir dali a montanha já começava a se erguer. Um silêncio mórbido nos acompanhou durante todo o caminho, e nem as tentativas falhas de Roberta de começar uma conversa estavam ajudando a diminuir a tensão presente no ar.