Capítulo Vinte e Três

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Uma pessoa caminhava pelas ruas escuras e vazias.

O casaco que o protegia da noite fria de Aurora escondia seu rosto, mas deduzi por sua silhueta que a pessoa misteriosa se tratava de um garoto.

Ele continuou andando, se esgueirando pelas beiradas das ruas e becos entre os prédios, até chegar no campo aberto em que, mais a frente, se encontrava a entrada para a floresta.

Ele se movimentava a passos rápidos, ultrapassando a distância sem esforço. Mas, quando finalmente chegou próximo às primeiras árvores, parou.

O garoto encarou a escuridão da floresta adormecida, parecendo relutante, e, antes de desaparecer por entre os galhos, olhou para trás, para ter certeza de que não estava sendo seguido.

Mostrando finalmente seu rosto pálido, e um par de olhos negros como piche.

***

Acordei com o pulsar de meu medalhão no peito e levantei com dificuldade.

Fazia tempo que não tinha um sonho tão real assim. O último tinha sido um flashback de quando eu era um bebê, e aquela conversa nada animadora entre o rei e a princesa das trevas.

Segurei meu colar entre os dedos, vendo-o brilhar com meu toque.

Mais uma vez eu tinha tido um sonho real demais para ter sido inventado, mas, dessa vez, eu não estava assustada, e sim confusa. Mais uma vez eu observava uma cena de longe, uma cena que não era uma memória minha e que eu não estava presente de verdade. Aquilo era real, tinha acontecido mesmo, mas, dessa vez, não era no Lado das Trevas, e sim aqui, em Aurora.

Respirei fundo, tentando pensar no que fazer a seguir.

Isso é um sinal não é? Um aviso?, perguntei a mim mesma, Será que eu tenho que fazer alguma coisa a respeito?

Meu medalhão pulsou forte em minha mão e soltei um suspiro, me levantando da cama com uma estranha determinação crescendo dentro de mim.

Eu precisava encontrar Rodrick.

***

As ruas se iluminavam com o sol da manhã, e centenas de pessoas animadas já tomavam a cidade, carregando enfeites, comidas, e os mais diferentes tipos de decorações para a festa que teria seu início oficial daqui a pouco mais de meia hora.

Haviam bandeiras e balões das mais diversas cores, e uma quantidade excessiva de enfeites em branco e dourado que pareciam até decoração de festa de ano novo, sem levar em conta de que estas eram claramente mágicas, já que várias se mexiam e emanavam luzes e sons diferentes.

Ao chegar na praça pude ver as dezenas de barracas sendo arrumadas com muita rapidez e dedicação pelos vendedores, que pareciam competir entre si para ver qual barraca ficaria mais bonita e chamativa. E eles não poupavam esforços: em uma barraca de comida, o vendedor havia feito uma torre de cupcakes dourados que chegava até o teto; numa tenda de jogos, peixes coloridos nadavam em uma água flutuante, boiando um pouco acima dos aquários onde antes pertenciam; e, em uma barraca de poções, um dragão de metal se enroscava no teto, cuspindo bolhas de sabão nas pessoas que passavam perto.

Era uma imensidão de cores, cheiros e músicas que me dava vontade de ficar ali e apreciar cada uma delas, mas, continuei meu caminho, me aproximando cada vez mais da construção de concreto que era meu objetivo inicial.

Ao chegar, empurrei levemente a porta de madeira, que rangeu com o meu toque e se abriu para o ambiente escuro e estranhamente silencioso.

Passei os olhos pelo Ginásio, a procura do garoto de olhos negros, mas não havia ninguém ali. Tentei até bater na porta dos fundos do prédio, com o ouvido colado na madeira pra tentar escutar alguma coisa, mas, ou Rodrick era muito silencioso, ou aquele quarto estava tão vazio quanto o resto do Ginásio.

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora