No início, não existia nada. E então, surgiu o homem, e com ele, a luz e as trevas.
Da luz e das trevas nasceram as Guardiãs; Nadi, guardiã do dia e protetora dos seres de luz; e Eda, guardiã da noite e protetora dos seres das trevas.
Com o seu nascimento, o universo inteiro estremeceu, e, com o poder de Nadi e Eda, Arret foi criada.
Que loucura, gêmeas mágicas., pensei.
Aquele livro estranho não tinha nada de estranho. Não haviam mensagens criptografadas, ou rituais sombrios escondidos. Era um livro bem normal. Na verdade, parecia mais um livro de história.
Ele contava toda a história desse planeta, Arret, desde a sua criação. Ao que parece era um lugar onde os humanos podiam entrar e sair livremente, para desfrutar da magia do lugar e sabedoria das guardiães. Mas, claro, como toda história que tem humanos no meio sempre dá ruim em algum momento, deu ruim pra Arret.
Pelo que eu entendi, algumas pessoas não queriam sair de Arret e decidiram morar por lá, as Guardiães deixaram e depois disso os humanos passaram a vê-las como deusas. Só que, como haviam duas Guardiães, algumas pessoas gostavam mais de uma do que de outra.
E aí começou a briga.
A humanidade presente em Arret se dividiu em dois lados, onde um lado adorava Nadi, a Guardiã do Dia, e o outro lado adorava Eda, a Guardiã da Noite.
Os dois lados queriam provar que sua deusa possuía mais poder que a outra, e assim foi dado início a uma guerra sangrenta entre o Lado da Luz e o Lado das Trevas.
Típico dos humanos., pensei.
E, claro, Nadi e Eda, como boas Guardiães, não queriam que o povo brigasse. Elas tentaram mostrar que as duas eram igualmente poderosas, que não existia rivalidade, que eram irmãs. Mas o povo, como sempre, ignorou a mensagem de paz das Guardiães e continuaram a brigar mesmo assim.
Nadi e Eda acharam que se fossem mais humanas não seriam mais tão adoradas e a guerra acabaria, então, armazenaram parte de seu poder em uma grande pedra de Opala, que foi colocada no campo de batalha entre os dois Lados.
A Grande Opala trouxe dúvidas entre os povos. Não se sabia mais se as Guardiães eram deusas, agora que seu poder estava contido em uma pedra. A humanidade não sabia mais a quem adorar, e isso causou uma nova revolta entre os povos.
O Lado da Luz acusava Eda de enfeitiçar Nadi, fazendo-a abdicar de seus poderes, enquanto o Lado das Trevas acusava Nadi de forçar Eda a ser uma mortal. A batalha se iniciou novamente ao redor da Grande Opala, mas as Guardiães se puseram entre os Lados, para uma última tentativa de conciliação entre os povos.
Nadi e Eda tentaram manter os dois Lados afastados, mas o frenesi incansável dos povos era mais alto que as palavras das Guardiães. O barulho das espadas e os gritos de ódio tomaram conta do campo de batalha. O céu se encheu de nuvens escuras carregadas de raios poderosos.
As Guardiães haviam perdido o controle de seu povo, mas continuavam pedindo para que parassem com a guerra.
Vendo a súplica das Guardiães, o líder do Lado das Trevas enxergou fraqueza na deusa que antes adorava e, com um único golpe de espada, derramou o sangue de Eda na terra fria do campo de batalha. Respingos do golpe fatal atingiram a Grande Opala, tornando-a metade vermelho vivo, como o sangue da guardiã das trevas, enquanto metade ainda era multicolorida, como os olhos das Guardiães de Arret.
Nadi sentiu a dor do golpe como se fosse dela própria. Seus olhos, antes coloridos, se tornaram pura luz branca, e seu grito de dor e tristeza pela morte da irmã ecoou por toda Arret, sendo tão poderoso, que rachou a Grande Opala em dois.
Assim, Arret foi dividida por um campo de força mágico, dividindo para sempre o Lado da Luz e o Lado das Trevas.
Depois desse dia, a guardiã da luz e o corpo sem vida da guardiã das trevas nunca mais foram vistos, deixando para trás somente os pedaços quebrados da Grande Opala.
O Lado da Luz guardou consigo a metade da opala que jazia em seu lado da barreira, uma pedra multicolorida e brilhante, enquanto o Lado das Trevas ficou com a sua parte da pedra, que já não era mais colorida como uma Opala ou como os olhos das Guardiães, mas sim vermelho, como o sangue inocente que fora derramado naquela guerra.
— Nossa, que pesado. - pensei, em voz alta, enquanto continuava minha leitura.
Fiquei lendo por horas, até minha mãe gritar comigo dizendo que era tarde e eu precisava dormir. Mas eu não podia evitar, aquele livro era incrível! Ele não contava só a história do início desse lugar, mas tudo que aconteceu depois que a Grande Opala foi dividida. Haviam histórias sobre grandes guerreiros, bruxos e bruxas, outros confrontos entre o Lado da Luz e o Lado das Trevas.
Toda a história de um planeta, estava tudo ali.
Me deitei na cama e toquei meu medalhão. Será que ele e o livro estavam conectados de alguma maneira? Bem, alguma relação deve existir, já que os dois tinham desenhos iguais. Talvez o meu medalhão fosse alguma cópia de algum objeto importante do livro, tipo uma bijuteria feita pra fãs. Mas, não poderia ser isso, já que, pelo o que eu já tinha pesquisado, não existia nenhum outro colar como aquele a venda no mundo inteiro.
Talvez o colar tenha sido presente de Tia Lina, já que era ela que tinha o livro. Mas, se fosse, ela teria dito alguma coisa, e não teria feito aquele escândalo quando viu o livro comigo. Ou talvez... aquele livro estivesse destinado a mim de alguma forma. Talvez tudo que aconteceu, eu ter matado aula e ir pra livraria, ter me oferecido para ajudar a limpar, a minha queda catastrófica destruindo a Velha Estante, talvez, tudo aquilo estivesse predestinado, tudo para que eu encontrasse aquele livro lindo e misterioso.
Ou talvez fosse tudo só uma grande coincidência e eu estivesse só sonhando acordada de novo, imaginando como seria ter algum destino mágico esperando por mim, quando na verdade não há nada de especial naquele livro ou no meu medalhão e eu esteja só me iludindo mais uma vez.
Olhei para o livro na minha mesa de cabeceira e observei as trepadeiras douradas em sua lombada. Elas eram tão detalhadas e realistas que, por um instante, pareciam estar vivas.
Talvez tenha sido só impressão, ou alguma luz que havia refletido no ouro.
Talvez aquele livro seja só um livro igual qualquer outro.
Mas, talvez, só talvez, ele seja algo extraordinário.
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A Escolhida da Luz
AdventureAnny é uma garota meio avoada que vive uma vida normal e sem muitas mudanças ou problemas, na verdade, as únicas coisas realmente peculiares em sua vida são seus olhos multicoloridos e o misterioso medalhão que sempre levava no pescoço. Ela achava...