Capítulo Sete

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Comecei a andar de um lado pro outro na calçada, esperando Roberta vir abrir a porta para mim.

Eu consegui sair de casa sem que meus pais notassem, e corri até a casa de Roberta com o livro em mãos. O vento frio da noite me fez desejar ter um casaco, mas não tive tempo de pegar um antes de sair, e nem tempo de pensar sobre isso. Na verdade, não tive tempo de pensar em nada.

Eu precisava encontrar Roberta para tentar entender o que estava acontecendo. Era algo absurdamente estranho, e sem sentido algum. Mas lá estava, tão real quanto o meu nervosismo. Eu precisava saber a verdade.

A grande placa acima da porta dizia: Livraria Flor de Cerejeira. Eu nunca havia entendido esse nome, não havia nenhuma cerejeira perto da livraria, e Roberta havia me dito que nunca tinha visto uma. Era algo tão estranho quanto o conteúdo do livro que eu segurava em minhas mãos.

Escutei os passos apressados de Roberta enquanto descia a escada para a livraria. Logo, pude ouvir o som das chaves na maçaneta e a porta se abriu.

Roberta usava uma camisa do Hora de Aventura e um short jeans desbotado. Seu cabelo cacheado parecia mais armado que o normal e seus olhos cor de mel traziam uma expressão preocupada.

— É melhor você começar a explicar o que aconteceu de tão importante que não podia ser dito por mensagem. Eu estava no meio de um capítulo de Senhor do Anéis.

— É algo que eu não posso explicar, - ergui o livro em minhas mãos – mas posso mostrar.

— Anny, se você veio até aqui e me deixou preocupada só pra falar desse livro besta eu juro que...

— Roberta! - Ela me encarou. Respirei fundo, tentando acalmar o nervosismo que só crescia dentro de mim.- Deixa eu te mostrar, por favor.

Roberta me encarou por um segundo, provavelmente tentando adivinhar se eu estava completamente louca ou não. Enfim, ela acenou a cabeça e me deixou entrar.

Passei pelas mesas no centro da livraria e apoiei o livro no balcão. Roberta se pôs ao meu lado, tentando entender o que estava acontecendo.

— Lembra quando você disse que poderia haver algumas respostas nesse livro? - passei as páginas rapidamente até chegar na parte final do livro.

— Hã... acho que sim.- disse Roberta - Por quê?

— Porque, - virei a penúltima página e vi o retrato que procurava. Virei para o lado e mostrei-o a Roberta – tudo que eu achei foram mais perguntas.

Lá estava. Com um sorriso simples e olhos brilhantes, e a mesma aparência que já vira em fotos de vinte anos atrás.

Lina

Bruxa da Luz e aventureira corajosa

— Essa é... A MINHA MÃE??? - disse Roberta, boquiaberta com o retrato.

— Por favor me diz que você tem uma explicação pra isso!

Roberta segurou o livro e passou os dedos sobre a página. Seu rosto variava de tremenda indignação a total confusão em segundos.

— Meu Deus, é ela mesma! Mas, como..? O que... Por quê???

— Eu não sei!! Por isso eu vim aqui, pra saber se você tinha alguma resposta! - soltei um suspiro – Mas ao que parece nós duas não temos nada.

— O que é isso? Bruxa da Luz?? - Roberta arregalou os olhos, espantada – Como assim Bruxa da Luz??? Eu sempre brinquei dizendo que ela era uma bruxa mas nunca achei que ela pudesse ser uma bruxa de verdade!

— O.k. acho que devemos nos acalmar e pensar com clareza. - tirei o livro de suas mãos e coloquei-o na bancada de novo – Isso tudo é muito estranho e meio bizarro, mas com certeza tem uma explicação. Afinal a sua mãe nunca poderia ser uma bruxa de verdade. Eu acho.

— É. É! Tem razão. - disse ela, se pondo ao meu lado – Mas, por que a foto dela estaria aqui?

— Será que foi ela quem escreveu o livro? - sugeri.
— Não, minha mãe é do tipo que lê não do tipo que escreve. - Roberta observava a imagem de novo, agora com uma expressão mais preocupada do que assustada. - Ela diz que o mundo já tem histórias demais pra ela inventar mais uma.
— Então... Talvez o livro seja de alguém que ela conheça.
— Pode ser. - ela soltou um suspiro - Não tem mesmo nenhum nome do autor? Nenhuma editora, nada?
— Não, essa é a última página. - toquei a ponta da folha e levantei-a um pouco. De repente vi a ponta de outra folha abaixo dos meus dedos. - Que estranho, essa página não estava aí antes.

Senti um calor estranho na ponta dos meus dedos enquanto tocava a página. Era suave e acolhedor, como uma brisa de verão. Virei a folha lentamente, revelando sua superfície dourada, tão lúcida que quase refletia meu rosto.

— Isso é ouro? - disse Roberta, inclinando-se para ver as páginas douradas. - Parece até que está... brilhando?

Como se o livro esperasse sua deixa, uma forte luz branca surgiu das páginas douradas em nossa direção. Eu e Roberta demos um salto para trás, mas a luz já nos atingira.

— O QUE QUE É ISSO?? - gritou Roberta, assim que o chão começou a tremer.

As estantes balançavam e derrubavam livros, tentei me segurar em uma mesa, mas esta parecia saltar por conta do repentino terremoto. Apertei os olhos e olhei em direção a fonte da luz, que, por algum motivo inexplicável, não estava mais em cima da mesa, mas sim trinta centímetros acima, flutuando enquanto a luz vinda dela o fazia tremer tanto quanto a biblioteca.

— TEMOS QUE SAIR DAQUI! - gritei, tentando falar mais alto que todo aquele turbilhão de luzes e livros – ROBERTA NÓS TEMOS...

Minha melhor amiga me encarava apavorada. Seus olhos castanhos exalavam puro medo, seus lábios tremiam como eu nunca tinha visto antes. Ela ergueu as mãos devagar, e entendi o motivo de seu pânico.

As pontas dos dedos de Roberta se desfaziam em pequenos pedaços, como se virassem cinzas, e flutuavam em direção ao livro. Por instinto, olhei minhas próprias mãos, que também se desfaziam devagar, como cinzas feitas de pele. Rapidamente, meus braços e pernas já se desfaziam e eram puxados em direção a luz. Tive um último vislumbre de Roberta antes das cinzas cobrirem meu rosto, e, com um grito abafado, fui puxada para dentro do redemoinho de luz.

 Tive um último vislumbre de Roberta antes das cinzas cobrirem meu rosto, e, com um grito abafado, fui puxada para dentro do redemoinho de luz

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Até mais <3*

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora