Comecei a andar de um lado pro outro na calçada, esperando Roberta vir abrir a porta para mim.
Eu consegui sair de casa sem que meus pais notassem, e corri até a casa de Roberta com o livro em mãos. O vento frio da noite me fez desejar ter um casaco, mas não tive tempo de pegar um antes de sair, e nem tempo de pensar sobre isso. Na verdade, não tive tempo de pensar em nada.
Eu precisava encontrar Roberta para tentar entender o que estava acontecendo. Era algo absurdamente estranho, e sem sentido algum. Mas lá estava, tão real quanto o meu nervosismo. Eu precisava saber a verdade.
A grande placa acima da porta dizia: Livraria Flor de Cerejeira. Eu nunca havia entendido esse nome, não havia nenhuma cerejeira perto da livraria, e Roberta havia me dito que nunca tinha visto uma. Era algo tão estranho quanto o conteúdo do livro que eu segurava em minhas mãos.
Escutei os passos apressados de Roberta enquanto descia a escada para a livraria. Logo, pude ouvir o som das chaves na maçaneta e a porta se abriu.
Roberta usava uma camisa do Hora de Aventura e um short jeans desbotado. Seu cabelo cacheado parecia mais armado que o normal e seus olhos cor de mel traziam uma expressão preocupada.
— É melhor você começar a explicar o que aconteceu de tão importante que não podia ser dito por mensagem. Eu estava no meio de um capítulo de Senhor do Anéis.
— É algo que eu não posso explicar, - ergui o livro em minhas mãos – mas posso mostrar.
— Anny, se você veio até aqui e me deixou preocupada só pra falar desse livro besta eu juro que...
— Roberta! - Ela me encarou. Respirei fundo, tentando acalmar o nervosismo que só crescia dentro de mim.- Deixa eu te mostrar, por favor.
Roberta me encarou por um segundo, provavelmente tentando adivinhar se eu estava completamente louca ou não. Enfim, ela acenou a cabeça e me deixou entrar.
Passei pelas mesas no centro da livraria e apoiei o livro no balcão. Roberta se pôs ao meu lado, tentando entender o que estava acontecendo.
— Lembra quando você disse que poderia haver algumas respostas nesse livro? - passei as páginas rapidamente até chegar na parte final do livro.
— Hã... acho que sim.- disse Roberta - Por quê?
— Porque, - virei a penúltima página e vi o retrato que procurava. Virei para o lado e mostrei-o a Roberta – tudo que eu achei foram mais perguntas.
Lá estava. Com um sorriso simples e olhos brilhantes, e a mesma aparência que já vira em fotos de vinte anos atrás.
Lina
Bruxa da Luz e aventureira corajosa
— Essa é... A MINHA MÃE??? - disse Roberta, boquiaberta com o retrato.
— Por favor me diz que você tem uma explicação pra isso!
Roberta segurou o livro e passou os dedos sobre a página. Seu rosto variava de tremenda indignação a total confusão em segundos.
— Meu Deus, é ela mesma! Mas, como..? O que... Por quê???
— Eu não sei!! Por isso eu vim aqui, pra saber se você tinha alguma resposta! - soltei um suspiro – Mas ao que parece nós duas não temos nada.
— O que é isso? Bruxa da Luz?? - Roberta arregalou os olhos, espantada – Como assim Bruxa da Luz??? Eu sempre brinquei dizendo que ela era uma bruxa mas nunca achei que ela pudesse ser uma bruxa de verdade!
— O.k. acho que devemos nos acalmar e pensar com clareza. - tirei o livro de suas mãos e coloquei-o na bancada de novo – Isso tudo é muito estranho e meio bizarro, mas com certeza tem uma explicação. Afinal a sua mãe nunca poderia ser uma bruxa de verdade. Eu acho.
— É. É! Tem razão. - disse ela, se pondo ao meu lado – Mas, por que a foto dela estaria aqui?
— Será que foi ela quem escreveu o livro? - sugeri.
— Não, minha mãe é do tipo que lê não do tipo que escreve. - Roberta observava a imagem de novo, agora com uma expressão mais preocupada do que assustada. - Ela diz que o mundo já tem histórias demais pra ela inventar mais uma.
— Então... Talvez o livro seja de alguém que ela conheça.
— Pode ser. - ela soltou um suspiro - Não tem mesmo nenhum nome do autor? Nenhuma editora, nada?
— Não, essa é a última página. - toquei a ponta da folha e levantei-a um pouco. De repente vi a ponta de outra folha abaixo dos meus dedos. - Que estranho, essa página não estava aí antes.Senti um calor estranho na ponta dos meus dedos enquanto tocava a página. Era suave e acolhedor, como uma brisa de verão. Virei a folha lentamente, revelando sua superfície dourada, tão lúcida que quase refletia meu rosto.
— Isso é ouro? - disse Roberta, inclinando-se para ver as páginas douradas. - Parece até que está... brilhando?
Como se o livro esperasse sua deixa, uma forte luz branca surgiu das páginas douradas em nossa direção. Eu e Roberta demos um salto para trás, mas a luz já nos atingira.
— O QUE QUE É ISSO?? - gritou Roberta, assim que o chão começou a tremer.
As estantes balançavam e derrubavam livros, tentei me segurar em uma mesa, mas esta parecia saltar por conta do repentino terremoto. Apertei os olhos e olhei em direção a fonte da luz, que, por algum motivo inexplicável, não estava mais em cima da mesa, mas sim trinta centímetros acima, flutuando enquanto a luz vinda dela o fazia tremer tanto quanto a biblioteca.
— TEMOS QUE SAIR DAQUI! - gritei, tentando falar mais alto que todo aquele turbilhão de luzes e livros – ROBERTA NÓS TEMOS...
Minha melhor amiga me encarava apavorada. Seus olhos castanhos exalavam puro medo, seus lábios tremiam como eu nunca tinha visto antes. Ela ergueu as mãos devagar, e entendi o motivo de seu pânico.
As pontas dos dedos de Roberta se desfaziam em pequenos pedaços, como se virassem cinzas, e flutuavam em direção ao livro. Por instinto, olhei minhas próprias mãos, que também se desfaziam devagar, como cinzas feitas de pele. Rapidamente, meus braços e pernas já se desfaziam e eram puxados em direção a luz. Tive um último vislumbre de Roberta antes das cinzas cobrirem meu rosto, e, com um grito abafado, fui puxada para dentro do redemoinho de luz.
*E então o que estão achando até agora? Comentem e votem se gostaram, quero um incentivo pra postar os outros capítulos kkkkk
Até mais <3*
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A Escolhida da Luz
PertualanganAnny é uma garota meio avoada que vive uma vida normal e sem muitas mudanças ou problemas, na verdade, as únicas coisas realmente peculiares em sua vida são seus olhos multicoloridos e o misterioso medalhão que sempre levava no pescoço. Ela achava...