As marolas da correnteza formavam linhas prateadas quando refletidas pela luz do luar, iluminando as águas e nos ajudando a enxergar o rio ao nosso redor. As árvores passavam vagarosamente pela margem, indicando que não estávamos sendo levados tão rápido como achávamos que seríamos.
— Eu nunca mais quero ver um inseto na minha vida. — disse Roberta, com os olhos arregalados e postura travada, enquanto encarava um ponto aleatório na água. Ela continuou a falar, parecendo um tanto traumatizada — Não quero ver nem mosquitos, nem mariposas, e muito menos borboletas!
— Estamos numa floresta então talvez isso seja um pouco difícil...
— Eles me cercaram, me usaram de comida! — continuou a resmungar, me ignorando, sem tirar os olhos púrpura da água escura — Eu preciso ter um inseticida na bolsa...
Soltei um suspiro e me virei para Rodrick, que estava à minha direita.
— Onde esse rio vai dar?
Nós três estávamos sentados no centro do barco improvisado, apoiados nas costas um dos outros enquanto cada um vigiava uma direção diferente. O garoto tinha tirado um mapa da mochila e o analisava com a ajuda de uma lanterna, que achou perdida na bolsa.
— Ele segue cortando uma parte do reino até desaguar no mar, mas forma uma curva perto da base das montanhas. — disse, indicando o caminho desenhado no mapa com o dedo — Temos que sair do bote assim que chegarmos perto da curva, senão o rio pode nos levar pra longe demais.
— E você já pensou em como vamos fazer pra sair daqui? Não deu tempo de fazer um remo enquanto a gente corria.
— Tem madeira de sobra no bote, vamos dar um jeito. — disse ele, guardando o pergaminho, mas ficando com a lanterna — Só espero que a gente não precise nadar.
— Por quê?
Ele respirou fundo, olhando pra baixo:
— Porque, além de eu não saber nadar, tenho certeza que acabei de ver um bicho passar por nós debaixo d' água.
Senti um frio na espinha e me encolhi, apoiando-me ainda mais nas costas dos dois. Roberta, que parecia ter saído de seu pequeno surto com a fala de Rodrick, teve um sobressalto e se agarrou no bote, encarando assustada a água à nossa volta.
— Por favor me diz que você tá brincando!
O garoto encolheu um pouco os ombros, examinando o rio com a luz da lanterna.
— Pode ter sido só um reflexo na água... Ou um peixe muito grande.
— Ou um monstro aquático esperando pra dar o bote. — Completei, amaldiçoando a mim mesma por ter a imaginação tão fértil.
— Caramba, será que a gente não pode ter um minuto de paz nessa floresta?? — disse Roberta, exaltada, espremendo-se ainda mais contra nós.
— Se existe mesmo uma ameaça aqui ela deve estar nos ignorando, senão já teria atacado. — falou o garoto, numa tentativa falha de tranquilizar o grupo. Ele ergueu a lanterna em sua mão e começou a iluminar a margem, clareando o verde da mata — Mas também precisamos ficar de olho nas árvores, estamos muito expostos e podemos acabar chamando a atenção de alguma coisa.
— Quer baixar esse negócio? — reclamou minha amiga, indicando para a fonte de luz que Rodrick segurava — Aqueles cupins famintos podem ver e seguir a gente de novo!
— Eu já disse, eles não chegam perto de rios. — respondeu.
E teorizei:
— Talvez não cheguem perto porque sabem que aqui tem um bicho gigante capaz de devorar todos eles...
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A Escolhida da Luz
AdventureAnny é uma garota meio avoada que vive uma vida normal e sem muitas mudanças ou problemas, na verdade, as únicas coisas realmente peculiares em sua vida são seus olhos multicoloridos e o misterioso medalhão que sempre levava no pescoço. Ela achava...