Capítulo Dois

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— Mas isso não faz o menor sentido!

Roberta caminhava ao meu lado enquanto eu tentava me equilibrar no meio-fio da calçada. Estávamos indo para a livraria da mãe de Roberta, já que percebemos que ir para aula agora seria perda de tempo.

De alguma maneira nossa conversa sobre pinguins se transformou numa discussão sobre nomes, e porquê o meu nome era Anny.

— Quer dizer, – continuou Roberta – por que botar esse nome num filho? Seus pais nem são norte-americanos!

 — Minha mãe disse que foi coisa de momento. - me desequilibrei e apoiei-me em Roberta – Assim que ela olhou bem pra minha cara feia de bebê ela disse: Vai se chamar Anny!

— Mas por que Anny? - disse ela – Por que não Anna, ou até mesmo Anne, com e?

— Ela não sabe explicar o por quê. Ela só soube, eu acho.

Roberta riu:

— Capaz de ela ter feito alguma homenagem a alguma artista velha do tempo dela. Adultos sempre insistem em fazer isso.

— É, olha só quem fala, "Roberta do RBD". - retruquei

— Sou mesmo! E, de acordo com a minha mãe, se eu fosse menino meu nome seria Diego.

Eu ri e desci do meio-fio. Roberta franziu a testa:

— O que é aquilo?

Havia um caminhão na frente da livraria e várias caixas de papelão na calçada. Assim que nos aproximamos ouvimos gritos:

— EU DISSE TRÊS CAIXAS POR VEZ! TRÊS CAIXAS! O QUE VOCÊ NÃO ENTENDEU QUANDO EU DISSE TRÊS CAIXAS?!

Roberta se aproximou cautelosamente.

— Ahn... mãe?

A mãe de Roberta se virou e sorriu, se livrando de seu semblante raivoso.

— Roberta! Anny! Que bom ver vocês!

A tia Lina era igual a Roberta. O mesmo cabelo castanho cacheado, a mesma pele morena, e os mesmos olhos cor de mel. As únicas diferenças, além da idade, eram os óculos quadrados e a raiva incontrolável que surgia sempre que alguém fazia alguma besteira.

— Então, - Tia Lina ajeitou os óculos e se aproximou, deixando um entregador traumatizado pra trás – o que vocês duas fazem aqui? Não deveriam estar na escola?

Roberta se adiantou:

— É que professora estava doente, nos liberaram mais cedo e....

— Ok, pode parar. - prendemos a respiração. Tia Lina sempre sabia quando estávamos mentindo. - Se vocês não querem ir na aula vão ficar aqui e me ajudar a botar essas caixas pra dentro. Todos os livros que faltavam no estoque resolveram chegar ao mesmo tempo, e, ao que parece, o entregador aqui não está dando conta.

O Entregador se encolheu, tentando se esconder atrás de algumas caixas:

— Mas senhora, eu já disse, não tem como levar três caixas de uma vez. Elas vão cair...

— Você quer ficar aqui o dia inteiro por acaso? - disse ela – Eu te pago pra quê?

O Entregador gaguejou:

— M - Mas a senhora não me paga...

— E NEM VOU PAGAR SE NÃO COMEÇAR A FAZER O SEU TRABALHO DIREITO! - O Entregador guinchou como um rato, e se apressou em colocar uma pilha de caixas mal equilibradas dentro da livraria. Tia Lina se recompôs e virou-se para nós – E vocês duas já podem ir pegando uma caixa e levando pros fundos. Vamos, não tenho o dia todo!

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora