A Escolhida da Luz

Capítulo Trinta e Cinco

Convencer dois répteis voadores a carregar um grupo de pessoas através de uma barreira mágica é mais difícil do que parece. Pyros e Daros se sentiram extremamente ofendidos com o pedido, até porque, em suas palavras, eles eram "importantes demais para serem tratados como dois cavalos de carga".

Só foi possível convencê-los quando prometemos alguns baús de ouro como pagamento de seus serviços (que não fazíamos ideia de como iríamos pagar, mas eles não precisavam saber disso). Ainda assim, os serpes se recusaram a levar mais de uma pessoa por vez, o que era péssimo, porque só haviam dois deles e três de nós.

Então, após uma longa discussão, e após ignorar tudo o que poderia dar errado por conta daquela ideia idiota, tivemos que apelar para o maior deles.

― Há! Vocês acham mesmo que vão me convencer a aceitar um acordo de tão baixo nível? ― disse Fafnir, assim que revelamos nosso plano. O dragão continuava com a maior parte do corpo enterrado debaixo do ouro, mas ele já conseguia movimentar melhor sua cabeça e pescoço, o que o deixava com a aparência de uma tartaruga gigante com casco dourado.

Ele nos encarou com desprezo, e continuou a falar sobre como a ideia era absurda e que nunca compactuaria com uma humilhação como aquela.

― Caramba deixa de ser chato e aceita de uma vez!! ― pigarreou Roberta, sem paciência com o réptil ― Se você aceitar a gente te tira dessa pilha de ouro e ainda te dá mais ouro quando chegarmos lá! Não é isso o que você quer? Um monte de ouro??

― Não é sobre o ouro, é sobre princípios! Eu não vou me submeter a essa barbaridade! Imagina, eu, um dragão que já viveu séculos sendo rebaixado a um mero meio de transporte para crianças!

― Mas Pyros e Daros aceitaram o acordo...

― Não me compare àqueles traidores! ― bufou, irritado ― Pestinhas vendidos, nunca devia tê-los oferecido abrigo. Esses serpes são todos iguais...

― Tá, já chega. Só fica quieto e escuta. ― Rodrick se aproximou da fera, impaciente. Ele se apoiou com o joelho no chão e o encarou nos olhos, parecendo bem sério em suas palavras. ― Se não se lembra, você entrou no Lado da Luz sem permissão, atacou sua capital e roubou o artefato mais importante daquele lado, senão de Arret inteira, além de ter tentado matar a principal peça para o cumprimento de uma profecia que definirá o destino do Lado da Luz e do Lado das Trevas. Em outras palavras, se você não aceitar o acordo nós vamos fazer questão de que todos saibam de seus crimes e você passará os próximos dias recebendo visitas não muito amigáveis de soldados da Luz em busca de justiça. ― Fafnir o encarou com uma expressão debochada e abriu a boca para dar uma resposta, mas foi impedido por Rodrick, que continuou ― E, antes que você diga mais alguma coisa, saiba que não vai ser fácil se defender deles estando preso embaixo de toneladas e toneladas de tesouros, já que, obviamente, não vamos te ajudar a sair daí se não aceitar nos levar, e nem seus amiguinhos serpes vão se incomodar de voltar depois de passar um tempo sendo tratados como heróis pelos da Luz. ― o garoto expôs um sorriso cínico, e continuou a encarar o dragão a sua frente, que não estava mais achando graça ― E aí, como vai ser?

Fafnir ponderou por alguns segundos, provavelmente tentando pensar num jeito de se livrar daquilo. Mas, finalmente, ele soltou um suspiro derrotado e revirou seus olhos de cobra:

― Tudo bem, eu ajudo vocês. ― disse ― Mas só se eu levar ela. ― e acenou para mim com a cabeça.

― Eu?? Mas por que eu? ― O encarei, incrédula ― Ainda agora você tava tentando me matar!

― Porque você é claramente a criatura de mais importância nesse trio, e eu me recuso a carregar um servo qualquer em minhas belas costas! ― respondeu, num tom de superioridade que nunca desaparecia ― É você ou nada feito.