Capítulo Um

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Meu nome é Anny, e acho que posso dizer que minha vida começou quando entrei em um livro.

Não metaforicamente, ou de maneira filosófica.

Literalmente.

Fui puxada para um lugar mágico e mítico, explorado por poucos mortais como eu ao longo dos séculos.

Foi ali que começou meu destino. Minha história.

Foi em Arret.

Eu tinha apenas treze anos.

***

A tempestade se aproximava rapidamente. Os gritos de centenas de soldados prontos para batalha enchiam o ar, mais alto que o barulho da chuva. Tudo era escuro e molhado, mas eu só via aquela luz, aquele brilho no olhar da mulher que me carregava.

Ela sorriu.

Senti algo pesado em meu peito, mas não senti dor.

Ela sorriu, e disse...

— Anda logo Anny, você vai se atrasar!

A luz invadiu meu quarto assim que minha mãe abriu as cortinas, forçando-me a abrir os olhos. Era uma triste segunda feira de manhã, e, por algum motivo, ela queria que eu ficasse animada.

 — Vamos, levanta! É um novo dia e você precisa se arrumar pra escola.

Minha mãe se virou pra mim e ajeitou os cabelos castanhos por detrás das orelhas. Alguns cabelos brancos já se tornavam visíveis e pequenas rugas enfeitavam o canto de seus olhos enquanto sorria, a luz do sol vinda da janela a contornava, completando a imagem da mãe alegre e animada que eu via todos os dias. Dona Alice era o tipo de dona de casa cheia de disposição que só se encontra em comercial de produto de limpeza.

Ela olhou pra mim e franziu a testa, preocupada.

 — Ei, está tudo bem?

 — Sim... - murmurei. Lá estava ela de novo, aquela sensação de vazio, de perda. Perdi a conta de quantas vezes acordei me sentindo assim, tudo por causa de um sonho que não lembrava direito. Só conseguia guardar flashes: uma tempestade, uma guerra, uma mulher. Uma luz. - Foi aquele sonho besta de novo. Acho que sou a única pessoa do mundo que fica triste por causa de um sonho que não se lembra.

 — Sonhos são assim mesmo querida, - ela se sentou ao meu lado e acariciou meus cabelos, fazendo com que todos os problemas do mundo desaparecessem. – nos fazem sentir coisas incríveis mas nunca lembramos direito deles, mas isso não quer dizer que os sentimentos não foram reais. Talvez você esteja sentindo falta de alguma coisa que não sabe o que é ainda, por isso não consegue lembrar.

—  Vai dar uma de psicóloga agora é? - ri e ela me deu um beliscão.

 — Estou tentando ajudar, mas já que você não quer ajuda é melhor levantar logo e ir se arrumar. - tentei me cobrir com o lençol de novo mas minha mãe o puxou para fora da cama – E nada de enrolação, seu pai vai te levar hoje então anda logo.

Resmunguei:

—  Será que ir à escola é realmente necessário? Isso nem vai fazer diferença pro meu futuro...

—  Anny, vai se arrumar, agora.

 — Eu nem quero ser bem sucedida financeiramente mesmo, se eu vender miçanga na praia eu posso me sustentar e...

Seus olhos fulminantes me encararam do batente da porta:

 — A-G-O-R-A!

 — Tá bom! Já vou...

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora