Capítulo Quinze

124 22 84
                                    


Me apressei para chegar ao lado de fora da Academia, não me importando quando esbarrei em um aluno aleatório, e ignorando seus xingamentos em resposta. Caminhei a passos largos quando finalmente passei pela porta de madeira e pisei na grama verde do quintal, conseguindo emfim respirar fundo novamente.

Eu nunca fui boa em lidar com conflitos ou situações estressantes. Eu geralmente ficava em silêncio ou fugia, e sempre tive Roberta para me consolar ou defender se fosse preciso. Só que, dessa vez, não tinha pra onde fugir. O problema era eu, não um valentão de escola ou uma bronca desnecessária. O problema era que eu não cumpria com as expectativas das pessoas ao meu redor, e isso machucava mais do que achei que machucaria. E o pior de tudo nem foi isso! Não, o pior foi acreditar por um instante que eu conseguiria ser mais do que eu era, e depois quebrar a cara, já que nem pra ser aquilo que eu estava destinada a ser eu servia. Era algo que nem Roberta, nem ninguém, poderia me ajudar, porque não havia nada para ser ajudado. Era eu quem não tinha magia, era eu quem não poderia controlar a pedra em meu pescoço nem se quisesse. Não dava pra escapar disso, não dava pra só receber um tapinha nas costas e ouvir que tudo ficaria bem, porque era impossível que as coisas ficassem realmente bem.

E, por mais que eu corresse, era impossível fugir de mim mesma.

Exalei o ar que prendia em meus pulmões e encarei o céu da manhã. Era um dia bonito, com algumas nuvens atravessando o céu azul e pássaros cantando em árvores próximas. Me concentrei nisso para conseguir acalmar meu coração, e enterrar aqueles sentimentos no fundo do peito.

Eu não ia surtar, nem fazer uma cena maior do que a que havia feito saindo da Academia daquele jeito.

Eu sou mais forte que isso., pensei, Eu consigo me controlar, eu consigo...

— Anny?

Me virei, me deparando com um par de olhos azuis-celestes banhados de preocupação.

— Está tudo bem? Eu sinto muito querida, me sinto tão culpada, não devia ter feito vocês virem para cá sem ter certeza se eram bruxas ou não. — Rainha Stella se aproximou, tocando meus braços e se inclinando para ficarmos da mesma altura — Me perdoe pela situação em que eu te coloquei, você tem todo o direito de ficar brava ou triste...

— T-tá tudo bem, juro! — falei, tentando tranquilizá-la — Eu só... estou um pouco decepcionada, eu acho.

— Eu entendo. — disse a rainha. Ela parecia mais tranquila, mas a pequena ruga de preocupação que jazia entre suas sobrancelhas continuava lá — Se você quiser podemos voltar para o Dormitório, você pode descansar um pouco e quando estiver pronta decidimos o que fazer, o que acha?

Ponderei a oferta por um segundo. Voltar para meu quarto seria muito bom agora, até por que, lá poderia surtar ou entrar em uma crise existencial sem ser incomodada. Mas, se eu for, estaria só fugindo do problema mais uma vez, provando para todos e para mim mesma o quanto sou fraca e incapaz de ser quem esperam que eu seja.

Respirei fundo e balancei a cabeça, encarando a mulher a minha frente.

— Não, eu prefiro não voltar agora. — falei — Será que não tem algum outro lugar onde possamos ir? Sei lá, alguma outra escola ou academia onde eu possa estudar igual a todo mundo?

O rosto da rainha se iluminou e os pés de galinha ao redor de seus olhos ficaram a mostra, assim que abriu um de seus sorrisos brilhantes.

— Eu conheço o lugar perfeito! — disse, já começando a andar para o lado de fora dos portões de Perseia — Vamos, eles já devem estar se aquecendo.

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora